Com mais de 167 mil inscritos em duas semanas de funcionamento, o canal oficial criado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no Telegram é visto como um sinal de que o aplicativo de mensagens criado por russos está disposto a colaborar com a Justiça Eleitoral para evitar a disseminação de notícias falsas e de desinformação em seu ambiente.
O canal foi criado no dia 17 de maio, a partir de uma parceria entre o TSE e o Telegram que envolve uma série de medidas para incentivar a circulação de informações oficiais sobre as eleições 2022.
Ao acessar o aplicativo, é possível visualizar no canal oficial do próprio Telegram uma mensagem dizendo o seguinte: “Para não cair em fake news sobre as eleições no Brasil em 2022, entre no canal oficial do Tribunal Superior Eleitoral no Telegram”, seguida pelo link do canal.
A iniciativa foi oficializada menos de dois meses depois de o Telegram ter sido alvo de uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) para suspensão das atividades em todo o Brasil por descumprimento de decisões judiciais do STF relacionadas ao aplicativo.
Outras plataformas digitais como Twitter, TikTok, Facebook, Instagram, WhatsApp, Google, YouTube e Kwai já haviam fechado parceria com o TSE.
Para o editor do Projeto Comprova, Sérgio Lüdtke, a presença do TSE e o alerta para a desinformação no canal oficial no Telegram não têm muita relevância em si. Ele ressalta que os grupos que atacam o processo eleitoral não vão mudar suas leituras por conta das informações postadas pela Justiça Eleitoral. Mas é importante para quem está em dúvida.
Opinião semelhante é compartilhada pelo editor do Meio e colunista da CBN Pedro Doria, que afirma que o processo de desinformação é muito mais complexo do que alguém acreditar em uma notícia falsa. Ele alerta que os algoritmos das redes sociais e plataformas digitais isolam as pessoas em bolhas, em maior ou menor grau. Para quem já está contaminado ou em determinados times, ressalta ele, o efeito da divulgação da informação oficial é zero.
Doria pondera que é necessário que o TSE tenha um canal verificado no Telegram e em todas as plataformas possíveis para que a pessoa que “estiver perdida e desavisada” possa encontrar informação oficial, institucionalizada, de maneira fácil e democrática.
“Em alguns ambientes digitais somos empurrados para determinado time. Não importa em que time você esteja, tem certo tipo de crença que você tem de ter. E a gente está dividido em times nesse processo eleitoral”, assinala o colunista.
Lüdtke e Doria pontuam dois aspectos positivos que a parceria entre Telegram e TSE pode gerar: o primeiro é abrir diálogo com a Justiça, uma vez que a plataforma tem um retrospecto de não cumprimento de decisões judiciais; o segundo é conter o compartilhamento de desinformação e fake news.
“O Telegram está mais disposto a cumprir as decisões da Justiça e parece estar mais sensível ao problema de uso da plataforma para disseminação de desinformação, inclusive já procurou algumas agências de checagem. O mais importante é o fato de a plataforma abrir um diálogo com a Justiça. Isso pode fazer com que ela atenda mais rapidamente as decisões judiciais. Antes, a Justiça não sabia nem a quem entregar”, enfatiza o editor do Comprova.
“Acho que o mais importante é tentar conter a distribuição e compartilhamento de desinformação. É importante para o TSE ter esse tipo de relação para tentar conter o estrago, tentar coibir que a desinformação se espalhe, viralize. Qualquer contribuição do Telegram, desse ponto de vista, é bem-vinda”, completa Doria.
O Telegram passou a ser mais utilizado no Brasil depois das eleições de 2018, quando o aplicativo de mensagens WhatsApp foi considerado um dos principais canais de disseminação de desinformação. Desde o início da pandemia da Covid-19, o aplicativo ganhou mais adeptos entre os brasileiros e virou plataforma de divulgação de muitos políticos.
Na mesma medida, o Telegram também virou espaço para envio de informações falsas, distorcidas e enganosas, já que outras plataformas passaram a adotar medidas para enfrentar as fake news após as eleições 2018. Agora, com a iniciativa em conjunto com o TSE, os especialistas esperam que isso contribua, de alguma forma, para tornar o período eleitoral menos problemático, já que a expectativa é de que supere o que ocorreu há quatro anos.
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