Transações milionárias fizeram a Polícia Civil chegar até os principais traficantes de uma organização criminosa capixaba que é uma das maiores referências nacionais de fornecimento de haxixe, droga vendida para a "elite". As investigações mostraram que empresários alugavam casas e veículos para preparo e distribuição do entorpecente. Carros de luxo também foram negociados em esquemas de lavagem de dinheiro.
A Gazeta preparou um dossiê para explicar como as investigações chegaram aos traficantes, alvos da operação que aconteceu nesta quinta-feira (6) em bairros nobres de Vitória, que acabou com a captura de nove deles: oito em cumprimento de mandado de prisão e um em flagrante.
O nome de nenhum dos investigados foi divulgado pela Polícia Civil, mas a reportagem conseguiu confirmar, junto à Secretaria Estadual da Justiça (Sejus), que Luiz Cláudio Ferreira Sardenberg, acusado de matar a ex-namorada Gabriela Regattieri Chermont, em 1996, estava entre os presos. O filho dele, Matheus Salomão Sardenberg, e a namorada do filho, Bárbara Braga, também foram capturados.
As investigações começaram em setembro de 2021, após a prisão de um jovem que entregava maconha e haxixe a domicílio em Guarapari. À época, ele estava com armas e drogas na companhia do filho de um ano.
O traficante delatou quem eram os fornecedores, que também acabaram presos. A partir daí, os "figurões" da organização criminosa começaram a ordenar uma série de torturas a traficantes da "rede" que, por algum motivo, deixavam de pagar pela mercadoria.
Um desses traficantes, que já vinha sendo ameaçado por causa de dívidas, topou um acordo de delação premiada, o que foi o pontapé inicial para que o esquema começasse a ser desvendado.
"Nós focamos as investigações nas pessoas que exercem os papéis mais relevantes dentro da organização, que praticam atos de violência, que movimentam maiores montantes e que, de certa forma, são protagonistas nesse cenário de distribuição interestadual de haxixe", disse o delegado Guilherme Eugênio, da Delegacia Especializada de Narcóticos (Denarc) de Guarapari.
Ele salientou que o haxixe é uma das drogas mais caras comercializadas no Brasil, então o público-alvo costuma ser de camadas mais elitizadas da sociedade.
Pelo menos cinco pessoas da organização criminosa movimentaram R$ 1 milhão cada, em um curto período.
"Considerando que essas pessoas movimentaram R$ 1 milhão cada, temos uma base para acreditar que a movimentação efetiva delas seja muito maior. Percebemos que um dos alvos, em apenas um ano, depositou em dinheiro, em apenas uma conta, R$ 400 mil. E esse dinheiro transita por várias contas, inclusive de laranjas, para chegar a seus efetivos titulares", ressaltou o delegado.
Entre os alvos da operação estão empresários, sócios de empresa do setor portuário e donos de firmas atacadistas.
"Diferente do perfil daquele traficante que atua em morros e se dedica à venda de crack, cocaína e maconha, os alvos dessa operação são, em geral, pessoas que circulam livremente pela sociedade, tidas como pessoas de bem e que viajam muito também. Todos eles frequentam diversos estados da federação e inclusive fazem viagens internacionais", destacou Eugênio.
Segundo o delegado, o haxixe costuma ser produzido no Marrocos, país do Norte da África, passa pela Espanha, Portugal e depois chega ao Brasil. O que chamou a atenção é por qual motivo o Espírito Santo era um dos escolhidos para receber a droga aqui no País.
Cada um dos sócios da organização era responsável por distribuir a droga para um estado do País. "De acordo com o depoimento prestado em delação premiada, um dos traficantes, o único que foi efetivamente delatado, que era conhecido pelo delator, abastecia especificamente o mercado de Minas Gerais e Rio de Janeiro. Os demais sócios dele abasteciam outros estados da federação", pontuou Eugênio.
Os traficantes eram cuidadosos: para preparar a droga, eles utilizavam casas alugadas através de aplicativos. Na distribuição do produto, eles também usavam veículos locados.
"Aquele que concretamente ordenou o transporte de cargas aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro empregou veículos alugados e muitas vezes até mesmo viagens de ônibus feitas com o emprego de aplicativos", detalhou o delegado.
As investigações mostraram que os suspeitos chegaram a vender carros de luxo para lavarem o dinheiro. Um Audi foi vendido no Paraguai, enquanto uma BMW foi comercializada pela organização em Belo Horizonte.
A Polícia Civil do Estado está compartilhando informações com a Polícia Federal e com polícias de outros estados, e as investigações continuam. Na operação da última quinta (6), houve ainda apreensão de drogas, máquinas de cartão e o bloqueio das contas dos investigados.
A defesa de Bárbara Braga entrou em contato com a reportagem de A Gazeta para se posicionar sobre o caso.
"Bárbara não tem e nunca teve papel de protagonismo na organização, pelo contrário, tinha seu nome usado e nunca usufruiu de nenhum centavo sequer do valor que era movimentado. Desde o primeiro momento, quando soube que a Polícia Civil estava em sua casa, se dirigiu espontaneamente até eles. Posteriormente, sua defesa procurou as autoridades para esclarecer todos os fatos, apresentar documentos e contraprovas para demonstrar que Bárbara nunca foi integrante ativa de nenhuma organização voltada à prática delitiva", declarou o advogado Rodrigo Bandeira de Mello.
O advogado que faz a defesa de Bárbara Braga, uma das presas na operação, entrou em contato com a reportagem para um posicionamento. O texto foi atualizado.
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