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Aliados de Bolsonaro no ES receberam R$ 198 mil de fundo criticado pelo presidente

Aliados de Bolsonaro no ES receberam R$ 198 mil de fundo criticado pelo presidente

Todos os cinco parlamentares eleitos no Estado pelo PSL, antigo partido do presidente, tiveram dinheiro público usado na campanha de 2018. Jair Bolsonaro sugeriu, neste mês, que eleitores não votem em quem usar o "fundão"

Publicado em 29 de janeiro de 2020 às 19:52

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Quatro deputados estaduais e uma deputada federal do PSL-ES usaram dinheiro público na campanha de 2018 . (Carlos Alberto Silva)

Todos os deputados do PSL – estaduais e federais – eleitos no Espírito Santo receberam dinheiro público do fundo eleitoral para custear a campanha de 2018. Ao todo, foram repassados R$ 198 mil aos cinco parlamentares – o que equivale a 39,6% de toda a receita eleitoral declarada por eles naquele ano, de acordo com dados da Justiça Eleitoral. 

Nas últimas eleições, R$ 1,7 bilhão em recursos do fundo foram distribuídos aos candidatos que disputavam o pleito. Agora, em 2020, já foi sancionado o valor de R$ 2 bilhões. No início deste mês, antes de aprovar o orçamento e incomodado com as críticas, o presidente Jair Bolsonaro (ex-PSL e que tenta criar o Aliança pelo Brasil) pediu aos eleitores que não votassem em parlamentares que utilizarem o "fundão".

O maior valor do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) repassado a aliados do presidente no Estado foi para a deputada federal Soraya Manato: R$ 141 mil. Proporcionalmente, porém, essa quantia representa 47,7% da receita da campanha dela. Por isso, percentualmente, a liderança recai sobre o deputado estadual Capitão Assumção, com 100% do valor (R$ 33,6 mil) advindo do mecanismo.

Se os cinco deputados eleitos – e os outros 18 candidatos aliados que usaram tal financiamento, mas que ficaram na suplência – permanecerem com igual postura, a base do presidente poderia ser abalada pelo próprio pedido feito por ele. Entre todos os candidatos do PSL no Estado a cargos legislativos, só três não utilizaram a verba vinda do fundo especial nas últimas eleições: nenhum ganhou.

Apesar de se declarar contra o uso do fundo eleitoral, a deputada federal Soraya Manato confirmou que utilizou o dinheiro público em 2018. "Usei para várias coisas, principalmente material de campanha, como santinhos, adesivos, esse tipo de coisa. Utilizamos muito em materiais casados para ajudar a eleger o presidente também", explicou.

Questionada, ela explicou por que usufruiu da verba, apesar do posicionamento contrário. "Sou contra o fundo eleitoral porque esse dinheiro está sendo tirado de outras áreas nas quais a população brasileira ainda é carente, mas fui candidata de primeira viagem e esse dinheiro veio para ajudar, já que boa parte banquei com o meu próprio dinheiro", afirmou.

Sem apresentar uma explicação, mas com posicionamento bastante semelhante, o deputado estadual Alexandre Quintino também é contra o fundo, embora tenha utilizado o dinheiro proveniente dele nas últimas eleições. "Foi um gasto muito pequeno com adesivos e santinhos", resumiu.

Já o também deputado estadual Torino Marques justificou o valor gasto como proveniente de uma atitude partidária. "Não sou a favor do fundo, mas eu respeito. Os santinhos, os adesivos e os cartazes com esse dinheiro vieram de outros candidatos, das eleições majoritárias, com campanhas casadas", disse.

No entanto, é possível verificar pela prestação de contas do parlamentar, divulgada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que ele recebeu R$ 3 mil diretamente do fundo, sem envolver qualquer outro candidato. No entanto, não é possível saber a exata destinação dele. Confrontado com os dados da prestação de contas dele no site da Justiça Eleitoral, Torino reafirmou: "eu não utilizei o meu fundo eleitoral".

