Adversários políticos dos candidatos que foram beneficiados pela atuação de uma rede de perfis falsos na internet durante a campanha eleitoral de 2020 no Espírito Santo querem que o caso vá para a Justiça. O uso das contas nas redes sociais para aumentar a popularidade de Sergio Vidigal (PDT), Euclério Sampaio (DEM) e Fabrício Gandini (Cidadania) foi revelado em um relatório global elaborado pelo Facebook e divulgado na última terça-feira (12).
Célia Tavares (PT), que disputou o segundo turno da Prefeitura de Cariacica contra Euclério Sampaio, disse que vai acionar o Ministério Público do Espírito Santo (MPES) para que haja uma investigação e, se for o caso, a proposição de ação à Justiça. A Rede, partido que teve o candidato Fábio Duarte concorrendo na Serra contra o agora prefeito Sergio Vidigal, estuda adotar a mesma atitude.
Euclério e Vidigal são citados no relatório elaborado pelo Facebook como candidatos que contavam com curtidas, comentários elogiosos e compartilhamentos feitos por perfis inautênticos. Os dois saíram vitoriosos das urnas.
Para Célia, "não há dúvidas que houve desequilíbrio no pleito eleitoral".
O MPES informou que tomou conhecimento do relatório e analisa as medidas a serem tomadas.
O deputado estadual Fabrício Gandini, que concorreu ao cargo de prefeito de Vitória, também é citado no relatório. Gandini, contudo, não se elegeu, sendo derrotado ainda no primeiro turno.
A atuação de uma rede de perfis falsos no Facebook e no Instagram foi divulgada na terça-feira pelo Relatório de Comportamento Inautêntico Coordenado do Facebook, um documento de alcance global publicado em português e inglês.
Ao todo, 52 perfis falsos foram removidos das plataformas no Espírito Santo, em dezembro, por violarem a política do Facebook. Segundo o relatório, as contas foram criadas para aumentar a popularidade de Gandini, Vidigal e Euclério durante o processo eleitoral.
Os perfis falsos agiam comentando, curtindo e compartilhando conteúdos dos três candidatos. Não há indícios de que eles compartilhavam desinformação.
Ainda de acordo com o Facebook, a empresa AP Exata, que tem sede em Vitória, estaria por trás da criação das contas. A companhia tem como CEO o capixaba Sergio Denicoli.
Denicoli prestou serviços para a campanha de Vidigal, conforme consta na prestação de contas da Justiça Eleitoral, mas por meio de uma outra empresa, a Exata Comunicação Digital. Foram pagos R$ 37 mil para monitoramento de redes sociais.
Não consta na prestação de contas das campanhas de Euclério e Gandini pagamentos para nenhuma das empresas de Denicoli.
O prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos), disse que já havia acionado a Justiça denunciando a atuação da empresa Exata na campanha de Fabrício Gandini, por meio de contratos estabelecidos com a Prefeitura de Vitória.
Gandini foi o candidato apoiado pelo ex-prefeito de Vitória Luciano Rezende (Cidadania). Durante o processo eleitoral, a Polícia Federal chegou a fazer uma operação na Prefeitura de Vitória para apurar denúncias de uso da máquina pública na campanha de Gandini.
Segundo Pazolini, a Exata era responsável pelas mídias sociais do ex-prefeito e teria beneficiado, de forma indireta, Fabrício Gandini. Denicoli, contudo, nega que isso tenha ocorrido.
"Muito antes das medidas adotadas pelo Facebook, a Coligação Vitória Unida é Vitória de Todos, que elegeu o atual prefeito Lorenzo Pazolini, já havia obtido provas, por meio de quebras de sigilo autorizadas pela Justiça Eleitoral, de que a empresa Exata e seu proprietário, Sergio Denicoli, estavam atuando na campanha eleitoral em favor do candidato Fabrício Gandini", afirmou Pazolini por meio de nota.
A Exata não tinha contratos diretos firmados com a Prefeitura de Vitória em 2020, mas foi terceirizada por uma agência de publicidade com contrato com a administração da Capital para Publicidade Institucional. Em agosto, por exemplo, foi pago um valor de R$ 41.420 para a Exata, por meio dessa agência de publicidade, para realizar pesquisas para a prefeitura. Há pagamentos também nos meses de julho, maio e abril.
O CEO da AP Exata, Sergio Denicoli, negou a criação de contas falsas e disse que a empresa citada pelo Facebook não presta serviços eleitorais.
Já a Exata, outra empresa da qual ele é proprietário, foi contratada por Sergio Vidigal para fazer monitoramento das redes sociais, mas trabalhou, segundo Denicoli, de maneira idônea.
Sobre as acusações do prefeito Lorenzo Pazolini, Denicoli disse que "a Exata jamais administrou a conta pessoal do ex-prefeito de Vitória e jamais cometeu irregularidades". Questionado se possuía contrato com a Prefeitura de Vitória, Denicoli disse que, "por questões de compliance, a Exata não comenta sobre contratos".
Ele disse ainda que a empresa está apta a esclarecer qualquer questionamento jurídico.
Questionados sobre o relatório do Facebook na terça-feira, os políticos disseram não ter conhecimento sobre a criação de contas falsas em redes sociais para beneficiá-los.
Sergio Vidigal, que foi eleito prefeito da Serra nas eleições de 2020, disse, por meio do advogado eleitoral Altamiro Thadeu Sobreiro, que os serviços de gestão de mídia e análise de redes sociais da empresa citada foram contratados regularmente durante a eleição e declarados à Justiça Eleitoral. "Qualquer outra atividade fora dessa finalidade é desconhecida e, portanto, está fora da responsabilidade da campanha de Vidigal", afirmou.
O prefeito de Cariacica, Euclério Sampaio, informou que desconhece e não compactua com a criação de contas falsas nas redes sociais. O prefeito afirmou que "não houve qualquer contrato entre sua campanha e a empresa citada no relatório do Facebook".
O deputado estadual Fabrício Gandini disse que a empresa contratada por ele para realizar a campanha digital no período eleitoral não é a citada pelo relatório do Facebook. "Não coaduno com a criação de contas falsas nas redes sociais, sejam elas utilizadas para qualquer interesse. Além disso, a empresa que foi contratada pela campanha digital não foi citada em nenhum momento pelo Facebook", declarou.
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