Para a CPI da Covid no Senado Federal, a companhia aérea Azul informou que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ficou sete segundos sem máscara dentro do avião comercial da empresa que estava no Aeroporto de Vitória no último dia 11 de junho. Durante visita ao Espírito Santo, o chefe do Executivo federal entrou na aeronave, onde tirou fotos com tripulantes e passageiros e escutou gritos em apoio e contrários a ele.
As informações são de documento sigiloso enviado para a comissão, ao qual o site R7 obteve acesso. O requerimento de esclarecimento foi feito pelo senador Humberto Costa (PT-PE) e aprovado pela CPI no dia 16 de junho.
"Nota-se, pelo vídeo veiculado na mídia, que o presidente da República adentrou a aeronave fazendo uso correto da máscara e permaneceu na maior parte da visita utilizando-a corretamente, mas em um momento a retirou, o que durou um total de sete segundos, voltando a colocá-la logo na sequência, ocasião em que a tripulação estava pronta para orientá-lo acerca de sua correta utilização, caso o evento tivesse se estendido por tempo maior, conforme procedimento padrão em todos os voos", informou a Azul no documento.
A companhia aérea comparou o período de retirada da máscara pelo presidente ao tempo que é permitido a passageiros ficarem sem o equipamento de proteção usado durante a pandemia de Covid-19 para beber água ou se alimentar.
"A Azul salienta que o episódio sobre o uso incorreto da máscara teve uma duração mínima, sendo que até poderia se comparar às exceções temporárias ao uso de máscara, como por exemplo, a possibilidade de hidratação ou alimentação de idosos e viajantes que sejam portadores de doenças que requeiram dieta especial", disse.
No momento em que Bolsonaro entrou no avião, alguns passageiros gritaram "fora, Bolsonaro" e "genocida". Em resposta, o presidente disse que os críticos deveriam estar andando em jegues. "Vocês estão bem hoje, hein? Quem fala 'fora, Bolsonaro' devia estar viajando de jegue, não de avião. É ou não é? Para ser solidário ao candidato deles", afirmou, após retirar a máscara que utilizou no restante do tempo dentro da aeronave. Também ouviu gritos de "mito", em apoio a ele.
Também para a CPI, a empresa informou que a entrada de Bolsonaro no avião foi autorizada pelo comandante. No documento, a Azul não menciona o nome do funcionário.
A companhia aérea relatou ainda que, após a ocorrência, "os fatos e as evidências passaram a ser cautelosa e minuciosamente analisados, mediante entrevista dos tripulantes e terceiros envolvidos, revisão de imagens e vídeos, justamente para entender os detalhes da situação, uma vez que não foi uma situação planejada pela companhia".
A Azul disse também que o comandante da aeronave estava usando máscara de forma adequada, mas, diante de Bolsonaro, "deixou de conter o ímpeto de manter-se com a máscara no momento em que tirou uma foto".
Sobre as providências adotadas em relação ao caso e as responsabilidades da tripulação, a companhia afirmou que todos foram novamente orientados acerca da obrigatoriedade do uso adequado das máscaras faciais no interior dos terminais aeroportuários e da própria aeronave.
Disse também que foram "aplicadas as medidas disciplinares cabíveis à copiloto e ao comandante do referido voo, proporcionais às responsabilidades, conforme políticas internas". A companhia rechaçou o não uso da máscara, mas disse ser um fato "totalmente isolado".
A reportagem do R7 procurou a Azul, que informou que não fará nenhum comentário adicional além do que já foi respondido à CPI.
Nesta terça-feira (29), a Câmara dos Deputados discutiu a entrada do Bolsonaro no avião em Vitória durante audiência pública virtual conjunta da Comissão de Seguridade Social e Família e da Comissão Externa de Enfrentamento à Covid-19, com participação da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) e as agências nacionais de vigilância sanitária e de aviação civil, Anvisa e Anac, respectivamente. A Azul foi convidada para a reunião, mas não enviou representante.
O gerente-geral de Portos, Aeroportos e Fronteiras da Anvisa, Nélio de Aquino, afirmou que tanto a empresa aérea quando a administradora do aeroporto foram notificadas.
"Nós abrimos um processo administrativo sanitário. Elas já foram autuadas: a Azul por permitir a aglomeração de pessoas no interior da aeronave sem o correto uso de EPI, no caso, a máscara de proteção facial; e a administradora do aeroporto por permitir a aglomeração em área de check-in sem a correta utilização de EPIs. Esse processo segue o rito legal, então existe a possibilidade de a companhia apresentar esclarecimentos e depois haverá o julgamento em que se define a pena", explicou.
A Anac também investiga o caso por meio de processo administrativo com foco nos riscos à segurança da aviação civil.
Com informações da Agência Câmara de Notícias.
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