Na corrida para o governo do Espírito Santo, o candidato à reeleição Renato Casagrande (PSB) saiu das urnas no primeiro turno com 976.652 votos, 176.054 a mais que o segundo colocado, Carlos Manato (PL), que angariou 800.598. Apesar de o atual chefe do Executivo estadual ter largado na frente, a apuração veio com um recado de que o segundo turno, no dia 30 de outubro, será disputado voto a voto.
Os dois candidatos vão brigar por pouco mais de 534 mil votos no Estado. Essa é a soma da votação dos outros nomes na disputa pelo Palácio Anchieta — Aridelmo Teixeira (Novo), Audifax Barcelos (Rede), Capitão Sousa (PSTU), Cláudio Paiva (PRTB) e Guerino Zanon (PSD) tiveram, juntos, 303.398 votos (veja tabela abaixo) — e de brancos e nulos, que foram as escolhas de 230.981 eleitores capixabas no primeiro turno.
As abstenções bateram recorde nas eleições gerais no Espírito Santo em 2022: 606.085, praticamente o dobro do que o registrado por todos os candidatos fora desta nova etapa. Não entram na conta dos votos em disputa por Casagrande e Manato porque, historicamente, o número de pessoas que não comparecem às urnas é ainda maior no segundo turno.
A migração de votos é o primeiro desafio. Nesse quesito, quem sai na frente é Manato, que já tem apoio declarado de Guerino e Aridelmo, terceiro e quinto colocados, respectivamente. Esses candidatos somam 161.963 votos. Mesmo se Manato conseguisse virar todos esses votos para sua candidatura, ele ainda totalizaria menos que o rival angariou no primeiro turno.
Os candidatos Capitão Sousa e Claudio Paiva, que foram os dois menos votados, somam 5.923. Os 4.505 eleitores do primeiro tendem a migrar para Casagrande, seja pelo alinhamento à esquerda do espectro político, seja por rejeição a Manato. Já os 1.418 votos dados a Cláudio Paiva, representante da direita, devem seguir Manato.
Quarto colocado no primeiro turno, Audifax até o momento não declarou apoio a nenhum dos candidatos no segundo turno. O ex-prefeito da Serra, que teve 135.512 votos no primeiro turno, foi um crítico duro do atual governo durante a campanha, mas isso não garante que se coloque na oposição a Casagrande nesta rodada.
De qualquer forma, como observado pela colunista de A Gazeta Letícia Gonçalves, transferência de voto não é ciência exata. O fato de um candidato apoiar outro no segundo turno não significa que seus eleitores vão migrar para o postulante indicado.
Professor do Departamento de Ciências Sociais da Ufes e cientista político, Marcelo Vieira acredita, no entanto, que a maior parte do eleitorado do Audifax migre para Casagrande. O cientista também ressalta que não é garantido que os eleitores sigam o posicionamento de seus candidatos no segundo turno. Mesmo que Manato venha para o segundo turno com mais apoio, segundo Vieira, o atual governador deve manter certa vantagem. "Ele vai explorar bem o próprio governo”, avalia.
A disputa pela Presidência também pode ter influência na corrida local. Segundo especialistas, a força do conservadorismo no Brasil foi refletida nos pleitos locais. No Espírito Santo, a força do bolsonarismo canalizou votos para Manato, como avaliou o cientista político Fernando Pignaton, em reportagem publicada um dia após a eleição.
Marcelo Vieira avalia que o debate local também tende a seguir "mais a polarização e menos questões pragmáticas”. Medidas como o 13° do auxílio emergencial para mulheres chefes de família podem influenciar a decisão dos eleitores em todo Brasil. Manato tem o apoio de Bolsonaro, usando, inclusive, imagens do presidente no material de campanha. Já Casagrande tem um apoio mais comedido a Lula.
Nessa seara, entram em jogo os mais de 200 mil eleitores que optaram por votar em branco ou anular no segundo turno. A polarização pode levar ao voto útil, seja para garantir a vitória do candidato de sua preferência — que pode já ter abandonado a disputa —, mas para apoiar aquele considerado "menos pior" ou para impedir a eleição do adversário, tido como inviável.
Um indício de que a polarização entre Lula e Bolsonaro pode influenciar na escolha do governador é que o número de brancos e nulos na votação para presidente foi menor no Espírito Santo do que para a escolha do Executivo estadual. Para presidente, brancos e nulos foram as opções de 94.759 eleitores capixabas, menos da metade dos que votaram branco ou nulo para governador.
Apesar desses votos serem uma incógnita em relação a posicionamento político, pessoas que votaram em branco e nulo compareceram às urnas. No caso de quem se absteve, os candidatos têm a missão de convencê-los não só das propostas de governo ou posicionamento político, mas também de comparecer às urnas para expressar o voto.
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