A operação Freeloader da Polícia Federal revelou suspeitas de um esquema para desviar recursos do Fundo Eleitoral envolvendo, supostamente, o vice-prefeito da Serra, Thiago Carreiro, e a ex-deputada estadual Lúcia Dornelas. Mas as investigações atingem mais agentes. Estão na mira das autoridades sete pessoas físicas e uma pessoa jurídica, ao todo. Na manhã da última quinta-feira (8), foram cumpridos nove mandados de busca e apreensão contra os investigados, inclusive na prefeitura.
As apurações começaram após uma das empresas que realizavam o marketing eleitoral de Carreiro a deputado federal, em 2022, entrar na Justiça por quebra de contrato, revelando possíveis irregularidades na negociação. Paralelamente, o político contratou três coordenadores de campanha com indícios de superfaturamento, segundo as autoridades. O valor pago aos assessores chega a R$ 60 mil — 1.200% acima da média, comparado com outras campanhas do mesmo período, revela a PF, com base em dados do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).
Também foi identificada a contratação da LD Consultoria em Gestão, de Dornellas, sem que houvesse a prestação de serviços de marketing político, conforme decisão judicial obtida pela colunista de A Gazeta Leticia Gonçalves. Duas outras pessoas teriam participado da operação financeira feita à empresa, além de outras cinco firmas de educação, informática e até de odontologia, com intuito de ocultar os recursos.
Em coletiva às autoridades explicaram, como supostamente o recurso era desviado. Confira no vídeo a baixo:
O delegado federal Fernando Amorim ainda contou que as pessoas contratadas não tinham experiência nas áreas que supostamente iriam atuar. “A gente chamou essas pessoas e nenhuma tinha preparo especial. Nenhuma conhecia até a função que ela deveria ter exercido. Só recebiam esses valores”, esclarece, sem revelar o nome dos contratados.
Segundo documento da Justiça, teriam recebido os valores superfaturados as seguintes pessoas:
Rafaela e Raissa, de acordo com o documento expedido pela Justiça, antes de entrarem para a campanha, exerciam funções comissionadas no gabinete do vice-prefeito da Serra. No DivulgaCand, mostra a decisão, as duas foram contratadas para trabalhar como coordenadoras de campanha e financeira, respectivamente. No entanto outra pessoa exercia a coordenação geral e recebia, por isso, o valor de R$ 35 mil. Foi identificado ainda pagamento de R$ 36,6 mil para Ivanilson dos Santos Queiroz por coordenação de equipe de rua.
Na decisão, a Justiça explica a existência de evidências de que as contratações ocorreram com o intuito de criar despesas eleitorais fictícias e de se apropriar dos valores do Fundo Eleitoral.
Em relação à LD Consultoria em Gestão, de Lúcia Dornellas, documento judicial mostra que houve o pagamento de R$ 225 mil com a suspeita de não ter ocorrido qualquer execução de serviço. Para esconder as possíveis irregularidades e fazer a lavagem de dinheiro, explica a Justiça, o esquema teria contato com o envolvimento de:
As autoridades apuram que a LD foi criada para facilitar um esquema de caixa 2 da campanha de Carreiro. O vice-prefeito e a ex-deputada teriam, de acordo com a polícia, acordado a fraude.
Sem ser investigada na operação de quinta-feira, outra empresa exerceu os serviços de marketing para Carreiro, recebendo por isso R$ 216,5 mil. Apesar de as atividades teriam sido realmente cumpridas, as partes combinaram que a última parcela do contrato seria paga ''por fora'', ou seja, sem informar os gastos à Justiça Eleitoral. Entretanto, o político não pagou o valor combinado, o que levou a agência a processar o candidato.
A negociação para o pagamento da última prestação na informalidade foi considerada irregular e deu início às investigações, que encontraram a LD prestando o mesmo serviço que a anterior, levantando a suspeita de um contrato de fachada para o desvios dos recursos eleitorais.
O delegado da Polícia Federal Fernando Amorim contou que, ao serem interrogados, nenhum dos funcionários que efetivamente atuaram na campanha sabia sobre a contratação da empresa de Dornellas.
"Ele (vice-prefeito) contratou uma empresa, e a própria assessoria de campanha não sabe o que essa empresa fez, ou seja, foi um acerto entre essa empresa e esse candidato. Foi pago um valor altíssimo, R$ 225 mil. Esse dinheiro, provavelmente, voltou para esse candidato ou para outra pessoa, e a gente tem que descobrir quem foi o destinatário final", afirma o delegado.
A assessoria da dona da LD se pronunciou afirmando que “Lúcia Dornellas prestou serviço para a referida campanha eleitoral, com emissão de nota fiscal e todas as formalidades necessárias - à luz da Justiça Eleitoral e da Receita Federal”.
Já a defesa do vice-prefeito Thiago Carreiro informou à coluna da Letícia Gonçalves que ele estaria sofrendo perseguição política. “Sem nenhuma surpresa, recebi hoje uma visita da Polícia Federal para apurar uma denúncia feita durante as eleições de 2022. A perseguição política que venho sofrendo desde quando me posicionei contra projetos pessoais de poder na Serra aumenta em mais um nível e a uma semana das eleições."
Foram procurados Rafael Viganor da Silva, Daniella de Bortolli Salles, Rafaela de Araújo Silva, Rarissa Moura dos Santos e Ivanilson dos Santos Queiroz. Mas não atenderam à reportagem. O espaço está aberto para a defesa deles para esclarecimentos.
A primeira versão da reportagem citava o nome de Luiz Fernando Belmonte Mestre pelo recebimento do valor de R$ 35 mil, segundo investigações da Polícia Federal. Ele é citado na decisão judicial como um dos coordenadores da campanha e pelo recebimento de R$ 35 mil, mas o texto não o caracteriza como um dos suspeitos de receber valores superfaturados. Luiz Fernando também não foi alvo de busca e apreensão. Diante disso, o texto foi corrigido.
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