A vice-prefeita de Vitória, Capitã Estéfane (Patriota), afirma que foi por causa da relação ruim com o prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos), que ela trocou de partido neste ano. Ela acusa o chefe do executivo municipal de tentar silenciá-la politicamente, restringindo sua atuação no cargo.
Estéfane se filiou ao Republicanos, partido do qual Pazolini é um dos maiores nomes atualmente, em 2020. A filiação ocorreu para que ela pudesse ser vice na chapa do atual prefeito, na época deputado estadual.
Ela tinha duplo apelo ao eleitorado de Pazolini: era mulher e integrante das forças de segurança pública, uma das principais bandeiras levantadas por ele durante a campanha.
Porém, pensando na disputa eleitoral deste ano, ela trocou de sigla e se filiou ao Patriota.
“Sobre a troca de partido, a razão principal era a minha relação com o prefeito. Como eu ia ficar em um partido onde eu estava sendo completamente esvaziada e eu talvez poderia ser impedida de disputar a eleição, porque é o partido que define isso, não sei se ele (Pazolini) iria exigir isso do partido”, afirmou em entrevista para A Gazeta nesta quarta-feira (9).
A mudança, dessa forma, teria sido feita para preservar sua participação no pleito. “Minha relação com outros integrantes (do Republicanos) é muito boa, mas com o prefeito em si fiquei com medo de atrapalhar a minha participação na disputa de 2022.”
A questão da composição da chapa de deputados também foi um dos critérios elencados pela vice-prefeita para a migração.
Nova na sigla e sem o apoio do prefeito, ela obteve 10.075 votos e não se elegeu deputada federal. “Eu sabia que não haveria apoio nenhum, como não houve”, afirmou.
Nas eleições de 2022, Pazolini declarou apoio a Denninho (União Brasil) e ao delegado Leandro Piquet (Republicanos), ambos vereadores de Vitória, que disputaram cargo de deputado estadual. Para o Senado, fez campanha junto com o presidente da Assembleia Legislativa do Espírito Santo, Erick Musso (União Brasil). Dos três, só Denninho se elegeu.
Na disputa para o governo do Estado, se manteve neutro. Pazolini também não manifestou apoio na disputa para presidente da República.
Para A Gazeta, a vice-prefeita citou que, após vencer a eleição junto com Pazolini em 2020, recebeu certo apoio do Republicanos, principalmente do presidente do partido, Roberto Carneiro. Era ele que "arrefecia os ânimos” entre os dois no início do mandato.
Contudo, com o tempo, até mesmo esse auxílio foi se perdendo. Segundo Estéfane, a função de “mediador” de Carneiro o desgastou. “Ele entrou em rota de colisão com o prefeito e ficou numa situação ruim”.
Ela aponta ainda que talvez não estivesse passando por essa situação caso fosse filiada a outro partido desde o início, já que foi ela a novata na sigla que era do prefeito.
“Se fosse outro partido onde outras pessoas fossem estar ali articulando e brigando em defesa do meu mandato junto comigo, isso seria mais ameno”, afirmou.
A vice-prefeita acredita que “com certeza” teria tratamento diferente na prefeitura caso fosse homem. Estéfane classifica como violência política de gênero as ações do chefe do Executivo municipal de tentar silenciá-la politicamente, restringindo sua atuação no cargo.
Por lei, é considerada violência política de gênero toda ação, conduta ou omissão com a finalidade de impedir, criar obstáculos ou restringir os direitos políticos de mulheres eleitas ou que ocupam cargos públicos.
Ela citou casos que aconteceram na Câmara de Vitória, como quando o vereador GIlvan da Federal (PL) mandou a vereadora Camila Valadão (Psol) calar a boca dentro do plenário da Casa.
“Naquela época, liguei (para Camila) e prestei minha solidariedade, mas pela tensão política da gestão, não só no Executivo como no Legislativo, não foi confortável nem pra mim nem pra ela manter algo público”, afirma.
Na terça-feira (9), a vereador Karla Coser (PT), que também já foi vítima de violência política na Câmara, usou da palavra para prestar solidariedade à Capitã Estéfane. Karla e Camila se pronunciaram também pelas redes sociais.
“Elas também passaram por muita perseguição política na Câmara pelo fato de serem mulheres. É muito triste a pessoas aplaudirem atos de violência contra as mulheres, contra seres humanos que pensam diferente“, apontou.
Em nota, o prefeito Lorenzo Pazolini afirmou "seu total respeito à vice-prefeita Capitã Estéfane". Ele apontou que a lei municipal descreve como funções do cargo de vice-prefeito a substituição do prefeito caso ele se ausente e a prestação de ajuda quando convocado. Leia nota na íntegra abaixo.
O Prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini, afirma seu total respeito à vice-prefeita Capitã Estéfane. O Artigo 104 da Lei Orgânica Municipal prevê que o (a) Vice-Prefeito (a) "substituirá o (a) Prefeito (a) Municipal, no caso de impedimento ou licença, e suceder-lhe-á no de vaga, o Vice-Prefeito (a)." O Artigo 104 ainda prevê que "o (a) Vice-Prefeito (a), além de outras atribuições que lhe forem conferidas por lei, auxiliará o Prefeito (a) Municipal sempre que por ele convocado para missões especiais." Na ocasião citada, o Prefeito estava presente no local, e a Vice-Prefeita chegou com a agenda em andamento. No dia 09 de fevereiro de 2021, a Capitã foi nomeada Secretária Municipal da Cultura, conforme Decreto n⁰ 18.835/21, cargo este que preferiu não assumir. Cabe acrescentar que a Vice-Prefeita foi designada para a coordenar a organização e entrega da principal política pública em Defesa da Mulher do município, a Casa Rosa, trabalho que incluiu outras secretarias da municipalidade. Politica pública instituída por meio do Decreto n⁰ 20.084/21. É importante destacar ainda que a Vice-Prefeita sempre teve e tem oportunidade de fala nos eventos oficiais e possui interlocução com todos os secretários e o prefeito, que estão integralmente à disposição para proposições, críticas e diálogo. Um exemplo disso, foi a agenda realizada no início da manhã da última 2a feira, quando a vice-prefeita falou aos presentes. Na solenidade desta quarta-feira (09), a Vice-Prefeita chegou quando a solenidade já estava se aproximando do fim. Era uma agenda com idosos e, buscando não prolongar a atuvidade e seguindo a Lei Orgânica Municipal, a fala foi conduzida pelo prefeito. Em relação aos cargos alegados pela Vice-Prefeita, é imperativo ratificar a premissa da administração de reduzir em 50% o número de cargos comissionados e de nomear profissionais priorizando o critério técnico e a gestão por resultados.
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