Em depoimento à Polícia Civil, a adolescente de 17 anos com a qual o deputado estadual Luiz Durão (PDT) foi flagrado ao sair de um motel na Serra, na última sexta-feira (04), contou que o parlamentar chegou a dizer, instantes antes do ato sexual: "Calma, vai ser rápido". Ela relatou que, devido à "fama de matador" do parlamentar, também ex-prefeito de Linhares, teve medo de não fazer o que ele pedia. Mas mandou mensagens a amigos informando o que se passava e a localização do motel, ao qual ela chegou, ainda de acordo com o depoimento, sem que o deputado tenha ao menos perguntado sobre seu consentimento. Foi assim que a polícia foi acionada e o deputado acabou preso por estupro.
Ainda conforme o depoimento, que integra memorial da defesa do deputado ao qual a reportagem teve acesso, a adolescente diz que Luiz Durão não usou de força ou ameaça contra ela. O caso tramita sob sigilo.
"Eu estava sem reação, pois todo mundo na minha cidade sabe a fama que o Luiz Durão tem, no período em que ele foi prefeito da cidade foi o período que teve mais mortes - as pessoas falavam que Luiz mandava matar para 'limpar a cidade', ele tinha fama de matador. Então, não passava pela minha cabeça que eu iria dizer não ou tirar a mão dele e isso iria dar certo, que iria ficar tudo bem", contou à polícia.
Laudo preliminar do Departamento Médico Legal (DML), anexado ao memorial da defesa, aponta que não havia vestígios de agressão física. Quanto à confirmação de "conjunção carnal", dependeria do resultado de exames. O delegado-chefe da Polícia Civil, Darcy Arruda, já afirmou, em entrevista, que o ato sexual foi comprovado.
Quem tomou o depoimento foi o delegado Lorenzo Pazolini, titular da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), que é deputado estadual eleito e tomará posse em fevereiro na Assembleia.
O delegado chegou a perguntar à adolescente "se na ideia dele, a depoente quis ter relação com ele". "Eu não sei dizer, porque eu não consegui ter reação, então, talvez, para ele, ele tenha achado que eu queria", respondeu.
Mas no mesmo depoimento ela também disse: "Ele sabia que eu não queria porque uma lágrima escorreu do meu olho e eu tentei até disfarçar e ele percebeu, daí ele disse para mim 'calma, vai ser rápido'".
O delegado ainda perguntou à jovem se ela "gostou". E ela respondeu: "Eu estava com muito medo. Eu estava em pé e ele atrás de mim. Ele abriu meu macacão. Aí, nesse momento, eu só pensava que se eu fizesse o que ele queria, tudo iria acabar bem".
Ela disse saber que o deputado tinha uma arma, que já esteve armado na casa da família dela. Mas a adolescente afirmou que não viu se ele portava uma arma nesse dia.
Em outro trecho, ela contou: "Quando ele percebeu que eu realmente não estava querendo aquilo, foi quando o ato encerrou. Eu não sei se ele chegou a ejacular dentro de mim, acho que sim, pois o lençol estava molhado".
BANHEIRO
À polícia, Durão negou ter tido relação sexual com a adolescente, disse que parou no motel apenas para usar o banheiro. A jovem afirmou que ele não usou o vaso sanitário, apenas que, após o ato sexual, a convidou a tomar banho, o que ela consentiu, tomou um banho rápido. "Eu tomei um banho bem rápido", contou a adolescente.
TRAJETO
O deputado, a pedido da mãe da adolescente, dava uma carona à jovem de Linhares até Vitória. Ele teria um compromisso na Assembleia Legislativa naquela sexta-feira e a jovem encontraria amigos no Shopping Vitória.
O deputado apareceu sozinho na casa da família, que tem proximidade com ele, e disse à mãe da jovem, ainda segundo o depoimento, que buscaria o motorista, o que não ocorreu.
No meio do caminho, o parlamentar "passou a mão" na coxa e no quadril da jovem. A adolescente não chegou a afastar a mão do parlamentar, apenas segurou a bolsa que levava ao colo com mais força. No depoimento, ela narra ainda que Luiz Durão a tocou em vários momentos. "Durante a viagem, ele foi me tocando, sendo que teve uma hora que ele chegou a passar a mão por dentro do meu short", disse, ressaltando que ele não encostou em suas partes íntimas durante o trajeto.
