Seis dias após seu governo ser alvo de acusações de práticas supostamente ilícitas por parte do prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos), o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), afirmou que a declaração do prefeito foi "muito violenta e mentirosa". Ele também declarou não compreender quais são as motivações e as razões de Pazolini para "ficar permanentemente com uma disputa com o governo do Estado".
As declarações do governador foram concedidas à reportagem de A Gazeta ao final da solenidade de posse dos novos desembargadores do Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES), Raphael Americano Câmara e Marianne Júdice de Mattos, nesta quinta-feira (19).
Para Casagrande, ao afirmar que teria recebido uma proposta de uma autoridade do governo, dentro do Palácio Anchieta, Pazolini estaria se referindo diretamente a ele.
No último sábado (14), ao discursar na inauguração de uma escola em Jardim Camburi, o prefeito de Vitória afirmou ter recebido proposta de uma autoridade do governo estadual para participar de esquema fraudulento em uma licitação do Estado para obra na Capital. A proposta teria sido feita em uma reunião no Palácio Anchieta, em 2021, mas ele não citou nome do envolvido, nem a data do episódio.
"Eu vi com muita tristeza, na verdade, porque a fala dele foi dirigida ao governador. Não tem nenhuma secretaria que funcione no Palácio Anchieta. Na hora que ele fez menção a uma proposta ilícita, criminosa, naturalmente ele está se referindo ao governador. Isso me deixa muito triste", ressalta o governador.
Indagado se teria falado sobre obras em Vitória em alguma oportunidade que recebeu o prefeito da Capital no Palácio Anchieta, o governador esclareceu que o recebeu junto com o secretário da Casa Civil, Davi Diniz, mas Pazolini foi quem fez uma apresentação de um projeto na área de esportes.
"É muito surpreendente a fala do prefeito, até porque nunca vi um gestor municipal com esse tipo de comportamento. Temos uma história na prefeitura da Capital, independente de quem governa, de que sempre foram dados passos adiante. Todos os gestores deram sequência às gestões, uns mais, outros menos, mas todos sempre interagindo com o governo estadual. Desde que o prefeito Pazolini assumiu a administração da Capital há uma busca incessante para fustigar o governo", criticou o governador.
Casagrande garante que, da parte do governo do Estado, nunca houve nenhuma iniciativa para criar nenhum tipo de constrangimento à prefeitura. Por outro lado, alega que desde ações relacionadas à pandemia, sempre houve contraponto da prefeitura às medidas tomadas pelo governo estadual, muitas vezes dando encaminhamento diferente.
"A declaração que ele fez foi uma declaração muito violenta. Violenta, mentirosa, que exige que de fato isso seja apurado, para deixar tudo claro, transparente. Eu não posso viver nesse ambiente permanente de construção de fake news, de ataques. O processo eleitoral e o processo político não podem ser construídos com base na tentativa de assassinar a reputação de outras pessoas. Eu não posso querer assassinar a reputação e matar a honra de quem é adversário. A gente tem que disputar nas ideias", declarou o governador.
Questionado a que atribui as acusações do prefeito, o governador afirmou desconhecer a motivação, uma vez que o prefeito não é candidato ao governo nas eleições deste ano e espera que "institucionalmente o prefeito possa compreender qual o papel dele".
"Ele não é candidato a governador e nem eu mesmo sei se serei candidato. É uma disputa boba. A gente poderia estar junto trabalhando. Ele poderia apoiar quem ele quisesse para governador e eu apoiar quem eu quisesse ou ser candidato. É uma disputa besta essa, desnecessária", acrescentou Casagrande.
O governador ressalta o fato de ter acionado o Ministério Público do Espírito Santo (MPES) imediatamente após o governo ser alvo das acusações do prefeito. A Procuradoria-Geral do Estado (PGE) encaminhou representação no MPES no mesmo dia das declarações de Pazolini, no sábado. Na última terça-feira, dia 17, o MPES notificou o prefeito via e-mail institucional para que apresente, até a próxima terça-feira (24), fatos concretos e explique as acusações sobre a suposta prática de irregularidade em licitação do governo do Estado.
Ao notificar o prefeito, o MPES informou que tanto a representação quanto o discurso foram analisados no âmbito da Procuradoria-Geral de Justiça, que decidiu solicitar mais informações para a complementação da narrativa dos fatos supostamente praticados, quem seriam os autores e quais seriam as consequências jurídicas desses fatos na esfera cível e/ou criminal, bem como se haveria pessoas com prerrogativa de foro envolvidas.
"A única autoridade que despacha no Palácio Anchieta é o governador do Estado. Então, mesmo que ele não tenha dito o nome, ele fez uma acusação ao governador. Então, eu assumi pra mim essa denúncia e pedi imediatamente à PGE para interpelar ao MPES, para dar a ele a oportunidade de apresentar essa denúncia", destacou o governador.
Ao ser questionado se descartava que qualquer membro do governo possa ter feito alguma proposta irregular ao prefeito, Casagrande enfatizou que não pode responder pelos membros do seu governo, mas apenas com relação a si mesmo.
"Estou respondendo pela minha pessoa. Acho que não tem (irregularidade), mas se tiver alguma coisa contra alguém, esse alguém tem responsabilidade com aquilo que fez. Eu não tenho compromisso com erro de ninguém, de ninguém mesmo, nem mais próximo de mim, nem mais distante de mim", declarou o socialista.
Por fim, o governador salientou que ainda está fazendo uma reflexão se vai disputar a reeleição. Para isso, está ouvindo amigos e familiares e só tomará uma decisão em julho, no período de convenções partidárias.
"Política tem que ser uma continuidade da vida da gente, mais uma atividade. A política não pode ser o local em que você ache que vale tudo, que vale você mentir, dissimular, agredir. Não é isso a política. Esse tipo de comportamento de fato me desanima", concluiu.
Na última segunda-feira (16), o prefeito entregou à Superintendência da Polícia Federal no Espírito Santo "documentos contendo informações sobre a possível prática de crimes". A PF, entretanto, não esclareceu se o material tem relação com as acusações de Pazolini contra o governo do Estado.
Desde o último sábado, A Gazeta tem procurado a Prefeitura de Vitória pedindo esclarecimentos sobre as acusações que Pazolini fez em evento oficial, como chefe do Executivo municipal. Nesta quinta-feira (19), a assessoria do prefeito manteve a resposta de que não vai se manifestar sobre o assunto.
Da mesma forma, não respondeu se Pazolini já recebeu a notificação do MPES, se já a respondeu ou quando irá respondê-la. Com isso, já são seis dias sem respostas para os seguintes questionamentos:
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