Uma das vítimas do empresário indiciado por estupros em série no Espírito Santo, Glaupiherle Grasihelo Rocha, esteve presente em uma audiência de instrução na última quarta-feira (9). O acusado, advogados e outras testemunhas também participaram. Na ocasião, a mulher, que teve um relacionamento com Glaupiherle e não terá nome e idade revelados nesta matéria, narrou as ameaças que sofreu no período em que se relacionou com ele.
A vítima começa dizendo que nos primeiros dias de relacionamento, Glaupiherle era uma pessoa calma, mas com o tempo mudou o comportamento demonstrando ser extremamente ciumento e fazendo ameaças de morte. A moça declarou que não acreditava nas ameaças e que, por isso, continuava com ele. Ela afirma que o acusado foi o primeiro namorado dela.
Após o término do namoro, a vítima diz que Glaupiherle continuava com ameaças, a perseguia e não permitia que ela fizesse amizade com outras pessoas. A mulher narra que ganhou um celular de presente do empresário e que, após o término, ele foi até o local de trabalho dela para pegar o aparelho de volta. "Ele pegou o meu celular e disse que acabaria com a minha vida. Após as ameaças, eu resolvi registrar uma ocorrência e recebi medidas protetivas da Justiça", detalhou.
Ele foi intimado e, a partir daí, a vítima diz que Glaupiherle passou a entrar em contato com ela via Whatsapp e ligações telefônicas. Disse ainda, que voltou na delegacia para registrar uma nova ocorrência por "não aguentar mais as perseguições do acusado". A mulher afirma que Glaupiherle insistia em reatar o relacionamento e que havia sido traída por ele diversas vezes.
Ela narra uma situação que teria acontecido em 2018, quando Glaupiherle estabeleceu uma condição para ela sair de um imóvel onde os dois estavam: ela deveria beber dois copos de vodka pura. Na audiência, a mulher afirmou que não ingere bebidas alcoólicas, mas bebeu os dois copos a fim de sair do local.
A vítima diz que em seguida, quando tentou levantar do sofá para ir embora, notou que estava caindo, então Glaupiherle disse para ela se deitar em uma cama. Ela afirma que ele a jogou na cama, se deitou, tirou as roupas dela e os dois começaram a ter uma relação sexual. A mulher afirma que se não tivesse bebido, mesmo assim, teria tido relações sexuais com o acusado por gostar dele.
No depoimento, a vítima afirma que Glaupiherle costumava usar lubrificante antes das relações, e que teve dúvidas ao afirmar com certeza se ele enfiou a embalagem do produto na genitália dela naquela ocasião. Ela afirma que, quando a relação começou, ficou em dúvida se queria ou não continuar.
A mulher disse que, no outro dia, Glaupiherle pediu perdão e disse que mudaria o comportamento. Além disso, falou para ela que se ele tivesse penetrado o pote de lubrificante nela, ela teria sentido, negando que fez uso de qualquer pote no ato sexual. Por conta disso, a mulher não procurou a delegacia e nem realizou nenhum tipo de exame, mas alegou que pegou sífilis de Glaupiherle.
A defesa dele justificou que, após as discussões, "ele pedia perdão e ela aceitava". Além disso, afirmou que ele não deu nenhum remédio para dopar a mulher e que ela nunca foi forçada a fazer sexo com ele. "Ela inicialmente resistiu ao ato sexual por raiva, após ter descoberto as traições. Após o término do relacionamento, ele não manteve relações sexuais com nenhuma outra pessoa, mas tinha uma verruga no pênis".
Questionado pelo juiz, Glaupiherle disse que não ameaçou a mulher de morte e que enviou mensagens à vítima após saber da medida protetiva por ciúmes. Ele alegou, ainda, que não tinha nenhuma intenção de fazer mal à ex. O acusado declara que, no ocorrido de 2018, não obrigou a vítima a tomar vodka e reforçou que jamais chegou a colocar algum frasco na vagina dela.
Relatou que ambos beberam vodka no sofá e, logo em seguida, tiveram uma relação sexual consensual. Ainda sobre a acusação da mulher, de que ele transmitiu sífilis para ela, Glaupiherle afirmou desconhecer que tinha qualquer tipo de doença venérea, e que há muitos anos possuía uma verruga na genitália, mas nunca foi ao médico para buscar algum diagnóstico.
Glaupiherle Grasihelo Rocha, que tinha 36 anos na época, foi preso no dia 25 de outubro de 2019 por suspeita de ter estuprado oito mulheres na Grande Vitória. Ele foi detido em casa, no bairro São Francisco, em Cariacica. No dia 29 de junho deste ano, a defesa de Glaupiherle chegou a pedir liberdade provisória para o acusado, que foi prontamente rejeitada pela Justiça.
Na época da prisão, a chefe da Divisão Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM), a delegada Claudia Dematté, pediu que a imprensa divulgasse a foto do suspeito para ver se novas vítimas denunciavam. Segundo a polícia, Glaupiherle atacava mulheres em ruas da Serra, Vitória, Cariacica e Vila Velha. Ele abordava as vítimas em uma picape Saveiro de cor branca.
Com uma arma, ele ameaçava as vítimas de morte, as obrigava a entrar no veículo e, na maioria dos casos, levava as mulheres para um local ermo às margens da Rodovia do Contorno, à noite. Segundo informações da polícia, ele introduzia arma, pedaços de madeira e barras de ferro nas vítimas.
Em janeiro deste ano, o empresário foi indiciado pela Polícia Civil pelo crime de estupro. Três processos foram concluídos naquele mês pela delegacia responsável pelo caso e outros seguiam em andamento. Glaupiherle está preso na Penitenciária Estadual de Vila Velha V.
Questionada pela reportagem de A Gazeta em agosto deste ano, a Polícia Civil informou que a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) de Cariacica identificou 15 vítimas de estupro e duas vítimas de violência doméstica, que apontam Glaupiherle como o responsável pelos crimes.
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