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'Apanho da direita e da esquerda', diz Rigoni, após presidir votação do Fundeb

"Apanho da direita e da esquerda", diz Rigoni, após presidir votação do Fundeb

'Homenageado' por Maia, que o colocou para presidir a votação do Fundeb, Rigoni tem se aproximado do presidente da Casa. Parlamentar conta que por ser liberal e fazer críticas a Bolsonaro, se tornou alvo da direita e da esquerda

Publicado em 22 de julho de 2020 às 18:35

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O resultado da votação em primeiro turno da nova proposta do Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), aprovada na última terça-feira (22) foi proclamado pelo deputado federal Felipe Rigoni (PSB). A convite do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), Rigoni presidiu o fim da sessão em que os parlamentares aprovaram a nova proposta. O segundo turno foi presidido pela deputada federal Tábata Amaral (PDT-SP).

A "homenagem" de Maia foi pela articulação dos dois parlamentares na construção do relatório. São deles as propostas para dar uma contribuição adicional para municípios que evoluírem seus índices educacionais, e a criação de mecanismos de transparência para a fiscalização do uso do Fundeb. Ambas aprovadas pela Casa.

Não foi a primeira vez que um parlamentar capixaba sentou na cadeira de presidente da Câmara. Na gestão de Eduardo Cunha (MDB), entre 2015 e 2016, o ex-deputado federal Carlos Manato (sem partido), por exemplo, enquanto secretário suplente, abriu algumas sessões. Contudo, o gesto de Maia mostrou certa confiança que ele tem dado ao deputado na condução de alguns temas.

Rigoni também ficou encarregado de aprimorar o texto da Lei das Fake News, que visa coibir campanhas de desinformação na internet. A proposta aprovada no Senado, em junho, que o deputado ajudou a construir, foi criticada por especialistas, por defender a identificação de usuários e coleta de dados em massa. Para muitos, o texto inicial fere a liberdade de expressão.

"Vamos evoluir o texto para que ele seja um protetor da liberdade de expressão e punir a desinformação feita em laboratório, de pessoas que se profissionalizam para espalhar mentiras", contou.

Eleito pelo PSB, o parlamentar briga na Justiça para deixar o partido, por entender que seu perfil “bem liberal”, como ele mesmo define, não cabe na sigla. Apesar disso, ele diz ter boa relação com o governador Renato Casagrande (PSB) e com a bancada do partido.

Crítico do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), mas defensor da agenda econômica liberal, o deputado conta ser atacado "por pessoas de esquerda e de direita". Rigoni também admite não ter grupo político bem definido no Espírito Santo, mas prepara o lançamento de candidatos nas eleições de 2020, sobretudo para o cargo de vereadores.

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Farei uma mentoria para ajudar esses candidatos. Queremos formar um novo grupo político no Espírito Santo, com pessoas que defendam uma economia liberal, sem se descuidar das questões sociais

Felipe Rigoni (PSB)
Deputado federal
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ENTREVISTA

Felipe Rigoni, sentado na cadeira de presidente da Câmara, auxiliado pelo atual presidente da Casa, Rodrigo Maia
Felipe Rigoni, sentado na cadeira de presidente da Câmara, auxiliado pelo atual presidente da Casa, Rodrigo Maia. (Maryanna Oliveira/Câmara dos Deputados)

A Câmara aprovou o novo Fundeb, ampliando recursos e a participação da União na educação básica pública. Se aprovada no Senado, a proposta é suficiente para garantir uma educação de melhor qualidade?

  • Agora teremos um desafio maior, depois de passar no Senado, que será a regulamentação dele, quando iremos definir o cálculo dessa distribuição. Mas sobre a eficiência, eu acredito que é importante ter professores bem pagos, ter boa estrutura nas escolas, mas no final das contas, o resultado principal é o desempenho do aluno. Por isso, propus a necessidade de medir o resultado de aprendizado. A ideia é que os municípios que apresentarem uma evolução, comparando com o índice que tinham anteriormente, possam receber mais recursos. Isso estimula uma grande melhoria nos resultados educacionais.

Você foi um grande crítico dos últimos ministros da Educação (Velez e Weintraub). Como avalia o perfil novo ministro, Milton Ribeiro?

