O governador Renato Casagrande (PSB) declarou abertamente apoio à candidatura do deputado estadual Marcelo Santos (Podemos) para o comando da Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales), mas garantiu que não há veto ao nome do deputado estadual Vandinho Leite (PSDB), que também mantém o nome na disputa. Como os dois fazem parte da base de apoio do governo no Legislativo estadual, Casagrande ainda espera que haja consenso para a formação de chapa única, com apoio também de todos os 30 parlamentares que tomarão posse no dia 1º de fevereiro.
Questionado sobre o porquê de declarar apoio a um nome publicamente, algo que não fez em outras eleições da Mesa Diretora da Ales, o governador respondeu que tentou evitar manifestação de qualquer preferência, mas à medida que a disputa foi afunilando, com a desistência dos deputados do PSB Tyago Hoffmann e Dary Pagung, e sem um acordo por chapa única entre Marcelo e Vandinho, decidiu estabelecer critérios para apoiar um dos dois. Em disputas anteriores, houve consenso sem precisar do governador se manifestar.
"Eu tinha dois bons candidatos, dois aliados, mas uma parte dos deputados que representa a base de sustentação do governo não queria decidir sem me ouvir. Evitei me manifestar, mas a partir do momento que não consegui mais afunilar para uma candidatura única, tive de estabelecer critérios objetivos. Escolhi o Marcelo por ser o deputado com o maior número de mandatos na Assembleia, não ser candidato a deputado estadual na próxima eleição, nem a prefeito (de Cariacica, em 2024), por ter uma relação mais antiga de estabilidade política comigo", pontuou Casagrande em entrevista para a reportagem de A Gazeta nesta quarta-feira (25)..
Ele ressaltou, contudo, que a sua escolha por apoiar Marcelo Santos "não significa nenhum veto ao Vandinho". "Eu tinha dois bons nomes e precisava dizer a quem queria me ouvir qual era o candidato. Então, por isso fui levado a fazer uma indicação respeitosa aos parlamentares que queriam a minha opinião", acrescentou.
Questionado se esse posicionamento compensa o desgaste ao governo diante da possibilidade de manutenção da candidatura de Vandinho e de uma disputa entre duas chapas lideradas por deputados da base governista, além de um possível racha na base, Casagrande tentou minimizar a situação e afirmou que esse possível racha "poderia acontecer de qualquer maneira".
Um dos insatisfeitos declarados é o deputado Theodorico Ferraço (PP), ex-presidente da Casa e pai do vice-governador e secretário estadual de Desenvolvimento, Ricardo Ferraço (PSDB).
Casagrande continuou: "Decidi fazer uma indicação com base em critérios. Meu objetivo é que a gente possa tentar buscar uma união da Assembleia toda, dos 30 parlamentares, em torno de uma chapa única, mas isso está muito na legitimidade da Assembleia Legislativa. Espero que não tenha disputa, mas, se tiver, a Assembleia tem regras claras para isso", frisou.
Para que haja um consenso entre Marcelo e Vandinho, sendo que o governo está defendendo agora abertamente o apoio ao primeiro e a única possibilidade de candidatura única passa pela desistência do pessedebista, Casagrande aposta na reflexão dos deputados. Ele não disse se o que será oferecido ao deputado para demovê-lo da disputa.
"Os deputados precisam conversar entre eles e o Davi Diniz (secretário da Casa Civil) está legitimado por mim para conversar com quem quiser dialogar, seja da base do governo ou da oposição. E se o deputado Vandinho tiver disposição de conversar pra buscar o entendimento, o Davi vai colaborar muito nessa nesse trabalho", ressaltou.
Mesmo apontando como um dos critérios para ter escolhido apoiar Marcelo Santos o fato de ele ter garantido que não entrará na disputa para prefeito, em 2024, Casagrande negou que tenha havido qualquer influência de lideranças da Serra para que Vandinho não fosse o escolhido. O atual prefeito da Serra, Sérgio Vidigal (PDT), é aliado de primeira hora do governador e há outros nomes do município serrano que estão na base do governo ou em partidos aliados.
"Essa decisão foi minha, reflexão minha, não quero compartilhar essa responsabilidade com ninguém. Foi uma decisão difícil, mas que eu precisava tomar porque estava tudo engessado e parado me esperando. Eu não podia chegar no dia 1º (de fevereiro) sem me manifestar. Se não, podia dar um estresse lá na frente sem a gente ter tempo de conseguir se articular".
O governador negou também que a movimentação de Vandinho em torno de parlamentares de oposição tenha sido decisivo na sua escolha, pois garantiu que todos os movimentos do deputado do PSDB e de Marcelo Santos foram comunicados a ele.
A eleição para a Mesa Diretora da Assembleia Legislativa está marcada para o próximo dia 1º. Os parlamentares tomam posse no mesmo dia, às 10 horas.
Ao longo de uma semana, os deputados podem manter as duas candidaturas e levar a Casa para uma disputa que não ocorre há 20 anos — a última vez que houve duas chapas para presidente da Assembleia foi em 2003 —, o que pode provocar um racha na Casa e na relação com o governo.
Nesse também, também podem chegar a um consenso e manter a tradição das últimas eleições no Legislativo estadual com inscrição de uma chapa única.
O que vai acontecer ao longo desses sete dias até a hora da votação ainda não se sabe, mas certamente pode definir os rumos da relação entre a Assembleia e o governo pelos próximos dois anos, pelo menos, que é o tempo de duração do mandato do presidente da Ales. O eleito vai substituir o atual presidente da Casa, Erick Musso (Republicanos), que deixa o Legislativo após três mandatos consecutivos no comando da Assembleia.
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