Em uma disputa voto a voto, com direito a alternância entre as chapas lideradas pela ex-senadora Rose de Freitas e pelo ex-deputado federal Lelo Coimbra na liderança, a eleição para o diretório do MDB no Espírito Santo terminou empatada. A apuração foi marcada por um clima de tensão e, depois do resultado inesperado, os dois ex-parlamentares acertaram, em conversa rápida, diante dos convencionais e da imprensa, usar os cinco dias previstos no estatuto do partido para definir como ficará a composição da comissão executiva estadual, incluindo o posto de presidente da sigla.
A dúvida agora é se a união e paz pregadas pelas duas chapas que disputaram a convenção estadual do MDB nesta quinta-feira (21) vão reinar durante essas conversas entre Lelo e Rose, já que o processo eleitoral foi marcado por desavenças entre os grupos liderados pelos dois.
Em muitos momentos a situação se repetiu, durante a votação e na apuração do resultado, com pessoas ligadas a Rose gritando o nome dela para motivá-la e aliados de Lelo questionando todos os pontos relacionados ao pleito e qualquer mínimo detalhe relativo ao processo eleitoral.
Assim que os dois ex-parlamentares concluíram a conversa, os delegados que apoiavam Rose pediram para que ela assumisse imediamente o comando do partido, criando um clima até constrangedor entre eles.
"Eu quero que o presidente nacional arbitre essa questão, em cinco dias, que use esse tempo regimental para conversarmos e nos entendermos", anunciou Rose, ao microfone.
Em tese, duas eleições seriam realizadas pelos emedebistas nesta quinta-feira: primeiramente, os delegados votariam para eleger os membros do diretório estadual do partido. Depois disso, os membros eleitos para o diretório estadual escolheriam, imediatamente, a comissão executiva estadual, formada por 13 titulares e quatro suplentes, ou poderiam fazê-lo em até cinco dias, conforme prevê o estatuto.
A executiva estadual é composta por um presidente, três vices, um secretário-geral, um secretário-adjunto, dois tesoureiros e quatro vogais, além do líder da bancada do partido na Assembleia Legislativa, algo inexistente no momento, já que o MDB não elegeu nenhum representante nas eleições de 2022.
Mesmo que houvesse uma chapa vencedora, a composição do diretório teria membros das duas que concorreram, proporcionalmente à votação obtida, bastando superar 20% dos votos dos convencionais. O diretório estadual do MDB tem 71 membros titulares e, como houve empate na eleição, cada chapa tem direito a 50% dos componentes. Porém, sobra uma vaga e é aí que começa o impasse.
Ao final da apuração, Rose chegou a dizer que, por ser a mais velha entre os dois, ela seria eleita, já que tem cinco anos a mais que Lelo — ela tem 74, e ele, 69. Porém, disse que não usaria esse critério e preferia que eles conversassem juntos com a direção nacional para, talvez, chegarem a uma composição de consenso, como havia proposto antes da eleição ao ex-deputado, segundo Rose.
Contudo, esse critério de desempate por idade, mencionado pela ex-senadora, não consta no estatuto do MDB. Há, no regimento da sigla, previsão para que o membro titular mais idoso do diretório estadual presida as reuniões do colegiado destinadas à eleição das comissões executivas.
Alguns filiados presentes citaram a possibilidade de o servidor aposentado José Maria Pimenta, de 76 anos, comandar o diretório até a escolha da comissão executiva, mas a convenção foi encerrada sem que houvesse uma posição clara sobre o assunto. Pimenta compôs a chapa de Lelo, mas garantiu que, se for preciso, está preparado para assumir esse papel de condutor do diretório até haver uma definição entre Rose e o ex-deputado e a formação da nova comissão executiva.
Questionados se aceitam unir as duas chapas para que um deles assuma a presidência e o outro fique com a vice-presidência da legenda, Lelo respondeu que "tudo é possível", enquanto Rose disse que "não vai chegar nessa possibilidade", de o ex-deputado ficar com a presidência e ela com a vice. Depois, afirmou que ia plagear Lelo: "tudo é possível".
"Eu procurei o tempo todo entendimento. Não consegui, nem no último dia. Agora, nesse momento, há uma demonstração inequívoca de que o partido está dividido. Falaram que o partido acabou, mas está aí a prova de que o MDB não acabou", frisou a ex-senadora.
Lelo ressaltou que vai conversar com Rose ao longo dos próximos dias e o papel da direção nacional, principalmente do presidente nacional do partido, deputado federal Baleia Rossi (SP), será arbitrar um acordo entre eles.
"Eu falei que agora nós temos uma situação de fato, que é o partido dividido ao meio exatamente. É muito difícil, não foi fácil (o processo eleitoral), então nós precisamos dar uma nova forma a essa conversa", comentou o ex-deputado.
A eleição para o diretório estadual do MDB teve computados os votos de 54 delegados, dos 58 aptos, e o placar terminou com 27 para cada chapa. A apuração aconteceu na tarde desta quinta-feira (21), no cerimonial Oásis, em Santa Lúcia, Vitória.
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