  • Um avanço em relação aos antecessores é que ele já tem uma experiência de gestão de universidade. Ele me parece alguém equilibrado. A ideologização exagerada, o radicalismo e o comportamento de conflito eram um problema do ministério. O que ele não pode fazer é induzir a crença religiosa dele em torno da educação do Brasil.

O senhor ajudou a construir o projeto que ficou conhecido como a Lei das Fake News, que recebeu muitas críticas. Como avalia essas críticas e em quais pontos acredita que o projeto pode evoluir?

  • A maioria das pessoas que criticaram demonstraram medo da proposta ser uma censura, e é um medo que eu também tenho, e de que tivesse alguém que defina o que é desinformação e o que não é. Isso não está no texto. Ninguém vai ficar monitorando o que as pessoas postam, se é verdade ou não é. Não vamos lidar com o conteúdo. O que precisamos avaliar é o comportamento, não o conteúdo. Nós vamos tentar identificar se existem organizações criminosas por trás de um ataque. O problema não é um post com informação falsa feita por uma pessoa comum. O que gera distorção são os posts feitos em laboratório, com pessoas bem pagas que ficam ali desenhando desinformação ou ataque a outras instituições de maneira profissional. Não é orgânico. A evolução que queremos é a identificação dos robôs e dessas organizações, além de algumas sugestões para melhorar a questão penal, de modo que possamos enquadrar quem produz esse conteúdo malicioso.

Após ser alvo de ataques de ódio nas redes, como lida com isso?

  • Eu não sou crítico ao governo, eu cobro o que eu acho que não está correto e ajudo o que acho que está correto. O que isso causa? Tem sempre algum grupo ali na rede social me batendo, seja ligado ao governo, seja ligado à oposição. Estou sempre sofrendo alguma crítica específica.

O governo enviou ao Congresso a sua proposta de reforma tributária, unificando alguns impostos. Como avalia essa proposta?

  • Ela está no caminho correto, mas chega atrasada e faltando coisas. A simplificação do PIS/Cofins já é ótima, já alivia um problema. A questão é que para fazer isso, eles mantiveram desonerações, mantendo a base de tributação, e a consequência disso é uma alíquota alta. Se só aprovar isso, o imposto sobre serviço vai aumentar muito. Por isso, acho que o importante é fazer uma reforma completa, aumentando a base de tributação, colocando mais produtos e serviços tributados, o que pode deixar a alíquota menor. É preciso fazer uma reforma completa, nos impostos sobre a folha de pagamento, na renda e no patrimônio. É difícil, mas é melhor fazer de uma vez do que aos poucos.

Como tem se articulado para as eleições desse ano?

  • Estou estudando mais de 70 candidatos, a maioria para o cargo de vereador, poucos a prefeito. Porque vou fazer uma espécie de mentoria com eles, caso estejam alinhados com o que eu penso, para ajudá-los a promover a responsabilidade fiscal com a responsabilidade social. Precisamos de um grupo sólido com esse pensamento no Estado. São pessoas da última turma do RenovaBR e do Acredito (que Rigoni fez parte), mas também são pessoas que conhecemos na nossa atuação política.

Em relação ao PSB, o TSE julga o seu pedido para deixar, por justa causa, o partido. O parecer do relator foi contrário ao seu pedido. Houve alguma mudança na relação do senhor com o partido?

  • Tenho uma boa relação com o PSB, especialmente aqui no Estado. Tenho boa relação com a bancada do PSB, mas a visão que eu tenho, economicamente bem liberal, não cabe no partido. Tenho relação boa com o governador, não concordo com absolutamente tudo, mas vejo muitos acertos.

O senhor tem se movimentado muito no Congresso Nacional, mas, no Estado, não se articula tanto, politicamente, em termos de estar presente em um grupo político local. Como avalia isso?

  • Não acho que me articulo pouco, só não estou 100% alinhado com um grupo ainda. Mas existem grupos próximos do que eu penso, como o próprio Renato (Casagrande). Como não tem grupos que pensam como eu, bem liberal economicamente e tem uma pegada social relevante, eu vou formar esse grupo com outras pessoas no Estado. Acho que podemos ser relevantes em um futuro próximo.

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