A festa de formatura marca o encerramento perfeito de anos de dedicação à graduação, mas por pouco o sonho de 61 formandos de duas turmas de Engenharia Civil, da Ufes e da Multivix, e outra de Odontologia, da Faesa, não foi concretizado por não cumprimento de contratos por parte da empresa contratada para organizar a cerimônia conjunta. Agora o imbróglio virou caso de polícia e vai parar na Justiça.
O baile de gala aconteceu no dia 5 de outubro (sábado), mas até pouco dias antes da data marcada, os integrantes das três comissões de formatura, formandos, familiares e amigos viviam momentos de tensão sem a certeza se conseguiriam ou não realizarem a festa. Ao todo foram 32 formandos da Ufes, 19 da Faesa e 10 da Multivix.
Segundo os estudantes, o contrato com a empresa de formaturas foi firmado em 2016 e eles pagavam mensalmente uma quantia entre R$ 100,00 e R$ 200,00 por meio de boletos bancários. Os valores eram diferenciados, pois cada aluno poderia optar por um pacote simples ou completo. No total, o valor investido poderia chegar aos R$ 7,2 mil no pacote completo, e cerca de R$ 1,8 mil no básico. Essas quantias são relativas apenas à turma de Engenharia Civil da Ufes.
Ainda de acordo com os universitários, apesar de alguns pequenos contratempos, até meados de abril não havia desconfiança em relação à realização da festa. O cenário, porém, se alterou quando a comissão de formatura da turma de Civil da Ufes descobriu uma dívida por parte da empresa junto ao cerimonial, na Serra, onde seria realizado o baile de gala. A partir desse momento, o alerta foi acionado em relação à Forma-X, como detalhado pelo formando Rafael Matos Costa, de 25 anos.
"Os problemas começaram a surgir e percebemos que não poderia ter festa. Descobrimos que essa empresa tinha uma dívida alta de uma festa realizada em fevereiro com cerimonial onde originalmente seria nossa festa. Depois soubemos que o cerimonial havia notificado extrajudicialmente a Forma-X por não ter pago o que estava acordado para nossa festa. Quando tomamos ciência disso, entramos (a comissão) em contato com outros fornecedores, que relataram a mesma situação de não recebimento. Por contrato, o aluguel do cerimonial para nossa festa seria de R$ 50 mil, mas apenas R$ 10 mil havia sido repassado. Isso nos foi dito pelo dono do espaço", ressaltou o universitário.
Diante dessa situação, os estudantes, nessa altura já com orientação jurídica, cessaram o pagamento dos boletos e passaram a recolher os valores que seriam destinados às mensalidades em uma conta própria. Essa foi a alternativa encontrada para seguir juntando valores e manter os planos da festa. Iniciava também uma intensa rotina de tratativas com a Forma-X em busca de explicações e posterior devolução do dinheiro já arrecadado, segundo os formandos.
"Antes de procurarmos a empresa, pesquisamos com todos os fornecedores sobre os pagamentos. No início de maio, marcamos uma primeira reunião com ele (proprietário da Forma-X), mostramos as dívidas relativas aos fornecedores e pedimos explicações, até mesmo para entender o que estava acontecendo. Além disso exigimos que o dinheiro que já havia sido acumulado (via boletos) nos fosse devolvido. De início, ele nos deu uma desculpa aparentemente convincente e nos orientou a fazer uma conta para transferirmos esse dinheiro porque alegava que tinha problemas com cartório. Ele apontou esse caminho, dizia estar em separação judicial da esposa e isso poderia prejudicar de alguma forma as turmas que contratavam a Forma-X. Exigimos nosso dinheiro, mas eles nunca tiveram controle financeiro sobre o que receberam. Fizemos detalhadamente todas as contas dos valores que tínhamos que receber deles. Ele alegava já ter pago algumas coisas, como bebidas, locação de palco, mas nunca apresentou uma nota sequer. Depois de muita discussão, ele topou pagar um valor em três parcelas. A primeira ele quitou, com muito custo, porém depois nada. Pelos nossos cálculos, só a nossa turma deveria ter recebido mais de R$ 100 mil".
