Enquanto durante as eleições o então candidato a vice-presidente, general Hamilton Mourão (PRTB), deu declarações que geraram tensão. Eram vistas como pouco republicanas, agressivas, conservadoras e que precisavam ser corrigidas publicamente pela coordenação da campanha. Assim que a gestão Jair Bolsonaro (PSL) teve início, em janeiro, Mourão passou a se colocar como uma voz moderada dentro do governo.
Quase cinco meses depois, inclusive, o saldo é de constantes contrapontos de Mourão a Bolsonaro nos mais diversos assuntos, e o presidente, por sua vez, reagiu endossando especulações sobre os interesses do vice. As estruturas de comunicação da Vice e da Presidência, que ainda são apartadas, podem ser integradas para evitar os mal-entendidos.
Veja o que mudou na conduta de Mourão antes e depois da posse:
NA CAMPANHA DE 2018
06/08
Durante evento da Câmara de Indústria e Comércio de Caxias do Sul (RS):
"Temos uma herança cultural, uma herança que tem muita gente que gosta do privilégio (...) Essa herança do privilégio é uma herança ibérica. Temos uma certa herança da indolência, que vem da cultura indígena. Eu sou indígena. Meu pai é amazonense. E a malandragem (...) é oriunda do africano", afirmou. "Então, esse é o nosso cadinho cultural. Infelizmente gostamos de mártires, líderes populistas e dos macunaímas."
08/09
Quando entrevistado na Central das Eleições da GloboNews, Mourão admitiu hipótese de "autogolpe" do presidente:
13/09
Em agenda de Curitiba, afirmou ao "Estado de S.Paulo":
"Uma Constituição não precisa ser feita por eleitos pelo povo. Já tivemos vários tipos de Constituição que vigoraram sem ter passado pelo Congresso eleitos. A elaboração da Constituição brasileira, de 1988, por parlamentares eleitos, foi um erro, e a nova Carta deveria ser criada por grandes juristas e constitucionalistas."
Para a plateia do evento, com cerca de 500 pessoas, disse ainda:
"Deve haver uma mudança de postura em relação à valorização de policiais e de políticas de segurança pública, e direitos humanos têm que servir para humanos direitos e não para marginais".
17/09
Em evento do Sindicato da Habitação (Secovi), em São Paulo:
"Família sempre foi o núcleo central. A partir do momento que a família é dissociada, surgem os problemas sociais que estamos vivendo e atacam eminentemente nas áreas carentes, onde não há pai nem avô, é mãe e avó. E por isso torna-se realmente uma fábrica de elementos desajustados e que tendem a ingressar em narcoquadrilhas que afetam nosso país"
26/09
Durante palestra na Câmara de Dirigentes Lojistas de Uruguaiana (RS):
"Temos algumas jabuticabas que a gente sabe que é uma mochila nas costas de todo empresário. Jabuticabas brasileiras: 13º salário. Se a gente arrecada 12 (meses), como é que nós pagamos 13? É complicado. E é o único lugar em que a pessoa entra de férias e ganha mais, é aqui no Brasil".
EM 2019
23/01
Mourão, no Twitter, agradece à dedicação de jornalistas.
25/01
Sobre a renúncia de Jean Wyllys (PSOL), dizendo que deixou o país, falou em entrevista:
"Quem ameaça parlamentar, está cometendo um crime contra a democracia. Uma das coisas mais importantes é ter sua opinião e ter a liberdade para expressar sua opinião. Os parlamentares estão ali, eleitos pelo voto, representam os cidadãos que votaram nele. Quer você goste, quer você não goste das ideias do cara, você ouve. Se gostou, bate palma. Se não gostou, paciência."
29/01
Em entrevista à "Folha de S. Paulo", como presidente interino, sobre a presença de Lula em velório de irmão:
"É uma questão humanitária. Perder um irmão é sempre uma coisa triste. Eu já perdi o meu e sei como é que é".
01/02
Em entrevista ao jornal "O Globo":
"A questão do aborto também é algo que tem que ser bem discutido, porque você tem aquele aborto onde a pessoa foi estuprada, ou a pessoa não tem condições de manter aquele filho. Então talvez aí a mulher teria que ter a liberdade de chegar e dizer preciso fazer um aborto. (...) Minha opinião como cidadão, não como membro do governo, é de que se trata de uma decisão da pessoa".
25/02
Na reunião do Grupo de Lima, em Bogotá, na Colômbia:
Durante seu pronunciamento, feito todo em espanhol, Mourão rechaçou qualquer apoio do Brasil a uma intervenção militar na Venezuela, como o governo dos Estados Unidos sugeriu em mais de uma ocasião.
13/03
Massacre de escola em Suzano
Enquanto o presidente Bolsonaro demorou seis horas para se manifestar sobre o massacre na escola de Suzano (SP), Mourão se antecipou, e duas horas depois do crime, publicou no Twitter.
08/04
No Brazil Conference, evento organizado por estudantes brasileiros das universidades de Harvard e do MIT, sobre o sistema prisional:
"Como é que eu vou educar uma pessoa se jogo em uma prisão que é uma masmorra, sem ter atividade laboral, sem ter progressão educacional?", indagou, sob aplausos. Mourão também chegou a dizer que as prisões eram como "colônias de férias" do crime organizado.
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