Após o fim da janela de troca de partidos, concluída em abril, o PSB e o Republicanos passaram a ser as siglas com o maior número de vereadores filiados no Espírito Santo. O posto, que antes estava com o PDT, agora pertence aos socialistas, com 117 vereadores filiados, 47 a mais do que elegeram em 2016. Já o Republicanos saltou da 20ª posição no ranking, com 20 vereadores, para a vice-liderança, com 83 parlamentares nas Câmaras.
O levantamento foi feito por A Gazeta a partir da atualização dos dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) após a janela partidária, único período durante os quatro anos de mandato dos vereadores em que eles ficam livres para mudar de partido, sem correr o risco de perder o cargo. Na nova composição das Câmaras, o PSB e o Republicanos contam com 200 vereadores. Sozinhas, as legendas têm quase um quarto dos 856 parlamentares capixabas filiados a elas.
As siglas estão representadas em 71 dos 78 municípios capixabas. O PSB tem filiados no Legislativo de 61 cidades, enquanto o Republicanos, agora, está presente em 41.
A certa distância deles está o PSDB, terceiro colocado no ranking, com os mesmos 67 vereadores que elegeu no Estado em 2016. O PDT, que havia sido o partido que mais elegeu candidatos em 2016, com 74 cadeiras nas Câmaras, agora conta com 60 e é o quarto na classificação.
A liderança dos dois partidos em número de vereadores não é por acaso. Em 2019, logo depois da eleição para o governo estadual, Câmara dos Deputados e Assembleia Legislativa, dirigentes das siglas passaram a percorrer o interior do Estado e se aproximar dos vereadores em mandato e também dos prefeitos. Levantamento feito por A Gazeta mostra que os dois partidos estão entre os que lideram também as filiações dos chefes dos Executivos municipais.
Presidente estadual do PSB, Alberto Gavini diz que o objetivo era dar maior "capilaridade" ao partido, já que, muitas vezes, os vereadores são os políticos mais próximos do eleitor. Para ele, bons resultados eleitorais em 2022, quando os eleitores votam de novo para presidente, governador, senador, deputado federal e deputado estadual, passa por uma boa atuação nas eleições de 2020.
"Nosso partido tem uma posição ideológica muito clara, de oposição ao presidente Jair Bolsonaro e de mover a economia sem se descuidar das questões sociais. Por isso, é importantíssimo ter, na ponta, pessoas que possam conduzir melhor as formações políticas nos municípios", afirmou Gavini.
Sob nova direção desde o final de 2017, o Republicanos é comandado pelo quarteto formado pelo presidente da Assembleia, Erick Musso; pelo deputado estadual Hudson Leal; pelo deputado federal Amaro Neto e pelo diretor-geral da Assembleia Legislativa, Roberto Carneiro.
A presidência da agremiação é feita por Carneiro, que afirma que, desde que assumiu, a meta do partido é montar um grupo forte na política capixaba, formado por políticos novos, que começaram a construir carreira nos Poderes há pouco tempo.
"Começamos uma construção a longo prazo, de formar lideranças mais jovens, não necessariamente de idade, mas de pessoas que estão iniciando na vida política. É uma forma de acompanhar as mudanças que o eleitorado vem pedindo. Mas quanto maior é quantidade, maior é a divergência de ideias. Por isso, tentamos construir quadros com qualidade, fazendo formações e consolidando nossas propostas. O número é uma consequência, não o objetivo principal", disse Carneiro.
Para o cientista político João Gualberto Vasconcellos, os dois partidos representam no atual quadro capixaba as duas principais forças no Estado. O PSB, capitaneado pelo governador Renato Casagrande, ocupa duas das dez cadeiras da bancada capixaba federal apesar de o deputado federal Felipe Rigoni lutar na Justiça para deixar a sigla e é um dos partidos com mais deputados na Assembleia Legislativa, com três parlamentares: Dary Pagung, Bruno Lamas e Sergio Majeski. Além disso, comandam 13 prefeituras.
Já o Republicanos, conta com o presidente da Assembleia, Erick Musso; o deputado federal Amaro Neto; os deputados estaduais Lorenzo Pazolini e Hudson Leal; além de sete prefeitos. O crescimento acelerado do partido, na análise do colunista Vitor Vogas, fortalece a sigla para as eleições municipais deste ano.
Os dois partidos, contudo, não fazem oposição um ao outro, pelo menos por enquanto. Com exceção do novo filiado, Pazolini, que tem feito críticas mais sistemáticas ao governador no Legislativo estadual, o partido, em si, não é o aliado mais próximo, mas está junto do governo estadual. Para Vasconcelos, o Republicanos, por conta do tamanho que vem assumindo, deverá fazer uma escolha em 2022, que pode ser um rompimento com o PSB de Casagrande ou uma composição com ele para disputar uma vaga no Senado.
"Com a saída de Paulo Hartung da disputa política, o Republicanos acabou sendo o partido que acolheu as pessoas que não queriam estar com o Renato. Por enquanto, eles e o PSB trabalham em cooperação. Ninguém está falando em candidatura em 2022, mas lá na frente eles terão que se posicionar. Poderão enfrentar o governo ou se alinhar a ele. Mas não é a hora mais adequada para fazer esse rompimento, para nenhum dos dois lados", avaliou.
Além das duas forças partidárias, outro fator que motivou trocas de sigla no início de 2020 foi a atração de vereadores que se alinharam aos prefeitos das cidades. Dos 78 municípios, em 31 deles o chefe do Executivo atraiu mais candidatos para o seu partido, aumentando o número de parlamentares aliados que tinha na eleição de 2016.
O levantamento mostra que 70% dos vereadores eleitos foram para outros partidos para a disputa de 2020. Vale lembrar que a eleição deste ano não terá coligação de chapas. Ou seja, ganha mais vagas os partidos que sozinhos tiverem mais votos. Para Vasconcelos, isso pode ter contribuído para o alto percentual de mudanças de siglas.
"De certa forma, é um movimento natural essa migração de filiados para quem está com a máquina na mão. Faz parte da política. Isso ocorre muitas vezes de maneira aritmética, ou seja, o sujeito muda de partido por uma questão de contagem de votos e possibilidade de se eleger, e não por questões ideológicas. Dentro da chapa do prefeito, eles podem ter mais abrigo. Os prefeitos também fortalecem esse movimento, pois ter uma boa chapa de vereadores também os ajudam a conquistar mais votos", explicou.
Veja no mapa abaixo os números de filiados nos partidos do prefeito de cada cidade. Clique em cima do município para verificar as informações.
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