Após meses tentando uma solução e buscando reaver os valores, que no somatório total das três turmas se aproximava dos R$ 400 mil reais, os advogados dos formandos formalizaram um acordo (aditivo de contrato) junto à Forma-X, que teria de devolver os R$ 100 mil reais pagos pela turma de Civil, como explicado por um dos advogados que representa a turma, Gabriel Sardenberg.
Após intermediações por meio de advogados, no dia 01 de outubro, quatro dias antes da festa, os estudantes obtiveram uma cessão de crédito por parte do representante da Forma-X, Luís Carlos, no valor de R$ 30 mil reais. Parte desse valor seria destinado à realização da colação de grau da turma da Ufes, visto que os estudante das faculdades particulares tiveram a cerimônia realizada pelas instituições de ensino.
Com esse valor em mãos, os formandos assinaram um distrato com a Forma-X relativo apenas ao montante, como detalhado pelo advogado. "O referido distrato de fato foi assinado, mas ele não deu quitação à Forma-X Formaturas. Esse abrangeu apenas a cessão de um crédito de R$ 30 mil que a Forma-X Formaturas possuía graças ao dinheiro das turmas. Esse contrato apenas serviu para garantir que os alunos e a terceira empresa que os auxiliou pudessem valer-se desse crédito para viabilizar o baile de gala, que aconteceria quatro dias depois. A quitação dada por meio desse documento refere-se, portanto, apenas a R$ 30 mil. O débito de mais de R$ 100 mil com a turma de Engenharia Civil da UFES 2019/01 permanece", esclareceu Sardenberg.
Paralelamente às tratativas, as comissões de formatura procuraram uma outra empresa para que a festa fosse realizada. Valendo-se dos valores que conseguiram arrecadar desde que deixaram de pagar os boletos, somados com o que conseguiram com a venda de convites extras e a carta de crédito, os formandos reservaram outro cerimonial, este em Vitória, onde a festa ocorreu. Ainda que às pressas, o baile de gala foi realizado no dia 5 de outubro e transcorreu normalmente.
Na última segunda-feira (14), representantes de todas as três comissões de formatura e também os advogados que os representam foram até a Delegacia de Defraudações, em Vitória, e realizaram uma notícia-crime (denúncia) sobre uma tentativa de estelionato. Munidos com os contratos assinados junto à Forma-X, a ação foi a alternativa encontrada para tentar reaver os valores pagos à empresa de formatura e que até o momento não foram prestados conta.
"Fomos na segunda-feira fazer a notícia-crime, e nesta quarta-feira (16), retornamos à Defa para as oitivas dos declarantes de cada uma das turmas. A delegada colheu os depoimentos para que fosse aberto o inquérito. Ainda há muito a ser ressarcido. Até o momento, apenas R$ 30 mil, via cessão de crédito, foram recuperados. Isso é cerca de 10% do que foi arrecadado ao todo. Não sabemos o paradeiro do senhor que representa a Forma-X. Há uma quantia significante que foi paga e que até agora não se sabe onde está. Entraremos com uma ação de indenização por danos materiais em nome da comissão", explicou o advogado.
Pelo quarto dia seguido, a reportagem de A Gazeta tenta contato com os representantes da Forma-X para darem a própria versão dos fatos, porém as ligações feitas aos números disponíveis na página da empresa na internet não foram atendidas e as tentativas por meio de mensagens não foram respondidas. Caso a empresa queira se manifestar, a resposta será acrescida à matéria.
A única manifestação da Forma-X em relação a este caso ocorreu através da conta no Instagram da empresa. Em uma postagem fechada para comentários e assinada por Luís Carlos Júnior, a Forma-X se defende das acusações de golpe e diz ser vítima de boatos. A empresa ainda ressalta prosseguir atuando no mercado, ter cumprido com o que havia sido acordado em contrato e alega que a ruptura do mesmo se deu por vontade dos contratantes. A Forma-X disse ainda que as medidas judiciais cabíveis estão sendo tomadas quanto à formação e divulgação de informações, segundo Luís Júnior, inverídicas.
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