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Candidato de Vitória quer hospital no Cais das Artes, mas obra é do governo do ES

Candidato de Vitória quer hospital no Cais das Artes, mas obra é do governo do ES

Disputando a prefeitura da Capital, Du (Avante) e o vice Coronel Wagner (PRTB) afirmaram que vão dialogar com o Executivo estadual para mudar a concepção do projeto

Publicado em 22 de agosto de 2024 às 17:05

Ícone - Tempo de Leitura 7min de leitura
Candidato a prefeito de Vitória quer transformar Cais das Artes em hospital
Projeção da iniciativa de Du (Avante) de transformar Cais das Artes em hospital. (Reprodução)

Uma obra do governo do Espírito Santo para contemplar o setor cultural capixaba, o Cais das Artes, na Enseada do Suá, entra no debate eleitoral de Vitória, sendo alvo de uma proposta para mudar por completo a finalidade da construção, iniciada há 14 anos.

Apesar de a Capital não ter qualquer vínculo com o projeto, o candidato a prefeito de Vitória Du (Avante) e o vice Coronel Wagner (PRTB) querem propor ao Executivo estadual transformar a atual estrutura em um hospital.

Pensado para funcionar como um complexo cultural com museu e teatro, o espaço começou a ser erguido com recursos públicos estaduais em 2010, na gestão do ex-governador Paulo Hartung. Após oito anos com as obras paradas, teve a construção retomada no comando de Renato Casagrande (PSB), em 2023.

Du e Coronel Wagner afirmam que vão dialogar com o Estado para o desenvolvimento da ideia, que seria denominada de Hospital do Cais. “Além de oferecer serviços médicos de alta qualidade, será caracterizado por diferenciais únicos no atendimento da mulher e crianças que o tornarão um marco no cuidado à saúde da população”, afirma o candidato a prefeito.

Em projeções feitas pela equipe do candidato, é possível ver alterações na concepção do Cais das Artes. O projeto reformula a fachada com a instalação de vidros, além da inserção de letreiros nas paredes — pensadas para serem apenas de concreto — e prevê um píer. “A localização estratégica do Hospital do Cais será acessível por terra, mar e ar”, destaca o candidato, se a iniciativa se concretizar.

Outra alteração também sugerida é vista nas imagens. Na parte superior do prédio, de acordo com o desenho, pode ser visto um helicóptero em direção ao heliponto. Em frente, há um píer com um barco para ser usado no transporte de pacientes na Baía de Vitória.

O desenho original do complexo cultural, assinado pelo arquiteto capixaba Paulo Mendes da Rocha (1928 - 2021), prevê um teatro com 600 metros quadrados, com capacidade para 1,3 mil lugares, e um museu com espaço de 2,3 mil metros quadrados. Além disso, o plano é que haja um auditório para 225 pessoas, salas de exposições, biblioteca, cantina, recepção, cafeteria e espaços para espetáculos e exposições ao ar livre.

O que diz a Secult

Sem comentar sobre a ideia de transformar o Cais das Artes em hospital, em nota, a Secretaria de Estado da Cultura (Secult) ressaltou que as obras do centro cultural foram retomadas em junho de 2023 e, após a conclusão, a forma de uso do local será debatida com a sociedade. “O objetivo é integrar a cultura com outras áreas, preservando as diretrizes iniciais do projeto como um espaço cultural, com espaços e ativações para além do museu e do teatro, como restaurantes e café”, declarou.

“O intuito é que o Cais das Artes receba exposições, encontros e espetáculos de todos os portes, priorizando a produção artística e a diversidade cultural capixaba”, destacou a pasta. 

Candidato a prefeito de Vitória quer transformar Cais das Artes em hospital(Reprodução)

O que diz a Associação de Moradores 

Em conversa com A Gazeta, na manhã desta quinta-feira (22), o presidente da Associação de Moradores, Empresários e Investidores da Enseada do Suá (Amei-ES), Eduardo Borges, destacou que o Cais das Artes está em uma Zona de Ocupação Controlada (ZOC), de acordo com o Plano Diretor Urbano de Vitória (PDU). “Existem várias residências unifamiliares na região. É uma região bucólica e turística”, disse.

“Esse interminável elefante branco pode ser várias coisas, museu, área de eventos, teatro, um milhão de coisas. Mas, jamais, hospital. Transformar isso em hospital seria um crime ao urbanismo, ao turismo e ao bom senso”, manifestou.

Obra prevista para ser inaugurada em 2026

As obras do Cais das Artes estão sendo feitas em duas etapas. Ocorre, atualmente, a limpeza e a recuperação dos espaços. Segundo o Departamento de Edificações e Rodovias (DER-ES), a empresa responsável está executando o saldo de contrato, fazendo a transição para a segunda etapa da obra, com a retomada da construção. A previsão é de que o empreendimento seja finalizado em janeiro de 2026.

Linha do tempo da construção 

  • 2010
  • Oficialmente as obras começaram em 2010, no fim do segundo mandato do governador Paulo Hartung. O investimento total seria de R$ 115 milhões.

