Em 2022, junto aos santinhos e camisetas que costumam colorir as eleições, um novo tipo de produto tomou conta do comércio de rua e chamou a atenção dos eleitores: as toalhas com as imagens dos candidatos à Presidência. Em alguns lugares do Brasil, a venda repercutiu nas redes sociais por conta dos placares com a quantidade que sai para cada nome na disputa. A novidade ganhou até nome: “DataToalha”, em referência ao instituto de pesquisa DataFolha.
Na Grande Vitória, a reportagem de A Gazeta percorreu quatro pontos tradicionais de comércio de rua para conferir se as vendas estão aquecidas por aqui e quem está à frente na preferência do eleitor capixaba. Na última terça-feira (26), a cinco dias da votação, rodamos os bairros Centro (Vitória), Glória (Vila Velha), Campo Grande (Cariacica) e Laranjeiras (Serra).
A primeira constatação é que, nas quatro regiões, apenas os candidatos Jair Bolsonaro (PL) e Lula (PT) têm produtos à venda. No termômetro informal de popularidade, que não reflete intenção de voto, o petista tem mais simpatizantes. Pelo menos para os comerciantes ouvidos pela reportagem, a corrida presidencial acirrada tem sido benéfica, já que se traduz em lucros.
Os produtos encontrados nas bancas dos quatro locais eram camisas, toalhas e bonés. A faixa de preço varia entre 10 a 45 reais. Confira como estão as vendas em cada ponto:
No Centro de Vitória, a aproximação do primeiro turno fez com que as vendas aumentassem e com que o público se engajasse para saber “quem está ganhando”. É o que destaca o comerciante Roberto Alves, que vende seus produtos no bairro há 40 anos. “Eles vêm aqui na DataBanca e perguntam qual produto está vendendo mais, aí a DataBanca informa”, brinca o comerciante, instalado na Praça Costa Pereira. No local, segundo Alves, uma toalha de Bolsonaro é vendida para cada cinco de Lula.
A alguns metros dali, na Praça Getúlio Vargas, também no Centro de Vitória, a situação muda de figura: Bolsonaro está na frente do petista. O preço exibido abaixo da camisa do atual presidente chama a atenção na banca, ao lado da Avenida Princesa Isabel: 22 reais, número de Bolsonaro na urna.
De acordo com a comerciante Samara Hamer, trata-se de uma sugestão dos clientes. “Antes elas custavam R$ 35. Meu pai baixou para R$ 25, só que deram a ideia do 22. A gente pagou 20 reais nessas camisas. Com a do Lula, se a gente fizesse por R$ 13, estaríamos perdendo muito, então as duas custam R$ 22 agora", conta.
No polo comercial da Glória, os comerciantes apontam que a venda de toalhas e camisas foi constante durante todo o período de eleição, mas aumentaram nesta reta final. Em alguns casos, quem compra é realizada não por simpatia ao candidato X ou Y, mas sim para pregar uma peça em um amigo ou familiar. “Eles chegam dizendo que compram mais para implicar com a família, é mais para isso”, revela a vendedora Rafaela Gaia.
No dia em que A Gazeta circulou pelo comércio do bairro, as vendas indicavam a preferência pelo candidato Lula. Na banca de Carlos, que preferiu não informar o sobrenome à reportagem, foram comercializadas três toalhas do representante do PT e nenhuma de Jair Bolsonaro, até as 15h30.
Se o saldo é positivo em Vitória e Vila Velha, na Avenida Central não segue a mesma tendência. Para o comerciante Rafael Faria, apesar do início promissor, desde a última semana as vendas não têm sido da maneira que gostaria.
“Antigamente eu anotava todas as vendas e conseguia ter uma noção de quem estava na frente, mas depois que começou a disparar, você já até começa a perder o foco, entende? Nesta semana as vendas caíram, desde semana passada na verdade. De lá para cá, está sendo bem fraco”, completa.
Mesmo sem números exatos, os comerciantes confirmam a preferência dos clientes pelos produtos personalizados com a imagem de Lula. É o que diz a vendedora Julia Paquielo, por exemplo. “Geralmente, quando a gente vende três do Lula, vendemos uma do Bolsonaro. Acho que eles vão levar para a votação, não sei como vai ser”, diz.
O cenário é o mesmo na Avenida Expedito Garcia: as vendas caíram nos últimos dias, mas o candidato mais procurado ainda é Lula. Hélio Matias diz, pelo menos por lá, que a saída de produtos do ex-presidente corresponde à intenção de voto de quem compra com ele. “Geralmente as pessoas que passam aqui votam no Lula”, afirma.
Quem também pensa assim é o Luiz Guilherme, que vende produtos dos candidatos na barraca comandada pela mãe, em Cariacica. Segundo ele, 70% das toalhas que saem são estampadas com o rosto de Lula. “Aqui o pessoal geralmente é de baixa renda. Eu acredito que o pessoal baixa renda é um pouco mais a favor de partidos de esquerda", comenta o vendedor sobre uma percepção confirmada pela pesquisa Ipec no Espírito Santo.
O levantamento divulgado na última quinta-feira (22) mostra que, entre os que ganham até um salário mínimo (R$ 1.212), Lula tem 51% das intenções de voto dos eleitores capixabas. Já Bolsonaro é a escolha de 47% do eleitorado que recebe mais de cinco salários mínimos (acima de R$ 6.060).
Este conteúdo foi produzido por Atílio Esperandio, Beatriz Heleodoro, João Vitor Castro, Mikaella Mozer e Vitor Recla, alunos do 25º Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta, sob supervisão da editora Gisele Arantes.
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