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Briga com PSL inflama base, mas Bolsonaro não depende só da militância

Briga com PSL inflama base, mas Bolsonaro não depende só da militância

Especialistas avaliam que eleitorado mais convicto vai avaliar postura do presidente na briga com o partido de maneira positiva. Contudo, a confusão pode rachar a base

Publicado em 14 de outubro de 2019 às 21:36

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Jair Bolsonaro, presidente da República. (Isac Nóbrega/PR)

Os motivos por trás da briga comprada pelo presidente Jair Bolsonaro com a cúpula do PSL já estão postos: têm a ver com interesse do capitão de se ver ileso na crise do laranjal partidário e com a batalha pelo controle do milionário dos Fundos Eleitoral e Partidário da sigla que já foi nanica. As consequências para o chefe do Executivo nacional, entretanto, ainda precisam decantar.

Para especialistas, a postura do presidente satisfaz o eleitorado mais bolsonarista, mas pode se converter em dificuldades na relação com a base de apoio no Congresso. Não custa lembrar que, em 2018, o então deputado federal por sete mandatos foi eleito presidente colocando-se acima das vontades partidárias e das de caciques políticos. 

Professor de Ciência Política da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Rodrigo Prando ressalta que as quedas nos índices de aprovação do presidente podem indicar diferenças fundamentais entre o cenário político e institucional de hoje e aquele de outubro passado.

"O eleitor dessa ala mais bolsonarista, o mais convicto, vê nisso (na briga) uma vantagem. Mas em 2018 o eleitor dele não foi só o bolsonarista. Foi também o que votou contra o PT, o que se sentiu desamparado pelo PSDB, por exemplo. Junto a esses, não sabemos como vai repercutir", comentou.

A preocupação com manter-se limpo em meio às más práticas dos partidos é uma leitura, mas não a única maneira de enxergar o comportamento do presidente. Leandro Consentino, cientista político e professor do Insper, avalia que Bolsonaro pode estar emitindo sinal negativo.

"O presidente é reconhecido por não ficar muito tempo em um partido. Essa sinalização, de utilizar partidos como simples máquinas eleitorais para fins de disputar a eleição, é complicada. Os partidos políticos já não gozam de boa reputação. Ele precisa tomar muito cuidado com a mensagem que passa para os eleitores em momento em que a política não vai muito bem", disse. 

GOVERNABILIDADE

Ainda não se sabe como a guerra no PSL chegará ao fim. Uma eventual saída de Bolsonaro da sigla teria repercussões jurídicas. Deputados do partido que quiserem acompanhá-lo rumo à nova agremiação poderiam perder seus mandatos por infidelidade partidária.

Ela pode provocar um rearranjo de forças e prejudicar a base de apoio do presidente. "Se formos olhar para o sistema de governança, é algo ruim. O presidente não foi capaz, nesses meses todos, de construir uma maioria nas duas Casas do Congresso. Ao comprar briga com seu partido, fica ainda mais fragilizado para construir sua maioria", analisou Rogério Baptistini, pesquisador do laboratório de de política e governo da Unesp.

Por outro lado, salienta o pesquisador, a briga é coerente com a lógica bolsonarista de atuação política. "Ele foi eleito por fora do sistema de partidos e busca ficar ileso ao laranjal do PSL, busca ficar como um ente capaz de recriar a política sem se vincular a qualquer admoestação que possa vir do sistema de partidos", frisou.

Prando e Consentino discordam sobre o impacto na governabilidade. O primeiro acha a briga indiferente ao trabalho de convencer maiorias para aprovar projetos de interesse do governo.

"O encolhimento da bancada não traz grandes prejuízos à governabilidade porque já percebemos que ele vem negociando ponto a ponto. O PSL tem bancada robusta, mas não é articulada ao ponto de favorecer teses governistas", comentou Rodrigo Prando.

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"No curto prazo, a briga até tem o efeito de fazê-lo como alguém antissistema, mas o governo não se faz em um dia ou em uma semana. Temos três anos pela frente e ele vai precisar de base parlamentar. Se a gente olhar no curto prazo, ele pode até ter ganho de capital político. Mas no médio e no longo prazo pode ficar mais difícil a relação com o Legislativo", frisou Leandro Consentino.

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