As agressões a jornalistas em uma manifestação pró-Bolsonaro no domingo (03) ocorreram no momento em que o presidente sofre desgaste por ter informações negativas sobre o governo dele ganhando luz nos veículos de comunicação.
Jair Bolsonaro (sem partido) tem aumentado as críticas à imprensa nas redes sociais à medida que são divulgadas notícias sobre panelaços contrários a ele, avaliações negativas de autoridades à forma como o Executivo vem lidando com a pandemia, crises internas no Palácio do Planalto e a saída de Sergio Moro do governo, que dividiu parte de seus apoiadores.
As críticas repercutem entre os grupos bolsonaristas, que também têm promovido ameaças nas redes sociais a jornalistas. No último domingo (3), em uma manifestação com pedidos de intervenção militar e o fechamento do Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF), a equipe de reportagem do jornal "O Estado de S. Paulo" foi agredida fisicamente e teve que deixar o local dos protestos escoltada por policiais.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), ministros do STF, governadores e entidades civis, como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) repudiaram as agressões. Nesta segunda-feira (4), Bolsonaro condenou a violência, atribuiu a infiltrados os ataques aos jornalistas, mas reforçou críticas à imprensa com a cobertura do caso.
Em 15 de março, logo no início do isolamento social nas principais cidades, quando já havia orientação do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde (OMS) para evitar aglomerações, Bolsonaro apoiou e cumprimentou manifestantes que foram até o Palácio do Planalto, com cartazes e faixas que pediam o fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF), além de defender intervenção militar.
Dias antes, o presidente havia feito um pronunciamento em rede nacional pedindo para que a manifestação fosse adiada. No entanto, no dia da manifestação, Bolsonaro incentivou os protestos e publicou uma série de registros dos atos. Especialistas condenaram a aglomeração gerada pelo protesto e criticaram a postura do presidente.
Em nova manifestação neste domingo (3), apoiadores do presidente voltaram a criticar o Legislativo e o Judiciário e pedir uma intervenção das Forças Armadas. Dessa vez, Bolsonaro disse que está pedindo a Deus para "não ter problemas nesta semana", pois havia chegado "ao limite". O presidente ainda afirmou que tinha o apoio das Forças Armadas.
"Queremos a independência verdadeira dos Três Poderes e não apenas uma letra da Constituição, não queremos isso. Chega de interferência. Não vamos admitir mais interferência. Acabou a paciência. Vamos levar esse Brasil para frente", afirmou. O discurso foi interpretado como uma escalada no tom do presidente em relação às divergências com outros Poderes.
Em manifestação de enfermeiros na Praça dos Três Poderes, um grupo de cerca de 60 profissionais protestavam no Dia do Trabalho, pedindo melhores condições para quem atua na área da saúde durante a pandemia.
Um homem e uma mulher vestidos com roupa verde e amarela, carregando uma bandeira do Brasil, ofenderam e agrediram com empurrões enfermeiras que participavam do ato. Eles foram chamados de "sem vergonha", "covardes" e "analfabetos funcionais". Os enfermeiros tiveram que deixar o ato acompanhados de policiais. Os agressores foram identificados e devem ser processados.
O estopim que motivou a saída do então ministro da Justiça Sergio Moro do governo foi a exoneração de Maurício Valeixo do cargo de diretor-geral da Polícia Federal. Segundo Moro, houve tentativas de interferência do presidente para ter acesso a investigações sigilosas.
Em seu lugar, Bolsonaro tentou nomear Alexandre Ramagem, que chegou a ter seu nome publicado no Diário Oficial da União como novo comandante da PF, mas a nomeação foi barrada pelo ministro Alexandre de Moraes, no STF.
Ramagem é amigo da família Bolsonaro e assumiria o cargo em um momento em que o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), um dos filhos do presidente, está na mira dos investigadores em um inquérito que apura a disseminação de fake news e ataques a parlamentares e ministros da Suprema Corte nas redes sociais. Nesta segunda-feira (4), Bolsonaro colocou Rolando de Souza, braço direito de Ramagem, para assumir o órgão.
Com pedidos de impeachment sendo protocolados na Câmara e o assunto ganhando os corredores do Congresso Nacional, o presidente se aproximou do Centrão, grupo político informal de parlamentares que é visto como pragmático e sem ideologia por especialistas.
Formado por parlamentares de partidos como o PP, Republicanos, PL, PSD, Solidariedade, PTB e DEM, a ala se tornou sinônimo de conveniência com o Executivo, ao trocar nomeações em cargos importantes do governo por apoio dentro do Congresso.
A articulação do governo cogita colocar indicações desses partidos no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), no Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), entre outras autarquias do Executivo.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta