O evento de entrega da Comenda da Ordem Domingos Martins ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nesta sexta-feira (10), na Assembleia Legislativa do Espírito Santo, foi marcado por citações religiosas, referências a Israel, gritos de "mito" e "Lula ladrão" e por homenagens aos capixabas envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro.
No início deste ano, 20 pessoas, entre capixabas e pessoas que moram no Estado, foram detidas por participarem de uma invasão à sede dos três poderes em Brasília. A maior parte deles saiu da prisão desde então e passou a usar tornozeleira eletrônica.
Havia nas galerias da Casa, durante a homenagem ao ex-presidente, pelo menos duas mulheres nessa situação. Uma delas, que estava no mezanino, levantou a barra da calça para mostrar o aparelho, decorado com uma bandeira do Brasil. Durante o discurso do senador Magno Malta, elas foram aplaudidas.
O ex-presidente também falou em seu discurso sobre os presos no dia 8 de janeiro.
"Como dói meu coração ver, pelos quatro cantos do Brasil, pessoas usando tornozeleira eletrônica sem ser bandido. Sendo condenadas com um dos artigos do Código Penal dizendo que atentou de forma violenta e armada para derrubar o Estado Democrático de Direito. Com que arma?", disse Bolsonaro.
Minutos antes, o senador Magno Malta também havia saído em defesa dos presos por atos golpistas de janeiro. "Quando fui ao presídio da Colmeia (presídio feminino em Brasília para onde foram levadas as mulheres presas nos atos golpistas de 8 de janeiro), a primeira mulher que gritou: 'Onde está o meu presidente?' Ela está aqui com a tornozeleira na perna. Nós temos orgulho de você!", afirmou.
O ex-presidente recebeu a Comenda da Ordem Domingos Martins, maior honraria concedida pela Assembleia Legislativa do Espírito Santo. No mesmo evento, que aconteceu no plenário da Casa, foi concedido a Bolsonaro o título de cidadão espírito-santense. A sessão foi presidida pelo deputado Danilo Bahiense (PL).
Diversos parlamentares presentes, e também o próprio ex-presidente, citaram o Estado de Israel em seus discursos e mencionaram uma suposta ação de Bolsonaro para autorizar a saída de brasileiros da faixa de Gaza.
Um grupo de 34 pessoas tenta deixar a área de conflito, mas ainda não conseguiu atravessar para o Egito. Nesta sexta, eles receberam a autorização para fazer a travessia da fronteira. Apoiadores do ex-presidente dizem que ele influenciou essa decisão, mas não há provas nesse sentido. O Itamaraty nega que tenha havido qualquer intervenção de Bolsonaro nas negociações pela liberação dos brasileiros em Gaza.
"Estão com ciúmes porque eu falei com o chefe de gabinete do Benjamin Natanyahu e por coincidência me encontrei com o embaixador israelense há dois dias (quarta-feira) quando, a convite de parlamentares, eu fui assistir a um filme das barbaridades do Hamas na região da Faixa de Gaza", disse o ex-presidente.
A presença de Bolsonaro no evento de quarta-feira (8), organizado pelo embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, não foi tão bem vista. Como noticiou o Valor, na quinta, a embaixada divulgou uma nota dizendo que não tinha convidado o ex-presidente para a exibição do filme.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi diversas vezes citado com "amigo do Hamas" porque o governo federal não considera o grupo extremista islâmico como terrorista. O país segue a posição do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). Lula já disse, porém, que as ações do Hamas contra Israel foram terroristas.
Discursaram no evento os deputados estaduais Danilo Bahiense, que presidiu a sessão, Callegari, Lucas Polese e Capitão Assumção. Também usaram a tribuna o deputado federal Gilvan e o senador Magno Malta. Todos são do PL, partido de Bolsonaro.
Compunham a mesa outros nomes da direita conservadora capixaba, como o deputado federal Evair de Melo (PP), deputado estadual Pablo Muribeca (Patriota), os ex-deputados federais Carlos Manato e Neucimar Fraga e o pastor Rommerito, presidente do Fórum Evangélico Nacional de Ação Social e Política (Fenasp-ES).
Além do versículo bíblico lido na abertura da sessão extraordinária — "Quando os justos se engrandecem, o povo se alegra, mas quando o ímpio domina, o povo geme" - Provérbios, 29-2 — o evento teve ainda apresentação de música gospel da cantora Danúbia Jordão, que também é servidora da Assembleia. Ao final, Cláudia Bahiense, cunhada do deputado Danilo Bahiense, fez uma oração pelo presidente.
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