As taxas de cobertura da atenção básica, do abastecimento de água, do atendimento de esgoto e de matrículas em creches estão abaixo do ideal em Cariacica, como mostra o estudo Desafios da Gestão Municipal (DGM) de 2024, realizado pela Macroplan Analytics. Considerando também outros indicadores de segurança, educação, saúde e saneamento, o município tem a menor qualidade de vida em comparação com as demais cidades da Grande Vitória.
A pesquisa analisa os 100 maiores municípios brasileiros para avaliar e ranquear a qualidade de vida dos respectivos moradores. Cariacica ocupa o 79ª lugar no ranking geral, ficando atrás de Vitória (20º), Vila Velha (46º) e Serra (53º).
Além dos destaques positivos em cada área, o DGM sinaliza quais são os desafios que os municípios enfrentam, o que, de acordo com o sócio-diretor da Macroplan e coordenador do estudo, Gustavo Morelli, estimula a melhoria da gestão pública e também a cobrança da sociedade em torno dos resultados esperados, visto que evidencia os avanços e as dificuldades de cada cidade.
Para que o relatório sirva como base para políticas públicas mais assertivas, os desafios municipais são divididos em três categorias, explicadas no fim da matéria. Os indicadores utilizados no estudo são de fontes públicas e oficiais, atualizados com frequência, e indicam se o objetivo final daquela área foi cumprido ou não.
A partir destes apontamentos, é possível identificar, em cada cidade estudada, quais problemas são mais graves e, por isso, devem estar no centro das ações administrativas nos próximos anos.
Os índices de saúde em Cariacica apresentaram a maior evolução, subindo 22 posições no ranking – está em 56º lugar. Apesar da melhora significativa, a taxa de cobertura de atenção básica ocupa a 97ª posição – pior colocação de um indicador cariaciquense.
O dado revela uma realidade muito longe da que é considerada ideal: apenas 42% dos cariaciquenses são cobertos por equipe de atenção básica, enquanto o valor de referência é de, no mínimo, 71,5% de cobertura às pessoas sem plano de saúde.
As taxas de mortalidade infantil (10,3) e mortalidade prematura por Doenças Crônicas Não Transmissíveis (373,8) estão distantes dos valores de referência, que são, respectivamente, menores que 10 a cada mil nascidos vivos e 312,5 a cada 100 mil habitantes.
Já no ranking de saneamento, Cariacica caiu quatro posições e está em 86º lugar. No município, não são atingidos os valores de referência das taxas de esgoto tratado e atendimento de esgoto, que chegam a apenas 23,7% e 35,5%, respectivamente. De acordo com o Marco Legal do Saneamento, até 2033, 90% do esgoto deve ser tratado e coletado.
Além desses, é um desafio crítico – piorou ao longo do tempo e não atinge o índice ideal – da cidade a taxa de atendimento de água, que chega a 84,7%, enquanto o ideal é superar 99% até 2033. Em 2010, a taxa era de 96,8%.
Sobre o tema, a Prefeitura de Cariacica informou à reportagem de A Gazeta que a atual gestão – conduzida pelo prefeito Euclério Sampaio (MDB) – fixou até 2026 a meta de universalizar o saneamento básico no município. Para isso, obras estão sendo realizadas, como a construção de duas novas Estações de Tratamento de Esgoto (ETE), em Flexal e Bandeirantes, e a ampliação da rede coletora em vários bairros.
Na segurança, assim como os municípios vizinhos, Cariacica tem taxas de homicídios e de óbitos no trânsito acima dos níveis de referência: 38,5 e 13,9 a cada 100 mil habitantes, respectivamente – os valores de referência são 10 e 8,7, respectivamente. Mesmo assim, os índices melhoraram e o município subiu nove posições no ranking da área ao longo do período analisado, atingindo o 88º lugar. Porém, essa colocação ainda é a pior entre as cidades da Grande Vitória analisadas.
Sobre os números da área, a prefeitura informa que a cidade teve uma redução histórica no número de homicídios em 2023, encerrando com o menor índice dos últimos 27 anos. “Em 2024, a tendência de queda nos homicídios permanece: de janeiro a setembro, foram registrados 83 assassinatos na cidade, consolidando a redução contínua da violência”, diz a nota. Segundo a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp), o município registrou 114 assassinatos ao longo do ano passado.
Outras ações para diminuir os óbitos, de acordo com a gestão, incluem a atuação da Guarda Municipal em parceria com as demais forças de segurança do Estado, a revitalização de espaços públicos, melhorias na iluminação e a modernização do sistema de videomonitoramento.
A cidade também avançou na educação: subiu três lugares e está na 66ª colocação. Os desafios da área, ainda existentes, envolvem a taxa de matrículas em creches (21,5%) e o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) do ensino fundamental 1 (5,7) e 2 (4,7) – os valores de referência são pelo menos 50%, maior que 6 e 5,5, respectivamente.
A prefeitura enfatiza que tem ampliado as vagas na rede municipal de ensino e que, para sanar as necessidades, está construindo novos Centros Municipais de Educação Infantil.
A Macroplan, para comparar a evolução dos municípios ao longo da década, utilizou os indicadores de 2010 a 2011 e os de 2022 a 2023, a depender da frequência de realização das pesquisas e dos levantamentos. Os 15 indicadores observados são: na área da Educação, as taxas de matrículas em creche e na pré-escola (Censo Escolar e IBGE), Ideb Ensino Fundamental 1 e Ideb Ensino Fundamental 2 da rede pública (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - Inep); na Saúde, mortalidade prematura por doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), nascidos vivos com pré-natal adequado, mortalidade infantil (DataSUS) e cobertura da atenção básica (Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde e IBGE); na segurança, as taxas de homicídios e de óbitos no trânsito (DataSUS e IBGE); e, por fim, na área de saneamento e sustentabilidade, esgoto tratado, perdas na distribuição de água, atendimento de água, coleta de lixo e atendimento de esgoto (Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento).
Os desafios podem ser de trajetória, que indicam uma piora nos números absolutos ao longo da década; de nível, sinalizando uma melhora em números absolutos, mas ainda insuficiente para que a taxa alcance o patamar adequado – chamado de valor de referência; e, por fim, o desafio crítico engloba as duas questões: além de estar abaixo do ideal, o índice também piorou ao longo do tempo.
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