Preso na noite desta terça-feira (20) após confessar ter assassinado a tiros a advogada Marinelva Venturim de Paula e seu marido, o estilista iraniano Dali Atashi, em Santa Leopoldina, na Região Serrana do Estado, no último fim de semana, José Carlos Rocha Rodrigues Marinho afirmou à polícia que planejou o crime, que foi motivado por uma briga entre ele e o vizinho por causa de água, terra e invasão de propriedade.
A prisão de José Carlos aconteceu após a Polícia Militar receber uma denúncia anônima, por volta das 17h desta segunda-feira (19) afirmando que o autor do duplo homicídio estaria escondido em um sítio na localidade de Pedra Alegre, em Santa Teresa. Ao chegar ao local, os policiais encontraram José Carlos em uma varada, em frente à residência. O homem não ofereceu resistência e confessou o crime.
"Recebemos uma denúncia através da patrulha rural de Santa Teresa, que indicava que o indivíduo estaria escondido em uma localidade rural de difícil acesso, de nome Pedra Alegre, em Itarana, já na divisa com Santa Teresa. Chegando no local, depois de muita dificuldade, conseguimos fazer a abordagem e não demos nem oportunidade para ele reagir. Conversando, de modo muito natural, ele contou friamente que havia cometido esse duplo homicídio", relatou o Major Márcio Cunha Cabral.
A Polícia Civil divulgou na manhã desta quarta-feira (21) as imagens das câmeras de videomonitoramento que mostram José Carlos entrando no sítio onde moravam Marinelva e Dali. Em seguida, ele aparece conversando com o casal e, por último, deixando o sítio com a arma na mão após ter assassinado as vítimas.
O acusado disse à polícia que matou o casal com um revólver calibre 38, que, de acordo José, foi jogado em um rio após o duplo homicídio. O acusado também afirmou que teve um desentendimento com Dali Atashi, do qual é vizinho em uma propriedade rural em Santa Leopoldina, no último sábado (17).
De acordo com a polícia, José e Dali teriam tido pelo menos quatro desentendimentos antes do crime, o que inclui uma disputa pelo curso-d'água que passa próximo ao terreno dos dois moradores.
"As investigações apontam algumas desavenças com a vítima, o Dali. Ele decidiu matar o Dali por causa de quatro incidentes: uma aquisição de terreno, que depois foi desfeita; por causa também de uma passagem de canos sem autorização e o Dali teria retirado esses canos; o Dali ter repreendido as crianças do autor por estarem no terreno que tinha tanque profundo e poderia gerar uma tragédia; e por último a alegação do autor de que no dia anterior, no sábado, o Dali teria passado de carro pela estrada e mostrado uma arma de fogo para o autor. Naquele momento o autor teria decido tirar a vida da vítima a todo custo. Essa era a intenção dele. E matou a senhora Marinelva simplesmente porque ela estava no local, nada relacionado a profissão dela (advogada)", detalhou o delegado Leandro Barbosa, titular da Delegacia de Santa Leopoldina
José Carlos Rocha contou aos policiais que chamou o iraniano para conversar do lado de fora de sua casa. Quando Dali e a esposa, Marinelva, saíram próximo ao portão, o acusado efetuou três disparos no marido. Em seguida, atirou duas vezes contra a esposa.
"Nitidamente trata-se de um ser humano frio, que em nenhum momento mostrou traços de arrependimento ou de compaixão. Ela sabia que as vítimas eram pessoas de idade. Ele mostra que já estava premeditando ceifar a vida do Dali e não demonstra arrependimento algum. Até porque ele diz que mataria e fugiria", contou o delegado.
A polícia militar chegou a realizar buscas no veículo do acusado e também no local onde José Carlos foi encontrado, porém, nenhuma arma ou objeto ilegal foi encontrado.
"Ele alega que comprou a arma ilegalmente, por R$ 3 mil, há mais ou menos um ano. Após o crime, até para se desfazer dos vestígios, ele alega que jogou a arma fora. Agora é reconstruir fato por fato, tudo que ele alega, para verificar o momento que ele mente e o momento em que ele fala a verdade", afirmou o delegado.
José Carlos Rocha Rodrigues Marinho vai responder por homicídio qualificado, por motivo banal e sem possibilidade de defesa das vítimas.
De acordo com informações da família das vítimas, Marinelva e Dali Atashi viviam há cerca de 20 anos em um sítio na localidade de Colina Verde, em Santa Leopoldina, na Região Serrana do Espírito Santo. Marinelva deixa duas filhas e cinco netos e o marido deixa também outras duas filhas, que vivem nos EUA, e um neto.
Na noite desta terça-feira, a Justiça autorizou a liberação do corpo de Marinelva Venturim. No entanto, ele permanece no Departamento Médico Legal (DML) de Vitória com o corpo do marido. Segundo a família do casal, o sepultamento deve acontecer nos próximos dias, na Ponta da Fruta, em Vila Velha.
A família do estilista iraniano, que era muçulmano, autorizou que ele seja enterrado ao lado da esposa. Por ser estrangeiro, a decisão sobre o que seria feito com o corpo do estilista foi tomada em comum acordo com os familiares dele, como narrado pela filha da advogada assassinada, a professora Camilla Carmem Venturim de Paula, de 39 anos.
"A mãe dele, a senhora Pari Atash, tem 90 anos e ficou muito chocada com a notícia da morte do filho. Ela fez muitas perguntas sobre como aconteceu, porque mataram ele e a esposa, e não consegue entender. Como ele e minha mãe eram muito unidos, a família achou justo que fosse sepultado ao lado da esposa", disse Camilla à reportagem de A Gazeta.
Em 2016, o repórter Patrik Camporez e o fotojornalista Marcelo Prest percorreram o Espírito Santo para relatar casos de conflitos envolvendo disputa pela água em áreas rurais. À época, levantamento da reportagem Guerra pela água (clique para ler) contabilizou cinco mortes em cinco anos ligadas diretamente a essas disputas, sem contar casos de agressão e ameaça.
Também era latente o crescimento vertiginoso de crimes ambientais e a tensão cada vez maior entre habitantes sobretudo de regiões que passam por processo de desertificação no Espírito Santo.
A reportagem foi vencedora do Prêmio Findes de Jornalismo e do Prêmio Nacional Allianz Seguros de Jornalismo na categoria Sustentabilidade - Mudanças Ambientais.
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