  • 2012
  • A previsão de entrega do empreendimento era 2012, mas a Santa Bárbara, construtora que executava os serviços, faliu e, com isso, o contrato foi reincidido.

  • 2013
  • Neste ano, as obras foram retomadas após uma nova licitação que contratou o Consórcio Andrade Valladares - Topus.

  • 2015
  • As obras foram realizadas até maio de 2015, quando sofreram nova paralisação. Depois disso, no começo de junho, voltaram a prosseguir, mas, no mesmo mês, pararam novamente. Ainda em 2015, o governo anunciou que teria que contratar uma nova empresa, a terceira, para finalizar a construção. A entrega ficaria para 2018.

  • 2016
  • Em agosto foi feita uma nova licitação, mas para contratar uma consultoria de engenharia, que faria uma avaliação da obra e um balanço do que ainda precisaria ser feito. Neste ponto, o governo do Estado já previa gastar entre R$ 80 milhões e R$ 100 milhões a mais no orçamento.
  • Neste ponto, desde 2010, o que foi construído nem chegou a ser utilizado e já precisou de reparos devido à ação do tempo e abandono do empreendimento.

  • 2018
  • Já em 2018, em abril, o Instituto de Obras Públicas do Estado do Espírito Santo (Iopes) licitou uma nova empresa para gerenciar a obra. A Planesp Engenharia ganhou a chamada no valor de R$ 3,8 milhões para executar o serviço.
  • Em julho deste ano, Paulo Hartung e a Secretaria de Estado dos Transportes e Obras Públicas (Setop) anunciaram que as obras seriam retomadas em dezembro de 2018 e deveriam ser entregues até 2020. Até então, já havia sido gasto, ao todo, mais de R$ 129 milhões, inicialmente, com entrega prevista para 2012. Com a previsão de gastos divulgada naquela época, o valor total chegaria à casa dos R$ 229 milhões.
  • Em setembro, o governo lançou edital para licitar a empresa que terminaria as obras do empreendimento. Mas, em outubro, suspendeu o edital sem data para republicá-lo.

  • 2019
  • Em março, o governo decidiu retirar mais de R$ 14 milhões que custeariam parte das obras de finalização do Cais das Artes para abrir um crédito suplementar à Secretaria de Estado de Saneamento, Habitação e Desenvolvimento Urbano (Sedurb). Ainda em março, o Iopes garantiu que iniciou um processo de levantamento do equipamento cultural para ver o saldo da obra e retomar a execução do projeto com a empresa Andrade Valladares - Topus, a mesma que cuidava do canteiro de obras em 2015.

  • 2020
  • Em janeiro, o governo esperava retomar as obras ainda em 2020. Em entrevista para A Gazeta, o secretário de Estado da Cultura, Fabrício Noronha, disse que iria, também, intensificar um debate com a sociedade artística para falar sobre o futuro uso do local. Sobre as obras, na ocasião, o titular da pasta reiterou a necessidade de o processo na Justiça se resolver. 

  • 2021
  • Em janeiro, o secretário de Cultura disse que o governo pretendia retomar a construção do Cais das Artes no primeiro semestre do ano. Na época, o governo estava em discussão para entrar em acordo com a empresa que processou o Estado na Justiça. 
  • Em maio, o DER-ES disse que estava finalizando um acordo internamente com a empresa responsável pela obra. Porém, a resposta que viria em poucos dias nunca chegou.
  • Ainda sem acordo, Casagrande anunciou em dezembro que pensava em duas alternativas para ter o espaço finalizado: regulamentar um contrato de gestão, com ajuda do Tribunal de Contas, para se ter um acordo e resolver o problema jurídico; ou conceder um espaço do Cais das Artes para empresas de tecnologia fazerem um hub de startups e custeiem a finalização da obra.

O que diz o IAB-ES

Em nota, o Instituto de Arquitetos do Brasil no Espírito Santo (IAB-ES) afirmou que tem manifestado seu posicionamento ao longo dos últimos anos acerca da importância do Cais das Artes como conjunto arquitetônico de grande relevância para a valorização da identidade capixaba e da inserção do estado no cenário internacional.

“Logo, o IAB/ES manifesta-se contrário as alterações projetuais intencionadas que objetivam transformar o espaço em hospital. O espaço projetado por Paulo Mendes da Rocha foi concebido para que seu uso fosse destinado à cultura e a arte”, declarou.

“O projeto valoriza o setor da economia criativa e da indústria limpa, entendendo que o crescimento dos setores de serviços seja da maior importância para o município de Vitória, e consciente do potencial estratégico das empresas de inovação e de tecnologia no contexto capixaba e nacional. Projetos hospitalares seguem rígidas normas para sua elaboração e, posterior, funcionamento. Esses projetos são elaborados com acompanhamento de órgãos da área da saúde por sua imensa complexidade”, prosseguiu o instituo.

“Logo, não se pode afirmar que possíveis alterações no projeto original atenderão demandas de usos distintos daqueles para os quais o edifício foi projetado. Desta forma, desvirtuasse o sentido e o propósito original do projeto”, finalizou. 

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