Por meio da assessoria, o parlamentar Danilo Bahiense defendeu que o fundo é um "mecanismo permitido legalmente para custear campanhas políticas" e que o dinheiro recebido por ele serviu para "custear gastos gerais da campanha" em 2018, "respeitando o erário e a coisa pública".

Capitão Assumção – justamente o único que teve toda a receita proveniente do fundo, também com o segundo maior valor absoluto dentro os demais parlamentares eleitos no Espírito Santo – não quis se manifestar a respeito.

FUNDO ELEITORAL: UM BREVE PANORAMA

Criado durante o governo de Michel Temer (MDB) e tipificado pela Lei nº 13.487 do ano de 2017, o Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) surgiu como uma compensação do fim da doação empresarial, determinado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que a interpretou como favorável a episódios de corrupção.

Na época, delações premiadas dos proprietários da empresa JBS (gigante do ramo de carnes) revelaram um esquema de propina que envolvia diversos políticos, incluindo o então presidente Temer, o político Aécio Neves e o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, dos governos comandados por Lula e Dilma Rousseff.

Com a mudança no sistema de financiamento eleitoral, a quantia destinada para o fundo deve ser depositada pelo Tesouro Nacional para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), até o dia 1º de junho do ano da respectiva eleição; e o que não for utilizado nas campanhas deve ser devolvido integralmente, no momento de prestação de contas.

Também ficou estipulado a forma como é feita a distribuição do recurso aos partidos:

Para receber o valor ao qual tem direito, cada partido deve informar quais serão os critérios de distribuição aos candidatos, tendo estes sido deliberados pela Comissão Executiva Nacional da agremiação partidária e aprovados pela maioria absoluta dos membros do órgão da direção executiva da sigla.

Nas últimas eleições, o PSL definiu que caberia ao presidente do partido definir a distribuição dos recursos, levando em consideração, entre outras coisas, a reeleição dos atuais mandatários e a probabilidade de êxito, bem como estipulou a necessidade de os candidatos fazerem um requerimento formal ao partido para receber os recursos do fundo eleitoral.

Fundo Partidário

O Fundo Especial de Assistência Financeira aos Partidos Políticos (conhecido como Fundo Partidário) é constituído por doações orçamentárias da União. Ao contrário do Fundo Eleitoral, ele tem valores distribuídos mensalmente com o objetivo de auxiliar o funcionamento dos partidos, embora parte desse valor também possa ser utilizada nas campanhas em anos eleitorais. Em 2018, o valor deste mecanismo foi de R$ 900 milhões.

Diferentes

Fonte: Tribunal Superior Eleitoral (TSE)

“FAVORECE QUEM ESTÁ NO PODER”

Devido à forma como é feita a distribuição do fundo eleitoral, o cientista político Sérgio Praça, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), enxerga uma dissonância entre a demanda popular e o funcionamento do mecanismo. "O brasileiro tem apresentado uma tendência de renovação política, mas o fundo favorece quem está no poder."

A explicação é simples, já que partidos com maiores bancadas na Câmara e no Senado recebem a maior fatia do FEFC. "Hoje, por exemplo, o PSL, o PT e o MDB têm uma vantagem muito grande sobre os demais. Por isso, uma mudança que acredito que faria uma grande diferença é a uma divisão do dinheiro mais igualitária entre os partidos", afirmou.

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O sistema favorece quem já está eleito e os partidos maiores

Ségrio Praça
Cientista político e professor da FGV
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Com dificuldade de enxergar um financiamento eleitoral sem dinheiro público no Brasil, Sérgio Praça fez o que considerou um difícil julgamento a respeito do atual mecanismo. "Dentro da realidade brasileira, o financiamento atual é bastante razoável. Prefiro uma eleição com mais dinheiro público e menos corrupção, do que o contrário", defendeu, referindo-se às antigas doações empresarias.

Em relação ao boicote sugerido pelo presidente Bolsonaro, ele afirmou que o discurso favorece a imagem que o próprio quer para si. "O PSL vai ter o maior financiamento eleitoral deste ano. Ele poderia ter ficado no partido e se aproveitado disso, mas ele saiu. É uma campanha que favorece a visão de que ele não se aproveita da máquina pública", explicou. 

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