O uso medicinal da maconha (Cannabis sativa) é autorizado no país, mas ainda cercado de limitações. Para ampliar o acesso da população ao canabidiol — extrato retirado da planta para tratamentos de saúde —, o Capitão Vinicius Sousa, candidato ao governo do Estado pelo PSTU, defende a produção no Espírito Santo.
Ao falar de suas propostas em sabatina promovida por A Gazeta e CBN Vitória, nesta sexta-feira (23), o Capitão Vinicius Sousa reforçou a importância de colocar a pauta em debate, fazendo parceria com as universidades. Ele disse que a ideia é plantar maconha para aproveitar as propriedades medicinais da planta na produção do canabidiol. O candidato lembrou que o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou a compra da substância, mas que pretende, se eleito, batalhar para o Congresso Nacional tornar a autorização uma lei.
"Não podemos nos furtar a convocar as massas a participar desse debate necessário. E com a universidade, que detém o conhecimento técnico. Eu não sei detalhar como se dá a extração do óleo, do canabidiol. Mas eu sei dizer que esse tema (drogas) tem sido tratado com profunda hipocrisia. A guerra às drogas, isso não existe. O que existe é uma guerra aos pobres. E eu entendo que as propriedades medicinais da maconha e de todas as outras substâncias devem ser exploradas. O Estado tem que fazer isso", frisou.
Capitão Vinicius observou que, muitas vezes, pesquisadores brasileiros estudam, preparam suas teses, apresentam no exterior e, depois, não conseguem garantir a patente do que descobriram.
"Daqui a pouco, o próprio especialista que produziu aquele estudo está pagando royalties para a indústria farmacêutica. Por isso eu defendo que nós façamos. E temos condições climáticas para fazer. (O canabidiol atende) pessoas com transtorno do espectro autista, com Parkinson, com Alzheimer e tantas outras terapias. É preciso que os profissionais de saúde tenham autoridade e os recursos para tratar a classe trabalhadora. O rico já tem acesso, pode plantar a maconha dele, poder comprar o CBD (canabidiol), que é caro. Agora, o mais pobre não tem acesso a nada disso. Nós queremos que seja dado o acesso."
A saúde, a propósito, está na lista de prioridades do plano de governo do Capitão Vinicius, que reforça uma abordagem que tem sido bastante utilizada nesta campanha, que é a regionalização dos serviços.
Mas o candidato, se eleito, também tem uma visão particular sobre a educação e cultura. Ele planeja construir teatros e bibliotecas públicas em todos os municípios, inclusive como estratégia para reduzir a violência.
"Vemos na educação e na cultura uma solução para problemas que nós enfrentamos em diversos níveis como, por exemplo, na segurança pública. A falta de acesso a uma escola integral repercute de maneira violentíssima e é um fator que tem tirado a vida de inúmeros adolescentes. Queremos assegurar que eles estejam perante professores, em espaços adequados, em escolas, teatros, acessando a cultura, o que nós temos de riqueza nesse Estado. Isso tem um impacto imediato na segurança pública, além dos reflexos de médio e longo prazo que o acesso à cultura e à educação de qualidade propiciam ao cidadão, aos filhos da classe trabalhadora. Nós precisamos assegurar tudo isso."
Diante das propostas que apresentou, o candidato foi questionado sobre de onde retiraria os recursos para os investimentos previstos. Para ele, sem tocar na propriedade não é possível e sustentou que o Estado precisa retomar as riquezas que, em sua avaliação, foram retiradas da população por meio de concessões e privatizações.
"O que ocorre é que essa nossa crença de que entregando para a iniciativa privada eles irão investir é uma opinião equivocada. Temos inúmeros exemplos. O mais recente deles é a Eco101, que se apoderou do valor do pedágio que arrecadou e, simplesmente, não entregou aquilo que foi acordado", exemplificou.
Capitão Vinicius retornou a esse ponto da retomada das riquezas algumas vezes ao longo da entrevista, mas não deixou claro de que maneira o Estado poderia recuperar recursos de privatizações já realizadas.
Outro ponto bastante discutido do programa de governo é a proposta de reduzir o número de municípios do Espírito Santo, passando de 78 para 10 — a quantidade atual de regiões. Na avaliação do Capitão Vinicius, há cidades muito pequenas, com gastos enormes para manter a estrutura pública e a verba hoje utilizada para sustentá-la poderia ser aplicada melhor em serviços públicos.
"Temos que investir em educação, escola de tempo integral. Não deve ser mais uma escola modelo, mas um novo modelo de escola com todos os adolescentes em tempo integral. Precisamos também de creches em tempo integral para todas as crianças e não apenas para algumas delas. Um modelo universalizado. Mas o que estamos fazendo? Mantendo 73 (são 78) Câmaras Municipais, mais de 700 secretarias municipais. Essas Câmaras estão na maioria das vezes replicando a lei do município vizinho, sequer analisam as peculiaridades daquela população. Atuam uma vez por semana, no dia em que se reúnem. É um custo astronômico para o município manter essa máquina administrativa", pontuou.
Capitão Vinicius Sousa assegurou que a medida, para ser implementada, não se dará por meio de uma "canetada" do gabinete do governador. Haveria consulta à população de cada cidade sobre o desejo de se juntar a outros municípios, mantendo determinada autonomia, mas reduzindo custos com estrutura administrativa. "Seria mais importante, muito mais, que nós tivéssemos esse dinheiro investido diretamente na prestação de serviços à população", argumentou.
A consulta popular, inclusive, é um instrumento ao qual o Capitão Vinicius Sousa pretende recorrer para diversas decisões de governo. "No atual sistema político, não há sequer espaço para isso. Não porque a Constituição proíbe, mas, ao contrário, estimula a participação direta das pessoas. Então, nada disso é ilegal. Agora, temos que compreender que existe uma cultura política detestável no Brasil, impulsionada pelo interesse de particulares, de grupos milionários que controlam a nossa economia e nossa política. Ou nós nos desesperamos, ou nós partimos para luta para transformar essa realidade."
Capitão Vinicius se apresenta como um revolucionário de esquerda e, em sua opinião, a democracia precisa avançar muito. "Essa democracia burguesa elegeu um protofascista. Não estou criticando a democracia, mas dizendo que precisamos avançar. Não podemos dizer que, por termos orgulho das conquistas que já tivemos, devemos parar e dizer que estamos satisfeitos. Não! E se o povo não participa, não se sente proprietário disso."
Para a sabatina, foram convidados os cinco candidatos mais bem colocados na pesquisa Ipec/Rede Gazeta divulgada no dia 2 de setembro. A ordem dos sabatinados teve como base a colocação do candidato na sondagem estimulada de intenção de votos.
A série começou na segunda-feira (19) com o governador Renato Casagrande (PSB), candidato à reeleição, seguiu com Carlos Manato (PL), Guerino Zanon (PSD), com Audifax Barcelos (Rede) e terminou nesta sexta, com o Capitão Vinicius.
Os candidatos Aridelmo Teixeira (Novo) e Cláudio Paiva (PRTB), que não estavam entre os cinco mais bem colocados na pesquisa Ipec, mas pontuaram, vão participar de uma entrevista com duração de cinco minutos a ser veiculada no sábado (24) na rádio e no site.
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