Mais de 2,4 mil adolescentes de 16 ou 17 anos do Espírito Santo fizeram o título de eleitor em março deste ano e poderão votar nas eleições deste ano. O aumento foi de 22% em relação a fevereiro, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ocorreu no período em que instituições eleitorais, artistas e influenciadores se uniram em uma campanha para encorajar esse público a tirar o documento.
Os números mostram que o aumento foi maior entre as pessoas de 16 anos. A quantidade de eleitores com essa idade cresceu 32% no Estado em um mês. Já entre os adolescentes de 17 anos, o aumento foi de 18%.
"Esses jovens estão em uma fase em que não é obrigatório tirar o título. Olhando números anteriores, a quantidade de leitores nessa faixa vinha caindo gradativamente, ano a ano. A gente acredita que seja por conta da campanha", aponta Rosiane Marrochi, membro da Comissão de Mesários do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-ES).
No Espírito Santo, a ação organizada pelo TRE-ES conta com parceria de instituições de ensino, sindicato das escolas particulares, Secretaria de Estado da Educação, Ministério Público, entre outras. Porém, a campanha nacional recebeu apoio espontâneo de partidos políticos, sociedade civil, clubes de futebol, jogadores, influenciadores e artistas.
O número de adolescentes aptos a votar no Estado no fim de março era de 13.257 e, embora tenha havido aumento considerável em março, ainda representa apenas 11,7% do total de pessoas entre 16 e 17 anos do Estado.
"Mesmo com o aumento em março, em relação a fevereiro, ainda tem muito jovem nessa idade que não fez (o título). Mas ainda dá tempo. O prazo vai até 04 de maio e o procedimento é muito simples e rápido. Ele não precisa nem sair de casa, pela internet mesmo ele tira o título", explica Rosiane.
Segundo especialistas há múltiplas hipóteses para o desinteresse dos jovens em participar efetivamente do processo eleitoral. Entre elas está a descrença no sistema político brasileiro, o envelhecimento das lideranças políticas e a dificuldade na comunicação entre as instituições que fazem parte do processo eleitoral e esse público.
“Há o envelhecimento dos líderes partidários. Ao longo dos anos, essa renovação tem sido muito pequena. Também é claro o desencanto e a desconfiança no sistema político. A falta de perspectiva de emprego e renda causa desânimo e a facilidade de justificar ausência pelo celular não podem ser desconsideradas”, afirma a juíza e diretora da Escola Judiciária Eleitoral do TRE-ES, Heloisa Cariello.
O sociólogo e cientista político da faculdade Mackenzie Rodrigo Prando concorda. Segundo ele, ainda é preciso fazer pesquisas com os adolescentes para entender exatamente essa movimentação, mas ele aponta ainda outras hipóteses para o desinteresse desse público em tirar o título.
Uma delas é a pandemia, que fez cair a qualidade do ensino em todo o país. Com isso, os jovens que deixaram o ensino médio nesse período estavam menos preparados para entrar no mercado de trabalho. “A preocupação (dos jovens) está muito mais ligada em sanar problemas na sua trajetória escolar do que questões ligadas à política", avalia.
Além disso, ele cita o ambiente tóxico das redes sociais. Se por um lado os algoritmos promovem o compartilhamento de informação quase exclusivamente entre pessoas com pensamentos parecidos, por outro, quando há posições contrárias, elas são apresentadas de forma violenta, que não contribuem para um debate saudável.
Ele avalia ainda que os jovens e as instituições como o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e os tribunais eleitorais regionais estão em dimensões de comunicação diferentes. A mensagem não chega para eles de forma clara e através dos ambientes onde eles transitam.
Sobre a representatividade cada vez menor dos adolescentes entre os eleitores, ele afirma que ela forma um círculo vicioso. Como os jovens são poucos a votar, os políticos acabam se abstendo de colocar no debate político as ideias e políticas públicas voltadas para essa parcela da população.
“Poucos jovens participam da vida política, discutem política. Assim, o eleitorado diminui e as propostas para essa população perdem espaço. São barreiras difíceis de quebrar”, diz.
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