Questionada pela polícia se ela disse ao deputado, por gestos ou palavras, que não queria o toque dele, respondeu: "A única coisa que eu fiz foi que eu tentei afastar a mão dele com a minha bolsa. Mas eu não tirei a mão dele e nem falei que não queria, pois eu estava com muito medo dele, pois só tinha eu e ele dentro do carro".
Ela ainda mandou mensagens aos amigos, mas ficou com medo de sair do carro antes do destino final, o Shopping Vitória (que fica em frente à Assembleia Legislativa).
Diálogo com a amiga:
Vítima: to em Jacaraípe
Vítima: ele tá indo muito devagar
Amiga: Quer descer aí? Te busco
Vítima: me liga não amiga
Vítima: vou chorar
Vítima: ele não vai querer me deixar aqui
Amiga: Só falar que estamos indo a praia e vc desce
Amiga: Aí a gente busca vc
Vítima: mamãe pediu para ele deixar só aí no shopping
Vítima: calma
Vítima: acho que não vou demorar chegar aí
Amiga: Tá. Se quiser, dei a opção
Mas o destino não foi o shopping. O deputado alterou o trajeto e dirigiu-se a um motel. "Quando chegou no semáforo, eu sei que era para ir reto, pois é assim quando minha mãe passa por ali - só que ele manobrou o carro e voltou em direção ao motel. Que ele não falou nada. Que nego que tenha me pedido ou perguntado se queria ir para o motel."
O deputado, ainda de acordo com ela, não mencionou que precisava ir ao banheiro.
Depois de ter chegado ao motel, a adolescente contou que pensou que pediriam a identidade dela e, vendo que era menor, não permitiriam a entrada, o que não ocorreu. "Foi quando percebi que não tinha o que fazer. Foi nesse momento que eu mandei a mensagem dizendo 'olha a minha localização' - disse chorando - eu não queria preocupar a minha mãe pois ela está operada".
A jovem também disse que a família dela conhece o deputado há tempos, que ele a viu crescer e que chegou a colaborar com R$ 500 para a festa de 15 anos dela. Em uma outra ocasião, ainda de acordo com o depoimento, ele teria apertado a coxa da menina, durante um evento. "Mas não foi como ele fez hoje (dia 4 de janeiro), hoje ele fez com malícia".
A adolescente disse que não pensava em acusar o deputado. "Eu pensava que isso ficaria só para mim depois que isso acontecesse. Ficaria com medo de as pessoas não acreditarem em mim". Mas a amiga e outras testemunhas chegaram ao motel na hora que os dois saíam. Em seguida, chegou uma viatura da Polícia Militar.
LIBERDADE OU PRISÃO DOMICILIAR
A defesa, de acordo com o memorial, pede a liberdade imediata de Luiz Durão, preso no Quartel do Corpo de Bombeiros, em Vitória. Ele já teve a prisão em flagrante convertida em preventiva. E também quer o trancamento da ação penal em razão da ausência de justa causa. Se a liberdade não for concedida, a defesa quer que seja concedida a prisão domiciliar "em razão do estado de saúde do requerente".
"Ora, se a vítima não apresentava qualquer contrariedade e o indiciado apenas por 'perceber' que a mesma não estava satisfeita interrompeu o ato, o fato não condiz com o crime de estupro, em que a vontade da vítima não é considerada, pelo contrário, é suplantada pelo constrangimento físico ou moral", escreveu a defesa.
"A conduta narrada pela suposta vítima mostra, no máximo, o comportamento de um homem comum que acreditava estar sendo correspondido em suas investidas e ao perceber que não estava cessou imediatamente seus atos, não havendo qualquer irregularidade", registra, ainda, o memorial.
"Insta salientar que a manutenção da prisão acarreta por consequência o afastamento do parlamentar das atividades para qual fora eleito, invariavelmente, uma clara antecipação dos efeitos de um eventual juízo condenatório, pois cria óbice ao pleno exercício do mandato eletivo do candidato eleito pelo povo, vedado expressamente pela Constituição Federal."
A reportagem não conseguiu contato com a defesa de Durão, mas a narrativa contrasta com o depoimento do próprio deputado, de que queria apenas usar o banheiro por ter tido uma espécie de "dor de barriga".
Deputados mais próximos a Durão avaliam que ele pode ter dito isso para "preservar a família", já que é casado e batizado em uma igreja evangélica.
Além disso, como a coluna Leonel Ximenes mostrou, o período dentro do motel teria sido de cerca de 40 minutos.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta