Com a alteração do calendário eleitoral das eleições municipais de 2020 devido a pandemia do novo coronavírus, partidos e candidatos vão precisar se adaptar a uma campanha sem corpo a corpo e ainda muito imprevisível.
O tempo maior de pré-campanha pode ajudar a garantir mais visibilidade para candidatos novos, mas especialistas avaliam que durante os próximos 42 dias, as ações de candidatos que buscam a reeleição também podem ser decisivas para eleitores, que devem levar em consideração as pautas ligadas à pandemia.
Partidos consideram que o momento de isolamento prejudica a todos que buscam ocupar os cargos eletivos, veteranos e novatos. Nos 78 municípios do Espírito Santo, só 17 prefeitos estão no segundo mandato e não podem disputar a reeleição.
Para as lideranças partidárias do Estado, o adiamento das eleições foi uma decisão acertada, diante da pandemia do novo coronavírus. Contudo, a eleição, que já teria características diferentes, por ser sem a possibilidade de coligações nas chapas de vereadores, ganha um caráter ainda mais desconhecido com a Covid-19 e a dificuldade, literalmente, de se aproximar do eleitorado. A Gazeta entrou em contato com os partidos do Estado que possuem o maior número de filiados, e com os que têm o maior número de prefeitos e vereadores eleitos.
O presidente estadual do Republicanos, Roberto Carneiro (Republicanos), ainda faz projeções com cautela. "A verdade é que ninguém sabe muito bem o que vai pesar na hora do eleitor decidir. Pode ser que a população queira mudar quem está no poder, como pode ter medo de apostar em alguém novo com essa crise toda, queira votar em quem é mais experimentado. O eleitor está pensando em sua saúde e em seu emprego neste momento. Quem quiser largar na frente, vai ter que mostrar desde agora que está acompanhando esse processo", afirma Carneiro.
Prevendo uma campanha sem muitos apertos de mão nas ruas e caminhadas nos bairros, o presidente do PP no Espírito Santo, Marcus Vicente, acredita que quem já é conhecido pelo eleitor tem uma ligeira vantagem. Ele destaca que na Grande Vitória, era comum a campanha começar meses antes, em visitas a bairros e lideranças comunitárias.
"A dificuldade do isolamento vale para todo mundo. Vale para o político novo que não é tão conhecido ainda e vale para o político em exercício, que não consegue mostrar seu trabalho. Ainda assim, ao menos as pessoas já o conhecem, o seguem nas redes. Mas é uma vantagem pequena", aponta.
Quando o adiamento do pleito ainda estava sendo discutido pelos parlamentares em Brasília, deputados federais sofriam pressão por parte de prefeitos contrários à medida. A leitura é de que aquele que está no poder sempre quer que a oposição tenha menos tempo para se fazer conhecer e lançar suas críticas à gestão.
Em meio à pandemia isso se agrava, uma vez que poucas são as prefeituras que estão conseguindo corresponder às demandas da população e, portanto, tendem a estar em situação frágil para as críticas e consequências da escassez de recursos.
O consultor em marketing político Darlan Campos aponta que com a tendência de agravamento da crise econômica, a imagem dos que buscam reeleição pode ficar comprometida diante dos eleitores, "que costumam descontar a frustração do momento em quem está no poder".
Para gestores que gozam de mais recursos, no entanto, o prazo maior pode significar capital político. "Isso se o gestor tiver uma postura de conseguir atender aos anseios da população diante do eleitorado, atendendo a pautas e necessidades relativas à pandemia", ressalta o advogado especialista em direito eleitoral, Ludgero Liberato. Uma das mudanças, por exemplo, foi no prazo para participar de inauguração de obras. Candidatos terão até o dia 11 de agosto para estar presentes nessas entregas.
Darlan acrescenta que nunca antes os canais de comunicação das Câmaras e Prefeituras tiveram tanta audiência. "Sob a ótica da comunicação política, a pandemia traz uma atenção maior do público para o que os políticos estão fazendo. A população vai avaliar e buscar uma liderança. Prefeitos que foram vistos assumindo a liderança da situação aumentaram os índices de aprovação. Políticos que não assumiram esse papel, como é o caso de Jair Bolsonaro (sem partido), tiveram uma queda significativa", assinala.
Já os candidatos menos conhecidos, podem se beneficiar do prazo para ter o nome familiarizado entre o eleitorado. Para estes, o agravamento da crise e o desgaste da imagem dos que buscam a reeleição pode ser um benefício, já que quem não está no cargo não é associado diretamente ao momento difícil enfrentado pelos eleitores.
Presidente do PSB, Alberto Gavini admite que tomar algumas medidas restritivas por conta da pandemia pode prejudicar alguns prefeitos que querem disputar a reeleição. Ele critica, contudo, candidatos que não estão em mandato que usam do caos sanitário para tirar vantagem eleitoral.
"Isso é uma insanidade. O candidato que usa esse clamor para tirar vantagem contra um prefeito é insano. Quem está fechando o comércio, está fazendo isso para salvar vidas. Empresas podem ser recuperadas, se uma pessoa morrer não há mais volta", argumenta.
Embora políticos que já têm mandato tenham o benefício de uma imagem já conhecida, o uso massivo da internet nas últimas eleições, em 2018, sugere que talvez o modelo antigo de campanha, com comícios, santinhos e bandeiras nos semáforos, tenha um peso menor também este ano - por isso, a vantagem dos prefeitos que vão tentar a reeleição pode não ser tão grande.
Para os especialistas, a internet terá o papel decisivo, assim como a presença nas redes sociais. Embora o mundo digital já tenha prestado um papel importante nos últimos pleitos, neste ele se torna protagonista, o que para Darlan pode ser uma má notícia para quem não se programou anteriormente. "Assim como existe um novo consumidor pós-pandemia, existe um novo eleitor que precisará ser compreendido pelos candidatos. Mas leva tempo para construir uma reputação nas redes sociais, e esses 42 dias não vão fazer diferença para quem não se planejou", afirma.
Outra mudança aprovada pelo Congresso é a do prazo de descompatibilização de servidores e afastamento de apresentadores e comentaristas de rádio e TV. Servidores teriam de sair dos cargos no dia 4 de julho e agora poderão permanecer até 15 de agosto, enquanto apresentadores e comentaristas deveriam ter saído até o dia 30 de junho, mas agora podem ficar em seus postos até 11 de agosto.
Secretários e diretores de autarquia, contudo, deixaram seus cargos em abril, quando faltavam seis meses para o pleito marcado para outubro. Para Darlan, quem teve o prazo estendido foi privilegiado e quem já saiu, de certa forma, prejudicado, porque acabaram ficando nove meses fora das cadeiras.
Liberato, no entanto, acredita que o afastamento de pessoas que ocupam cargos de secretariado foi ainda mais importante diante da crise de saúde. "Para justificar o tratamento diferenciado, acredito que o legislador temia que quem ocupa cargos de secretariado e tem recursos na mão para oferecer, principalmente em meio à pandemia, poderia gerar um cenário muito mais desequilibrado", aponta.
Nesse sentido, a visibilidade de quem tem espaço nas mídias, como TV e rádio, beneficia esses candidatos, já que para os políticos, quanto mais exposição, mais serão lembrados. Para os especialistas, esse tempo maior concedio a eles nos veículos de comunicação não chega a ser injusto, como seria caso se estendesse prazos de quem ocupa pastas com disponibilidade de recursos.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta