A capixaba Fernanda Guimarães de Albuquerque, de 44 anos, foi a autora do vídeo que viralizou nas redes sociais na tarde de sábado (29) ao desmentir a versão dada pela deputada federal reeleita, Carla Zambelli (PL-SP), de que teria sido empurrada no chão por um eleitor de Lula, após uma discussão.
As imagens registradas pela publicitária mostraram que Carla caiu sozinha antes de correr atrás do jornalista Luan Araújo, no bairro Jardins, em São Paulo (SP), enquanto empunhava uma arma.
Fernanda conta que mora em um prédio na mesma rua em que aconteceu a confusão, e que estava retornando para casa com o marido quando eles escutaram as discussões.
"A gente estava chegando em casa e viu essa confusão no restaurante que fica na frente do meu prédio. A gente estava acompanhando de longe, eu e meu marido. A gente achou inicialmente que era um episódio de racismo, né? (sic) Porque tinha uma pessoa preta e tinha uma discussão, e aí o meu marido foi para o meio da confusão, ainda com a intenção de ajudar o rapaz. Porque se fosse um caso de racismo, a gente poderia testemunhar. E eu comecei a filmar.”
Somente quando já estava filmando a cena a capixaba se deu conta de que a mulher envolvida nas perseguições era a parlamentar reeleita, Carla Zambelli (PL-SP).
“Depois a gente entendeu que era uma discussão sobre posicionamento político e eu não sei até agora direito como continuei filmando porque quando a confusão começa, ele (eleitor perseguido) corre na direção que eu estou. O rapaz que estava sendo perseguido fica atrás de mim. E eu não parei de filmar, nem na hora que ouvi o tiro. Depois que eles começaram a correr na direção contrária da onde eu estava, que eu perdi o rapaz de vista, eu parei de filmar, e aí liguei para o 190 e fiz a denúncia”, conta Fernanda, que vive em São Paulo desde 2011.
Em um relato publicado nas redes sociais após ser flagrada perseguindo o jornalista Luan Araújo, eleitor de Lula, a parlamentar argumentou que havia sido vítima de agressões e que teria sido empurrada no chão. Chegou a mostrar o joelho ralado.
Além do vídeo de Fernanda, outras imagens se disseminaram nas redes sociais rapidamente após o ocorrido, mostrando que não houve agressão à parlamentar.
“Liguei pra polícia daqui do bairro e falei que tinha acontecido”, contou Fernanda. “Me identifiquei e a polícia chegou muito rápido, mas eu não quis ficar lá embaixo, porque depois eu me dei conta do que tinha acontecido. Fiquei nervosa e eu e meu marido subimos pra casa, mas isso foi por volta das 5 horas da tarde. Quando a gente subiu já estava até começando o jogo do Flamengo.”
Segundo Fernanda, as ofensas escutadas foram somente de cunho político. Não houve, no momento em que presenciou a cena, verbalizações de ofensas racistas.
E acrescenta: “Na hora, a gente agiu sem pensar, foi só com o coração mesmo. Poderia ter dado ruim (gravar), mas ainda bem que ajudou.”
A deputada federal reeleita Carla Zambelli (PL-SP), uma das principais aliadas do presidente Jair Bolsonaro (PL) no Congresso, se envolveu neste sábado, 29, em uma confusão nos Jardins, em São Paulo.
Em vídeos divulgados nas redes sociais, a parlamentar aparece empunhando uma pistola enquanto persegue um homem negro, que é agredido por outras pessoas. Um tiro é disparado pelo grupo do qual fazia parte a deputada. Carla alega ter sido agredida.
Segundo relatos do jornalista Luan Araújo, o homem perseguido por Zambelli, o atrito teve início quando saía de uma hamburgueria com um boné do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e ouviu um grito de “amanhã é Tarcísio”, referente à disputa ao governo paulista entre Tarcísio Freitas (Republicanos) e Fernando Haddad (PT).
Ele teria respondido “amanhã é Lula”, dando continuidade às provocações. A discussão se agravou e ambos os lados começaram a se xingar, segundo o jornalista. Em algum momento, ele se afasta e, conforme registrado em vídeo, Carla vai atrás, tropeçando no caminho antes de persegui-lo, empunhando uma arma, até o interior de um bar.
A Polícia Civil investiga o caso. Um segurança da deputada federal, identificado apenas como Daniel, foi preso em flagrante pela Polícia Civil no início da madrugada deste domingo, 30, sob a acusação de disparo de arma de fogo. Ele vai passar por audiência de custódia diante da Justiça, que definirá sobre a manutenção da prisão.
Luan prestou queixa no 4º Distrito Policial, no bairro Consolação, em São Paulo, para prestar queixa contra Zambelli e outros envolvidos na perseguição. Os advogados do jornalista alegam que ele foi vítima de racismo e que houve disparo de arma de fogo e porte ilegal de arma na véspera da eleição. "Eu ia a uma comemoração de chá de bebê e acabei o dia com uma arma apontada para mim por causa de discussão política", disse Luan ao Estadão de S.Paulo.
Com informações da Agência Estado
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