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Bolsonaro diz que reservas indígenas buscam 'inviabilizar' Brasil

Bolsonaro diz que reservas indígenas buscam "inviabilizar" Brasil

A expectativa inicial do encontro promovido no Palácio do Planalto era de discutir políticas para evitar novos incêndios criminosos na Amazônia

Publicado em 27 de agosto de 2019 às 19:03

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Jair Bolsonaro, presidente da República. (Isac Nóbrega/PR)

Em meio a uma crise ambiental, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) colocou em segundo plano a série de queimadas pelo país e priorizou ataques a reservas indígenas em reunião nesta terça-feira (27) com governadores da Amazônia Legal.

No encontro, promovido no Palácio do Planalto, ele fez questão de questionar a cada autoridade estadual o percentual de reservas indígenas nos estados e chamou de "irresponsabilidade" a política de demarcação adotada por governos anteriores.

"A Amazônia foi usada politicamente desde o [presidente Fernando] Collor para cá", disse. "Aos que me antecederam, foi uma irresponsabilidade essa política adotada no passado, usando o índio ao inviabilizar esses estados", ressaltou.

A expectativa inicial era de que o encontro discutisse políticas para evitar novos incêndios criminosos. Na chegada ao encontro, os governadores do

,

e

defenderam, por exemplo, que o

aceitasse montante de US$ 20 milhões oferecido pelos países do G7.

O tema, no entanto, foi pouco abordado na reunião. Em discurso, o presidente afirmou que muitas reservas indígenas têm "aspecto estratégico", que há índios que não falam português e ressaltou que uma das intenções das demarcações é inviabilizar o país no campo econômico.

A reunião foi transmitida ao vivo pela televisão do governo e pelas redes sociais de Bolsonaro que, em boa parte do encontro, discursou com foco no eleitorado e olhando diretamente para a câmera, não para os governadores presentes.

"Com todo o respeito aos que me antecederam, foi uma irresponsabilidade essa política adotada no passado no tocante a isso, usando o índio como massa de manobra", afirmou. "Essa questão ambiental tem de ser conduzida com racionalidade, não com esta quase selvageria como foi feita nos outros governos", afirmou.

Para fazer as críticas, Bolsonaro afirmou que o Ministério da Justiça tem hoje mais de 400 novos pedidos de demarcação de terras indígenas, disse que a política ambiental "não foi usada de forma racional" e citou, exemplos de solicitações, que, segundo ele, não devem ser concedidas.

"A nossa decisão até o momento é não demarcar. Já extrapolou essa verdadeira psicose no tocante a demarcação de terras", disse. "Hoje, 40% de Roraima está tomado por terra indígena. Por que tanta terra indígena foi demarcada?", questionou.

Em discurso, o presidente anunciou que até quinta-feira (29) fechará um pacote de medidas, com sugestões dos governadores presentes, para a região amazônica. Ele não explicou detalhes, mas deve contemplar questões relacionadas à demarcação de terras indígenas.

No encontro, o presidente cometeu duas gafes. Em uma delas, confundiu o Acre com Rondônia e, em outro momento, disse que o Amazonas é o estado mais importante da região, o que gerou reação de outros governadores, como de Hélder Barbalho, do Pará.

Ele aproveitou a reunião para fazer nova cítica ao presidente francês, Emmanuel Macron, com quem tem protagonizado desde a semana passada uma troca de farpas, o que tem afetado a relação diplomática entre os dois países.

"Nós vamos juntos achar solução para isso e que vai dar uma satisfação para o mundo. Pessoas como o Macron deve pensar duas ou três vezes. Ninguém é contra dialogar com a França", disse.

Em reação ao ataque, o governador do Pará, Hélder Barbalho, fez um contraponto ao presidente. Ele disse que, diante de uma crise ambiental, Bolsonaro tem perdido "muito tempo" com uma troca de acusações com Macron.

"Acho que estamos perdendo muito tempo com o Macron, temos que cuidar dos nossos problemas e sinalizar para o mundo a diplomacia ambiental que é fundamental para o agronegócio", disse.

No final do encontro, Bolsonaro criticou o que chamou de "indústria da demarcação das terras indígenas" e afirmou que se cedesse aos pedidos de novos territórios as queimadas acabariam em "dois minutos".

"Se eu demarcar agora, o fogo na floresta amazônica acaba em dois minutos", disse. "Eles querem a nossa soberania. Ninguém [no governo] quer destruir a Amazônia", acrescentou.

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