Uma obra do governo do Espírito Santo para contemplar o setor cultural capixaba, o Cais das Artes, na Enseada do Suá, entra no debate eleitoral de Vitória, sendo alvo de uma proposta para mudar por completo a finalidade da construção, iniciada há 14 anos.
Apesar de a Capital não ter qualquer vínculo com o projeto, o candidato a prefeito de Vitória Du (Avante) e o vice Coronel Wagner (PRTB) querem propor ao Executivo estadual transformar a atual estrutura em um hospital.
Pensado para funcionar como um complexo cultural com museu e teatro, o espaço começou a ser erguido com recursos públicos estaduais em 2010, na gestão do ex-governador Paulo Hartung. Após oito anos com as obras paradas, teve a construção retomada no comando de Renato Casagrande (PSB), em 2023.
Du e Coronel Wagner afirmam que vão dialogar com o Estado para o desenvolvimento da ideia, que seria denominada de Hospital do Cais. “Além de oferecer serviços médicos de alta qualidade, será caracterizado por diferenciais únicos no atendimento da mulher e crianças que o tornarão um marco no cuidado à saúde da população”, afirma o candidato a prefeito.
Em projeções feitas pela equipe do candidato, é possível ver alterações na concepção do Cais das Artes. O projeto reformula a fachada com a instalação de vidros, além da inserção de letreiros nas paredes — pensadas para serem apenas de concreto — e prevê um píer. “A localização estratégica do Hospital do Cais será acessível por terra, mar e ar”, destaca o candidato, se a iniciativa se concretizar.
Outra alteração também sugerida é vista nas imagens. Na parte superior do prédio, de acordo com o desenho, pode ser visto um helicóptero em direção ao heliponto. Em frente, há um píer com um barco para ser usado no transporte de pacientes na Baía de Vitória.
O desenho original do complexo cultural, assinado pelo arquiteto capixaba Paulo Mendes da Rocha (1928 - 2021), prevê um teatro com 600 metros quadrados, com capacidade para 1,3 mil lugares, e um museu com espaço de 2,3 mil metros quadrados. Além disso, o plano é que haja um auditório para 225 pessoas, salas de exposições, biblioteca, cantina, recepção, cafeteria e espaços para espetáculos e exposições ao ar livre.
Sem comentar sobre a ideia de transformar o Cais das Artes em hospital, em nota, a Secretaria de Estado da Cultura (Secult) ressaltou que as obras do centro cultural foram retomadas em junho de 2023 e, após a conclusão, a forma de uso do local será debatida com a sociedade. “O objetivo é integrar a cultura com outras áreas, preservando as diretrizes iniciais do projeto como um espaço cultural, com espaços e ativações para além do museu e do teatro, como restaurantes e café”, declarou.
“O intuito é que o Cais das Artes receba exposições, encontros e espetáculos de todos os portes, priorizando a produção artística e a diversidade cultural capixaba”, destacou a pasta.
Em conversa com A Gazeta, na manhã desta quinta-feira (22), o presidente da Associação de Moradores, Empresários e Investidores da Enseada do Suá (Amei-ES), Eduardo Borges, destacou que o Cais das Artes está em uma Zona de Ocupação Controlada (ZOC), de acordo com o Plano Diretor Urbano de Vitória (PDU). “Existem várias residências unifamiliares na região. É uma região bucólica e turística”, disse.
“Esse interminável elefante branco pode ser várias coisas, museu, área de eventos, teatro, um milhão de coisas. Mas, jamais, hospital. Transformar isso em hospital seria um crime ao urbanismo, ao turismo e ao bom senso”, manifestou.
As obras do Cais das Artes estão sendo feitas em duas etapas. Ocorre, atualmente, a limpeza e a recuperação dos espaços. Segundo o Departamento de Edificações e Rodovias (DER-ES), a empresa responsável está executando o saldo de contrato, fazendo a transição para a segunda etapa da obra, com a retomada da construção. A previsão é de que o empreendimento seja finalizado em janeiro de 2026.
Em nota, o Instituto de Arquitetos do Brasil no Espírito Santo (IAB-ES) afirmou que tem manifestado seu posicionamento ao longo dos últimos anos acerca da importância do Cais das Artes como conjunto arquitetônico de grande relevância para a valorização da identidade capixaba e da inserção do estado no cenário internacional.
“Logo, o IAB/ES manifesta-se contrário as alterações projetuais intencionadas que objetivam transformar o espaço em hospital.
O espaço projetado por Paulo Mendes da Rocha foi concebido para que seu uso fosse destinado à cultura e a arte”, declarou.
“O projeto valoriza o setor da economia criativa e da indústria limpa, entendendo que o crescimento dos setores de serviços seja da maior importância para o município de Vitória, e consciente do potencial estratégico das empresas de inovação e de tecnologia no contexto capixaba e nacional. Projetos hospitalares seguem rígidas normas para sua elaboração e, posterior, funcionamento. Esses projetos são elaborados com acompanhamento de órgãos da área da saúde por sua imensa complexidade”, prosseguiu o instituo.
“Logo, não se pode afirmar que possíveis alterações no projeto original atenderão demandas de usos distintos daqueles para os quais o edifício foi projetado. Desta forma, desvirtuasse o sentido e o propósito original do projeto”, finalizou.
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