A carta dos "Governadores pelo Clima" destinada ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, assinada por 24 dos 27 governadores brasileiros, foi bem recebida pela Casa Branca. A informação é do embaixador dos EUA, Todd Chapman, em entrevista para A Gazeta nesta quinta-feira (22), após uma reunião entre o diplomata norte-americano e o governador do Estado, Renato Casagrande (PSB).
Resultado de uma articulação de Casagrande, o documento, em que os chefes dos Executivos estaduais se comprometem com a "emergência climática global" e pedem cooperação para questões ambientais, foi entregue a Chapman em uma cerimônia virtual na terça-feira (20), dois dias antes da Cúpula de Líderes sobre o Clima, convocada por Biden.
"A carta do grupo de governadores em prol da proteção do meio ambiente, com a liderança do governador Casagrande, foi muito bem recebida pelo meu governo. Nos reunimos há dois dias para falar sobre o tema. É muito importante essa liderança sair dos Estados e sair do Espírito Santo, queria reconhecer isso, porque o governo federal tem sua responsabilidade, mas os Estados também têm. E hoje (22), no dia da Cúpula do Clima, acho importante enfatizar a importância das iniciativas saindo dos Estados", afirmou o embaixador.
Durante a reunião nesta quinta, realizada na Embaixada americana em Brasília, o representante dos EUA e Casagrande assinaram um memorando de entendimento entre o governo do Espírito Santo e a embaixada norte-americana no Rio de Janeiro, para expandir a cooperação entre os dois dois entes em diversas áreas, como logística e educação.
A carta enviada para Biden é mais um movimento encabeçado por governadores que representa um contraponto às ações e aos discursos do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido). A tensão entre as lideranças nacionais e estaduais têm se acirrado ao longo da pandemia do novo coronavírus. Dessa vez, a agenda do meio ambiente, historicamente capitaneada pelos governos federais, foi o tema do documento endereçado à Casa Branca, o que colocou os chefes de Executivos estaduais na ponta das negociações entre os dois países.
Durante a cerimônia de entrega da carta, Casagrande afirmou que a iniciativa não é uma concorrência com as ações do governo Bolsonaro, mas sim uma resposta para "responsabilidades e compromissos" que as unidades federativas têm, "independentemente do governo federal".
"Nestes últimos dois anos e pouco, o governo federal não deu muita atenção ao tema ambiental, mas queremos que ele dê, e estamos fazendo isso para que o governo federal possa recuperar a sua prática, entrar no tema e nós também entrarmos no tema, junto com toda a sociedade brasileira", disse Casagrande.
A carta não cita o nome do presidente da República e a única referência indireta feita ao governo federal é para sustentar que a coalizão dos chefes dos Estados é ampla e composta por "situação e oposição". A cerimônia de entrega do documento foi realizada às vésperas da Cúpula do Clima, que reuniu 40 líderes mundiais – incluindo Bolsonaro, ao lado do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, – para debater as mudanças climáticas em razão da emissão de gases do efeito estufa, a pedido de Joe Biden.
O Brasil era visto como um país que participava ativamente das ações de combate às mudanças climáticas. Contudo, o governo Bolsonaro tem perdido acordos internacionais e sido duramente criticado por outros líderes mundiais quanto à política ambiental brasileira. O movimento dos governadores, portanto, também foi visto como uma forma de se antecipar ao que seria dito pelo presidente na Cúpula do Clima.
Apenas os chefes de três Estados não assinaram o documento: Daniela Reinehr (sem partido), governadora interina de Santa Catarina; Coronel Marcos Rocha (PSL-RO), de Rondônia; e Antonio Denarium (sem partido), de Roraima. No texto, os líderes estaduais se colocam como os responsáveis pela Amazônia e se dizem dispostos a implantar ações conjuntas com o governo norte-americano.
"Celebrando a decisão do seu governo em fortalecer a agenda ambiental internacional e o Acordo de Paris, expressamos nossa intenção de implementar ações conjuntas, propondo a cooperação entre os Estados Unidos e os governos estaduais brasileiros, responsáveis pela maior parte da Floresta Amazônica, a mais extensa floresta tropical do mundo, e de outros biomas que, somados, abrigam a mais ampla biodiversidade já registrada e que são capazes de regular ciclos hídricos e de carbono em escala planetária", escreveram.
Casagrande participou ativamente das articulações pelas assinaturas e foi o porta-voz dos governadores na cerimônia de entrega do documento. Segundo o socialista, a escolha para encabeçar o movimento se deve à sua formação técnica. O governador é engenheiro florestal, graduado pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), e atuou em pautas ambientais durante os mandatos de deputado e senador. Quando foi vice-governador na gestão de Vitor Buaiz (1995-1988), ficou quatro anos à frente da Secretaria de Agricultura.
"A carta é assinada por 24 governadores, alguns mais críticos e outros apoiadores do governo federal, de todos os partidos. Está acima de disputas partidárias e ideológicas. Fui porta-voz porque sou engenheiro florestal, faço militância política e técnica nessa área há muito tempo", disse, nesta quinta, para A Gazeta.
Para cientistas políticos, Casagrande tem tomado a frente e assumido o papel de porta-voz do grupo de governadores por ter um perfil mais moderado. Além disso, não tem pretensões de disputar o comando do Planalto e, portanto, não representa uma ameaça aos governadores que já rivalizam com Bolsonaro de olho na Presidência.
Com colaboração de Natalia Bourguignon.
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