A filiação do senador Fabiano Contarato (Rede) ao Partido dos Trabalhadores pode encontrar um entrave na articulação nacional que vem sendo feita entre o PT e o PSB a fim de fortalecer a candidatura do ex-presidente Lula em 2022.
Isso porque uma das condicionantes para Contarato integrar os quadros petistas, segundo interlocutores, é a garantia da legenda para disputar o governo no ano que vem, o que esbarra nos planos do PSB para reeleger o governador Renato Casagrande no Espírito Santo.
Assim, a candidatura do senador pode entrar na negociação entre as Executivas, já que, para obter apoio do PSB, o PT teria de abrir mão de ter candidatos próprios em alguns Estados, entre eles o Espírito Santo.
As amarras entre os partidos não esbarram apenas na possível filiação do senador, mas também na resistência que Casagrande tem demonstrado diante do nome de Lula. Casagrande é secretário-geral do PSB e defende abertamente a formação de uma terceira via para 2022. Nem Lula, nem Bolsonaro.
De saída da Rede, Fabiano Contarato é cobiçado por partidos mais alinhados à esquerda, entre eles o PT. Em maio, o senador participou de um encontro com Lula em Brasília e foi convidado para se filiar à legenda e disputar a eleição para o governo do Estado. Desde então, eles estão em negociação.
O parlamentar nunca escondeu a identificação com o partido e, apesar de não ter dito que iria aceitar o convite de Lula, deu sinais de que o PT poderia ser a nova casa. Recentemente, Contarato participou de cerimônias de filiação de aliados ao partido, como o ex-deputado estadual Roberto Carlos e Rafael Primo, que disputou a Prefeitura de Vila Velha pela Rede em 2018.
Mas com a articulação entre petistas e socialistas, que ganhou força com a chegada do governador do Maranhão, Flávio Dino, e do deputado federal Marcelo Freixo ao PSB, a situação tem sido analisada por Contarato com cautela.
Pessoas próximas ao senador afirmam que ele tem evitado falar sobre o assunto e aguarda uma posição do PT para tomar uma decisão. Caso a Executiva nacional opte por abrir mão de uma candidatura própria no Espírito Santo, é improvável que Contarato opte pelo PT.
“Contarato só viria para o PT agora se fosse para construir um projeto para o governo. Se não for dessa forma, ele vai evitar ter esse desgaste da imagem com a filiação, afinal ele tem mais quatro anos de mandato como senador”, comentou uma liderança do partido.
Por ser senador (cargo majoritário), Contarato não precisa esperar o período da janela partidária, de seis meses antes da eleição, para efetuar a troca partidária. Assim, ele pode mudar de partido a qualquer momento durante o mandato.
A análise de alguns interlocutores é que o senador poderia adiar uma filiação ao PT, evitando assim carregar o ônus de integrar um partido que ainda lida com alta rejeição, já que não teria o bônus de ser candidato ao governo. Isso, contudo, não impediria o parlamentar de estar no palanque de Lula e nem mesmo de apoiar a reeleição de Casagrande.
De acordo com a presidente do PT no Espírito Santo, Jackeline Rocha, a legenda constrói um movimento para candidatura própria no Espírito Santo, como aconteceu em 2014 e 2018, mas que está atenta às movimentações da Executiva nacional.
"O PT se movimenta para representar a classe trabalhadora desde 2014 no Espírito Santo e fará o que for preciso para construir um palanque para Lula", afirmou.
A articulação entre o PT e PSB encontra resistência de alguns membros do PSB, entre eles o governador Renato Casagrande, que já se manifestou favorável à construção de uma terceira via.
Recentemente, em entrevista para o Valor Econômico, o governador do Espírito Santo garantiu que o endosso à pré-candidatura do petista, feito pelos novos filiados do PSB, Dino e Freixo, "não é uma posição nacional".
Casagrande também declarou, em entrevista para o Estadão, que as conversas com Ciro Gomes (PDT), que deve disputar a Presidência da República, não podem ser descartadas. No entanto, em um cenário em que o PSB não faça uma aliança com o PT, um dos maiores prejudicados pode ser o próprio socialista.
Na avaliação de algumas lideranças, com espaço para uma candidatura própria e tendo o nome de Contarato para ser lançado, o PT "abocanharia" votos da esquerda que seriam destinados a Casagrande.
"Poderia ser uma situação complicada, por essa questão de divisão de votos entre eleitores, mas cada eleição é diferente. A gente teria que esperar as pesquisas lá na frente para ver isso. Mas não acho que vamos ver um embate nesse sentido", afirma o presidente estadual do PSB, Alberto Gavini.
Gavini avalia que o alinhamento entre PSB e PT se dá em um cenário que se mostra cada vez mais difícil a construção de uma terceira via, mas pontua que, caso haja a aliança, Casagrande não deve subir no palanque de Lula.
“Acho difícil construir uma terceira via com tão pouco tempo. Sou a favor das forças progressistas estarem juntas em 2022 e apoiar o candidato mais forte. Entendo a posição de Renato [Casagrande], que, antes de mais nada, é contra a reeleição de Bolsonaro. Mas pode ser que não queira subir no palanque de Lula.", pontuou.
Procurado pela reportagem, o senador Fabiano Contarato disse que ainda não decidiu a qual partido vai se filiar e que, por isso, não falaria a respeito do assunto.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta