Enquanto parte da bancada capixaba já se movimenta para integrar a comitiva que vai acompanhar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) durante visita ao Espírito Santo, prevista para sexta-feira (11), o governador Renato Casagrande (PSB) ainda não foi comunicado oficialmente sobre o evento.
O governo estadual foi acionado pela Presidência da República somente para tratar de protocolos de segurança. Segundo o Palácio Anchieta, Casagrande aguarda receber o convite do governo federal.
Nos bastidores, especula-se que o socialista pode não ser convidado para participar da agenda de Bolsonaro no Espírito Santo, que inclui a inauguração de 400 casas populares no município de São Mateus. Isso já aconteceu em outros Estados, como Pernambuco e Piauí, onde governadores também fazem oposição a Bolsonaro.
Desde o início da pandemia, Casagrande tem sido crítico a posturas do governo federal no enfrentamento à Covid-19.
Dentro da programação de Bolsonaro também está prevista uma saudação a apoiadores no Aeroporto de Vitória, onde o presidente vai desembarcar. Geralmente, a recepção é feita por governadores de Estado. É possível, contudo, que Casagrande não compareça ao local devido à possibilidade de aglomeração.
"Até então, o governador estaria disposto a receber o presidente no aeroporto, como manda o protocolo, mas há um receio de grande concentração lá, o que pode dificultar esse encontro. Isso criaria um clima não muito amigável, já que o governo do Estado é crítico a aglomerações", afirmou um parlamentar capixaba da base do governo.
Por meio de nota, o governo do Estado informou que "o gabinete do governador não recebeu a programação oficial para participar da agenda".
Oficialmente, nem os parlamentares capixabas foram informados da agenda do presidente durante visita ao Estado. A assessoria de imprensa do Planalto informou que os convites ainda não foram disparados e que isso deve ser feito na quinta-feira (10), um dia antes da visita. A agenda ainda está em elaboração.
Apesar disso, integrantes da bancada capixaba, principalmente os mais alinhados ao presidente, já se inscreveram para compor a comitiva que deve acompanhar Bolsonaro de Brasília até São Mateus. Pelo menos quatro deputados federais devem sobrevoar o Estado de helicóptero com o chefe do Executivo federal. Entre eles Evair de Melo (PP), um dos vice-líderes do governo na Câmara.
"Vão ser dois helicópteros, um com nove passageiros, outro com 13. Os parlamentares têm até amanhã [quarta-feira (9)] para enviar um requerimento à Presidência para estar na comitiva que vai acompanhar o presidente de Brasília até aqui. Provavelmente, além de mim, estarão os deputados Neucimar Fraga, a deputada Soraya Manato e o deputado Da Vitória, que é líder da bancada. Alguns ministros como Tarcísio [Infraestrutura], Rogério [Desenvolvimento Regional] e general Ramos [Casa Civil] também devem estar presentes", afirmou Evair.
É esperado que o senador Marcos Do Val (Podemos) e o ex-senador Magno Malta (PL) também façam parte do grupo.
A presença de Casagrande na agenda de Bolsonaro ainda é incerta. Primeiro, porque não se sabe se o governador vai ser comunicado oficialmente sobre a visita e convidado a acompanhar o presidente. Caso seja, há dúvidas se Casagrande participaria de eventos ao lado do chefe do Planalto, em quem ele disse "ter perdido a esperança".
Durante a pandemia, o socialista se tornou um "porta-voz" dos governadores no último ano. Em diversos momentos, Casagrande criticou ações do governo federal e classificou como irresponsáveis algumas declarações do presidente. O governador capixaba também afirmou que Bolsonaro precisava liderar e que ele não poderia ser líder de uma "facção política".
Em março deste ano, Casagrande acusou Bolsonaro de torturar números para inflar repasses de verba federal ao Estado. Na ocasião, o presidente divulgou que havia repassado R$ 16,1 bilhões ao governo do Espírito Santo no enfrentamento à pandemia. Conforme verificado por A Gazeta, o valor repassado foi de cerca de R$ 2 bilhões.
Parlamentares mais alinhados ao presidente afirmam que não há clima para o encontro entre os dois e não veem sentido em uma recepção por parte do governador do Estado. "Se eu fosse o governador, não esperaria um convite", disse um parlamentar capixaba.
Parte da bancada, que é mais próxima do governador, avalia, no entanto, que a ausência de Casagrande pode soar como desrespeito ao presidente da República, que deve comunicar o governo estadual sobre a visita.
"O governo federal deve, sim, emitir um comunicado ao governador sobre a visita do presidente. Isso não aconteceu ainda porque a agenda não foi fechada. Pode ser que o convite até seja estendido a São Mateus e, por questão extremamente diplomática, o governador vá até lá", disse um deputado da base de Casagrande.
Esta será a primeira visita do presidente Jair Bolsonaro ao Espírito Santo. A agenda em solo capixaba foi divulgada após A Gazeta publicar uma reportagem apontando que o Estado era o único não visitado pelo presidente durante o mandato.
A visita foi marcada após pressão política de aliados e é vista como estratégica no momento em que o presidente tem a imagem desgastada na CPI da Covid no Senado. O objetivo é tanto consolidar o eleitorado que o apoiou nas últimas eleições quanto unir os grupos políticos conservadores que giram no entorno de Bolsonaro.
Em 2018, Bolsonaro recebeu 63% dos votos válidos no segundo turno no Espírito Santo.
A agenda do presidente ainda está sendo elaborada e só deve ser confirmada na quinta-feira (10). Segundo deputados bolsonaristas da bancada capixaba, há previsão que ele desembarque em Vitória por volta das 13h30 e cumprimente apoiadores no aeroporto. Manifestações na Capital ainda estão sendo avaliadas pela equipe da Presidência.
Por volta das 15h, Bolsonaro deve chegar de helicóptero a São Mateus, onde vai inaugurar cerca de 400 casas populares do antigo programa Minha Casa Minha Vida. No trajeto, ele vai passar pelo Contorno do Mestre Álvaro, onde deve protagonizar o ato simbólico de detonar uma rocha.
O presidente deve retornar a Vitória por volta das 17h e, então, seguir para Brasília.
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