Nesta quarta-feira (12) completou um ano da morte de Ana Luisa Ferreira Marcelino, de 10 anos. A menina morreu após ter sido atendida por um falso médico no Hospital Estadual Roberto Arnizaut Silvares, que fica em São Mateus. Uma manifestação reuniu amigos e familiares, que cobram justiça. Balões e faixas foram pregados ao longo da orla de Guriri, local em que a menina gostava de frequentar, e região escolhida para a manifestação acontecer. As informações foram apuradas pela repórter Erika Cavalho, para a TV Gazeta.
A ação começou por volta das 9h da manhã, quando foram realizados um culto e orações. A mãe da criança, Alessandra Marcelino, disse que essa foi a forma encontrada para mostrar para as autoridades que a família, que também é de São Mateus, não vai parar de cobrar uma resposta sobre o que aconteceu com a criança. Segundo a mãe, até hoje não houve nenhuma resposta por parte do hospital e da Justiça.
No dia 11 de janeiro do ano passado, Ana Luisa começou a ter episódios de vômito e a ficar pálida. A mãe, preocupada, levou a filha para o hospital. Lá, segundo Alessandra, elas foram atendidas por Leonardo Luz Moreira. Um medicamento foi prescrito e aplicado na veia da criança. Logo em seguida, a menina começou a passar muito mal, teve complicações e veio a óbito. Na época, o corpo foi levado para o Serviço de Verificação de Óbitos, que fica em Vitória. Na certidão de óbito consta que a morte se deu por gastroenterite viral.
Em agosto de 2021, Leonardo Luz Moreira, médico que atendeu a menina, foi preso pela Polícia Federal durante uma operação voltada ao combate de prática ilegal da Medicina. Ele foi apontado como falso médico.
As investigações apontam que Leonardo Luz Moreira, preso em São Mateus, se matriculou em uma faculdade de Medicina na Bolívia, onde estudou por um semestre. Posteriormente, solicitou transferência para uma faculdade brasileira e adulterou os registros para que fossem computados, ao invés de seis meses, quatro anos de estudo. Ainda de acordo com as investigações, o falso médico foi contratado por diversas prefeituras da região Norte capixaba e também pelo governo do Estado.
Assim que soube da prisão do falso médico, Alessandra diz ter sentido muita revolta. “Na época, quando o falso médico disse que minha filha havia parado, eu sabia que tinha algo errado. Mas, nunca imaginei que seria isso, imaginei que era erro médico”, afirmou ela.
Alessandra contou também que, logo após a prisão do falso médico, no dia 28 de setembro do ano passado, foi feita uma manifestação em frente ao Hospital Roberto Silvares cobrando uma resposta. Depois disso, foram realizadas duas reuniões com a direção.
“Eu fiz uma solicitação de sindicância ao hospital para apurar as causas da morte da minha filha. No momento me foi garantido, por parte da direção, que haveria uma investigação interna. Mas até agora não recebi nenhuma resposta”, explicou a mãe.
A mãe continua aguardando uma resposta. “Só vou conseguir ter um pouco de sossego quando eu tiver resposta. Preciso que todas as irregularidades sejam apuradas. Quando minha filha parou, ela foi para uma sala, lá não havia medicamento, não tinha equipamento. Tudo eles tinham que ir em outro local para buscar. Eu queria saber por quê em uma UTI não havia equipamento”, questionou.
Os amigos e a família de Ana Luisa cobram justiça e alegam que na época o médico foi preso por prática ilegal da medicina. O que a família espera é que ele também responda pela morte da criança.
De acordo com Jaciara Teixeira, amiga da família, todos estão inconsolados. “É difícil saber que dentro de um hospital do tamanho do Roberto Silvares estava atuando um falso médico, e isso levou a vida de uma criança. É fundamental que as investigações sejam feitas e informações passadas à família. É uma mãe que levou a filha saudável, apenas com vômito, para o hospital e depois de 40 minutos estava com a filha morta”, desabafou.
Sobre o assunto, a direção do Hospital Estadual Roberto Arnizaut Silvares informa que foi aberto um procedimento administrativo de sindicância para apurar os fatos. Esclareceu, em nota, que todas as informações levantadas sobre o caso foram passadas para as polícias Civil e Federal, se colocando à disposição para esclarecimentos necessários.
Um boletim de ocorrência foi registrado contra o médico e uma denúncia encaminhada pelo Ministério Público. Por meio de nota, a Secretaria Estadual de Justiça (Sejus) informou que Leonardo Luz Moreira foi liberado, mediante decisão judicial, no dia 17 de dezembro de 2021.
Já a Polícia Civil, segundo apuração da TV Gazeta, informou que o Inquérito Policial que investiga o caso está em andamento na Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de São Mateus. Além disso, informou que a investigação tem caráter sigiloso e, por este motivo, detalhes da investigação não seriam divulgados, por enquanto.
Também demandado, o Conselho Regional de Medicina do Espírito Santo (CRM-ES) disse, em nota, que suspendeu o registro de Leonardo Luz Moreira, acusado e preso pela Polícia Federal por exercício ilegal da Medicina, até que seja julgado pela Justiça. E afirmou ainda que o Conselho de Medicina não pode abrir sindicância ou processos éticos contra profissionais que não são médicos.
O Ministério Público foi acionado para falar sobre os detalhamentos do andamento da denúncia, mas não respondeu até a publicação desta matéria. Assim que houver retorno, esse texto será atualizado.
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