O convite oficial e o anúncio de que o vereador de Vitória Nathan Medeiros (PSL) vai compor a chapa, como vice, ao lado do pré-candidato a prefeito da Capital Fabrício Gandini (Cidadania), em uma transmissão ao vivo pelas redes sociais, surpreendeu, na noite de terça-feira (26), os partidos que se articulam na cidade. Até integrantes do próprio Cidadania disseram não saber que a parceria seria selada, em público, tão rapidamente.
O prazo para a realização de convenções partidárias, quando as siglas definem os candidatos, ainda nem começou, vai de 31 de agosto a 16 de setembro. Mas se o anúncio foi antecipado, a aliança, em si, já era esperada pelos dirigentes. As articulações entre Gandini e Nathan estavam avançadas.
Nathan foi eleito vereador para a atual legislatura pelo PSB partido aliado historicamente ao Cidadania e, em 2019, foi secretário da Central de Serviços na prefeitura, administrada por Luciano Rezende (Cidadania). Neste ano, durante o período da janela partidária, o parlamentar migrou para o PSL, já com a intenção de ser candidato a vice-prefeito na chapa de Gandini.
Ele precisou sair do PSB para se viabilizar porque a sigla já trabalhava com a perspectiva de lançar candidato próprio à prefeitura, o atual vice-prefeito, Sérgio Sá. Na época, os dirigentes estaduais e municipais do PSB concordaram com a movimentação de Nathan.
Do ponto de vista ideológico, contudo, a ida dele para o PSL e, agora, o fechamento de aliança com um partido como o Cidadania, chama a atenção. Primeiro, por trocar o Partido Socialista Brasileiro (sigla de centro-esquerda) pelo Partido Social Liberal (sigla de direita, apesar da saída do presidente Jair Bolsonaro, de dois dos seus filhos e de outros bolsonaristas).
O PSL encabeçará chapa com o Cidadania, o antigo PPS, Partido Popular Socialista, que teve origem na esquerda clássica, como uma derivação do Partido Comunista Brasileiro (PCB). A sigla hoje ainda é tida como de centro-esquerda, e defende pautas progressistas.
A aliança do PSL com o Cidadania também pode ser relacionada a outro fato, do início deste ano. Até meados de fevereiro, o partido abrigava notórios opositores ao governo Casagrande, como o ex-deputado federal Carlos Manato (sem partido) e o deputado estadual Capitão Assumção (que migrou para Patriota).
Assumção, que já se posicionava como pré-candidato em Vitória, foi expulso do partido, em abril. A expulsão, no entanto, não foi conflituosa, teve mais ares de acordo.
O novo presidente da sigla, deputado Alexandre Quintino (PSL), é aliado do governador Renato Casagrande (PSB) e de Gandini e esse movimento foi considerado uma prova dos novos rumos que Quintino daria ao partido de direita no Estado.
Mesmo sem Bolsonaro, o PSL passou a ser um importante ator nas eleições de 2020 por conta do tempo de televisão e dos recursos de seu fundo de financiamento de campanha, já que tem direito à segunda maior quantia, entre os partidos. Esse foi um dos fatores que pesaram na composição da aliança, admitem integrantes do Cidadania.
O acordo foi costurado prioritariamente entre Gandini e Quintino, segundo um vereador. "Já sabíamos que Nathan seria possivelmente o candidato a vice, mas (o anúncio) nos surpreendeu, algumas pessoas consideraram precipitado. Isso se anuncia uma ou duas semanas antes do fim do prazo. Pode dificultar as conversas com os outros partidos, gerar ciúme", disse o parlamentar, que pediu para não ser identificado.
O presidente estadual do PSL, Alexandre Quintino, diz que o partido chegou a conversar com outras siglas, como PSDB, PSB e PP, mas que a decisão de fechar com o Cidadania foi tomada junto com o diretório municipal. Segundo ele, o acordo anunciado nesta semana será sacramentado na convenção.
Para ele, as diferenças ideológicas entre os dois partidos podem ser azeitadas. "Nenhuma coligação que estamos fechando está indo contra o que determinou a Executiva Nacional. Mas a nossa linha não é de defesa de uma ideologia extrema e, sim, de defender o que é necessário para o bem-estar da população de Vitória. Foi em função disso que surgiu esse alinhamento."
Questionado sobre como se dará a formulação dos programas da equipe, Quintino afirma que as bandeiras da direita também estarão presentes. "Buscaremos conciliar. E o fato de estarmos na vice não significa que estaremos concordando 100%. No que houver divergência, será debatido com diálogo. Temos o perfil de construção de pontes", pontuou.
A reportagem não conseguiu contato com Nathan. Em abril, ao se filiar ao PSL, ele declarou não ter identidade política nem de direita nem de esquerda. "Sou a favor da população. Então, independentemente de partido, tenho uma boa relação com o Quintino. Isso contou muito na minha decisão."
O pré-candidato Fabrício Gandini também foi procurado, mas não deu retorno até a publicação da reportagem.
O presidente do PSB de Vitória, Juarez Vieira, disse não ter sido surpreendido e que não esperava ter o PSL na coligação com o PSB, apesar da relação do governador com a sigla.
"O governador não interfere nessas questões partidárias nos municípios, pois a aliança dele é ampla", disse. Ele afirmou ainda que o partido já fechou com o PROS e o PMB para a chapa de Sérgio Sá e que conversas com outras forças continuam ocorrendo.
Para o presidente municipal do PP, Marcos Delmaestro, essa costura também já era esperada. O partido já declarou apoio à candidatura de Luiz Paulo Vellozo Lucas, pelo PSDB. "O PSL sempre esteve do lado de lá. Após a última campanha eleitoral, passou por uma transformação e temos percebido que as questões nacionais não têm interferido muito", afirmou.
Os nomes dos pré-candidatos foram fornecidos para a reportagem de A Gazeta pelos próprios partidos políticos.
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