O senador capixaba Marcos do Val (Podemos) foi advertido por dizer, durante o depoimento do ex-ministro da Saúde Nelson Teich na CPI da Covid, nesta quarta-feira (5), que toma medicamentos sem comprovação científica como "tratamento precoce" contra o novo coronavírus. O parlamentar questionou o ex-ministro sobre o uso do medicamento, afirmando que toma cloroquina aos finais de semana com prescrição médica. O presidente do colegiado, senador Omar Aziz (PSD-AM), interferiu.
"A quem está nos vendo e nos ouvindo aí, eu vou pedir cautela. O senador Marcos do Val falou que toma uma medicação e disse, nacionalmente, qual é a medicação. Eu recomendo que quem está ouvindo, se for tomar qualquer medicação, por favor, procure um médico", interrompeu Aziz, antes que Teich respondesse ao questionamento feito por Do Val.
Do Val, que participava do depoimento de forma virtual, abriu o microfone para dizer que "havia deixado claro" que possui a indicação de médicos. O presidente do colegiado completou: "Quando a gente fala isso, viu Marcos? Como você é referência, às vezes a pessoa pode utilizar sem saber".
O questionamento direcionado ao médico e ex-ministro pelo parlamentar foi quanto às posições contraditórias que alguns médicos adotam quanto ao uso de medicamentos como tratamento precoce.
"Meu questionamento é por que alguns médicos defendem e querem ter a liberdade de receitar o tratamento precoce e outra parte dos médicos condenam plenamente dizendo que isso não tem efeito nenhum e é charlatanismo", afirmou. Em seguida, relatou que toma vitaminas diariamente e uma dose de cloroquina aos finais de semana, com prescrição médica, mas que mantém outros cuidados, como uso de máscara e álcool em gel.
"Ainda não estou na categoria de ser vacinado e estou ansioso para ser vacinado. Uma ação não interfere na outra. Se estamos em uma guerra que praticamente se desconhece o inimigo, como dizer que essa tática ou essa munição é a que funciona e a outra não?", perguntou.
Teich, então, voltou a se posicionar contrário à prescrição das drogas e ressaltou que, mesmo que não haja um consenso entre os médicos, há um consenso entre as instituições mundiais de referência em saúde. "Em relação à primeira pergunta, eu não sei lhe dizer por que os médicos prescrevem já que existe hoje, dentro das instituições de referência mundial, um consenso em relação aos medicamentos. Não posso falar por eles. Mas eu colocaria como inadequada, errada, essa prescrição", respondeu.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) e até os fabricantes de medicamentos como hidroxicloroquina, azitromicina e ivermectina já deixaram claro que não há qualquer respaldo científico quanto à eficácia das drogas no tratamento da Covid-19. O presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido) e seus aliados, como Do Val, continuam a promover o tratamento como profilaxia.
A intenção do presidente de alterar o protocolo do SUS e permitir a aplicação da cloroquina desde o início do tratamento foi um dos pontos de desavença entre o ex-ministro e o mandatário, que resultaram na saída de Teich da pasta após 29 dias no cargo.
Na terça-feira (4), quem depôs na comissão foi o ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta (DEM-MS), primeiro a lidar com a pandemia enquanto estava no cargo. Do Val, que chegou a se inscrever para perguntar, abriu mão do direito e afirmou que Mandetta já havia abordado a questão em outras respostas. Rose de Freitas (MDB) e Fabiano Contarato (Rede) não fizeram questionamentos ao primeiro ministro do governo Bolsonaro.
Do Val também questionou o ex-ministro quanto à vacinação no Brasil. O país aplicou a primeira dose de vacina no dia 17 de janeiro, cerca de 40 dias após a primeira dose aplicada no mundo, no dia 8 de dezembro, na Inglaterra. Para o senador, esse prazo não deveria ser considerado um "atraso" já que foi "só um mês depois".
Teich ressaltou que outros países fizeram reservas grandes de dinheiro para aquisição de doses ainda em desenvolvimento e, por deixar para comprar apenas as vacinas já prontas, o Brasil chegou "por último na fila", o que poderia justificar a demora na entrega de doses adquiridas nos últimos meses.
Além disso, o parlamentar questionou se, durante o tempo que esteve no ministério, Teich viu alguma movimentação suspeita quanto a superfaturamentos ou outras modalidades de corrupção, o que o ex-ministro negou.
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