A vendedora de uma loja de roupas do Centro de Linhares teve o aplicativo de mensagens Whatsapp clonado nesta quarta-feira (17). Jamile Rigato Cao, de 29 anos, foi vítima de um golpe conhecido, e acabou perdendo o controle do aplicativo para um criminoso, que agora envia mensagens para todas as clientes da mulher se passando por ela, pedindo por uma suposta ajuda em dinheiro.
Em entrevista à reportagem de A Gazeta, Jamile contou o susto que levou quando percebeu que o aplicativo havia sido clonado. "Eu fui sonsa. Ele me mandou uma mensagem no Instagram dizendo que eu havia ganhado um sorteio em um restaurante. Pediu meu número, mandei meu nome completo e telefone. Ele disse que mandaria um código de quatro números. Eu confirmei o código e meu celular desligou", detalhou.
Ao conseguir reiniciar o aparelho, Jamile afirma que apareceu a mensagem de que o número da vendedora havia sido cadastrado em outro celular. "Minhas clientes estão doidas, mais de 40 pessoas já me ligaram falando do golpe. Só no grupo de trabalho eu tenho 270 clientes. Ele está mandando mensagem para todas elas", contou a vendedora.
Para que ninguém caísse na lábia do bandido, Jamile não perdeu tempo e foi para as redes sociais, comunicar para todos os amigos sobre o golpe. "Mandei mensagem para todo mundo, ele xingou minhas clientes. Ainda bem que hoje muita gente já sabe quando é golpe, ninguém caiu ainda na conversa dele", disse.
O bandido chegou a pedir uma quantia de R$ 1 mil para as clientes de Jamile. "Tenho vários prints, minhas clientes estão apavoradas. Ele pediu R$ 900, R$ 500, e até R$ 1 mil para supostamente devolver meu número. A operadora do celular disse que só vou conseguir meu número de volta daqui a 7 horas", detalhou.
Além de todo o constrangimento e a sensação de "mãos atadas", Jamile ainda lamenta por conta do prejuízo com a confiança da clientela. "Muita cliente vai ficar com medo de entrar no grupo de novo e cair no golpe. Muitas até me bloquearam. Isso me prejudica", lamentou a vendedora.
Ainda em entrevista à reportagem de A Gazeta, Jamile afirmou que vai fazer um boletim online junto à Polícia Civil, e afirma que já conseguiu alguns dados do criminoso, como CPF e nome completo. "Ele é de São Paulo, já sei até o nome dele. Vou registrar um boletim agora mesmo", finalizou.
As amigas e clientes de Jamile logo perceberam o golpe, e algumas delas até "bateram um papo" com o bandido, que foi bem "pra frente" e sem papas na língua.
"Esse é o meu emprego, você nem sabe para quê eu quero o dinheiro. Fica quieta aí. Quer o Whatsapp? Me manda dinheiro. Vai se **der", disse em um dos áudios. "Vai, velha vagabunda. Esse é meu emprego. Sua prostituta!", disse o bandido em outro áudio.
No dia 29 de janeiro deste ano, a reportagem de A Gazeta fez um levantamento e chegou a conclusão de que 73 mil pessoas no Espírito Santo caíram no mesmo golpe que a vendedora Jamile. A estimativa do número de vítimas foi feita pelo dfndr lab, laboratório especializado em segurança digital da PSafe. Eles apontam que 5 milhões de pessoas caíram no golpe em todo o Brasil.
De acordo como laboratório, o aplicativo de mensagem é atrativo para cibercriminosos por ser um dos mais utilizados no mundo, o que faz dele um ambiente fértil para este e outros golpes. As maneiras de enganar os usuários variam bastante, mas o objetivo dos criminosos é sempre o mesmo: usar os contatos da vítima para pedir dinheiro e capturar o máximo possível de informações pessoais sobre a pessoa atacada.
Assim que os cibercriminosos têm acesso ao WhatsApp da vítima, eles estudam as mensagens para entender o comportamento e a forma de se comunicar do usuário. Em seguida, eles iniciam conversas com os contatos se passando pelo dono da conta e, mais uma vez utilizando a engenharia social, tentam convencê-los a prestar favores de cunho financeiro, que normalmente são pedidos de empréstimos ou pagamento de contas.
“Porém, pedido de favores não é o único risco desse golpe. Ao ter acesso à conta da vítima, o golpista poderá ler tudo que ela compartilhou ou foi enviado para ela, sejam dados pessoais, informações sigilosas da empresa em que trabalha, fotos e documentos. Colocar as mãos nesse tipo de conteúdo pode abrir um leque de opções para que os cibercriminosos façam chantagens e apliquem outros golpes com os dados da vítima”, explica o diretor do dfndr lab, Emilio Simoni.
Em uma entrevista sobre os 10 golpes contra o consumidor que avançam na pandemia, feita para uma reportagem de 23 de junho de 2020, o delegado titular da Delegacia Especializada de Crimes Cibernéticos do Espírito Santo, Brenno Andrade, explicou que os criminosos aproveitam do momento em que estamos passando para usar a chamada "engenharia social".
O termo se refere a uma técnica usada por hackers, crackers e organizações criminosas para obter informações. Nela, o atacante obtém informações sigilosas ou importantes explorando a confiança da vítima.
Segundo ele, o golpista faz com que a pessoa acredite na informação que está recebendo no telefone ou computador. Ele a leva a acreditar que aquilo é real. Isso pode ocorrer, por exemplo, com um falso anúncio de algo gratuito, sorteios de máscaras e álcool em gel. No caso de Jamile, foi sobre o sorteio em um restaurante.
Ele aconselha a ignorar a mensagem recebida e procurar o canal oficial da empresa ou uma fonte oficial, como jornais de credibilidade, canais governamentais ou de organizações conhecidas. "A primeira barreira de proteção é a própria pessoa. Ela deve analisar a proposta que está a sua frente, desconfiar se o que estiver sendo ofertado for muito bom, mesmo tendo sido enviado por parente e amigos, desconfiar ainda mais. Também é bom evitar pagamentos em boletos bancários ou transferências eletrônicas", aponta.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta