Desde que cogitou, no último sábado (25), a possibilidade de reabrir o comércio na Grande Vitória a partir da próxima segunda-feira (4), o governador Renato Casagrande (PSB) vem sofrendo pressões tanto para renovar o decreto que mantém fechados os serviços não essenciais na Grande Vitória, quanto para flexibilizar e permitir, gradativamente, a reabertura das lojas.
Defensores dos dois lados têm se manifestado publicamente para tentar comover o governador. A discussão sobre a flexibilização ganha mais força em um momento em que o Espírito Santo registra maior aumento no número de casos de coronavírus. Na última terça-feira (29), o Estado teve 14 novas mortes confirmadas por coronavírus em 24 horas, um recorde de óbitos em apenas um dia. No total, são 77 mortes pela Covid-19 e 2.164 casos confirmados da doença no Espírito Santo, segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde. O decreto que determina o fechamento de lojas e shoppings vence no próximo domingo (3).
A pressão vem tanto da classe política, quanto de setores da economia. Na sessão da última terça-feira na Assembleia Legislativa, deputados estaduais divergiram sobre a possibilidade de reabertura das lojas. A deputada Iriny Lopes (PT) chamou a atenção para a subnotificação de casos de coronavírus e disse que, com o aumento de mortes, não é hora de voltar a abrir as portas.
"Peço que o governo estadual reveja essa liberação e que reavalie isso para a semana seguinte, quando, segundo os pesquisadores, devemos chegar no pico do contágio. Em cidades do interior, como Bom Jesus do Norte, onde o comércio foi liberado, o número de casos aumentou", pontuou.
Correligionário de Casagrande, o deputado Sergio Majeski (PSB) também criticou a possibilidade de reabertura do comércio e lembrou que os países que estão retomando as atividades só adotaram a atitude após a redução do número de casos da doença.
"Entendo a pressão que os governadores estão tendo, até pelo discurso do presidente que coloca parte da população contra os Estados, mas não há lugar no mundo onde tenha sido flexibilizado sem uma queda dos casos. Na Coreia do Sul e na Alemanha, só retomaram aos poucos as atividades, a partir da redução", discursou.
Já o deputado Alexandre Xambinho (PL) elogiou Casagrande na condução da pandemia, mas pediu que ele permita a reabertura do comércio. "É importante colocar os comerciantes na mesa de discussão, como o governo tem feito. Casagrande está analisando, pode ser que ele volte atrás, mas é preciso ter cautela. Defendo que precisamos voltar com a economia. As pessoas já entenderam que precisam ir para a rua de máscara e os comerciantes estão preparados para seguir as recomendações. Não podemos ficar com essa paradeira", afirmou.
Um dos principais opositores de Casagrande na Casa, o deputado Capitão Assumção (Patriota) disse que há segurança para retomar as atividades. "Ainda bem que o governo está entendendo e estamos vendo o crescimento do otimismo pela volta das atividades de forma segura. O mais adequado é manter o isolamento vertical, para sustentar os postos de trabalho. O governo não deve voltar atrás. Isso seria um grande erro", classificou.
Empresários varejistas, segundo o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Espírito Santo (Fecomércio-ES), José Lino Sepulcri, defendem que a reabertura das lojas na Grande Vitória é necessária para que sejam mantidos os postos de trabalho e evitada a falência de mais empresas. Para Sepulcri, ao menos 10% das lojas perderam tanta musculatura, que não devem sequer reabrir ao fim da restrição.
"Os comerciantes estão já em contagem regressiva para abrir na próxima semana, não tem mais condições de ficar fechado. Também estamos preocupados com a vida das pessoas, não estamos defendendo uma abertura total e que seja como era antes, estamos defendendo uma abertura aos poucos, ainda que a venda não seja lá grandes coisas, mas que seja suficiente, ao menos, para a sobrevivência das empresas", analisou.
José Lino deve se reunir com o governador Renato Casagrande ainda nesta quarta-feira (29) para conversar sobre a flexibilização do comércio. "É claro que cabe a ele a decisão, mas ficaremos extremamente decepcionados se não houver reabertura", alertou.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio (Sindicomerciários), Rodrigo Rocha, acredita que ainda não é o melhor momento de se abrir as portas. Com o crescimento de casos, ele defende que voltar com as atividades do comércio neste momento coloca em risco tanto os trabalhadores como os clientes das lojas.
"Não acreditamos que seja seguro ainda. O melhor exemplo disso é sobre esse supermercado que foi fechado por conta da contaminação de funcionários. Precisamos pensar a reabertura de forma inteligente. Liberar o comércio aumenta o fluxo de pessoas nas ruas e no transporte público. É injusto pressionar o governo. O Estado não está preparado para lidar com mais aumento de casos. Nos outros Estados que flexibilizaram aumentou o número de mortes e de leitos ocupados. Somos contra a reabertura", argumentou.
Como o decreto só se encerra no domingo, Casagrande deve aguardar até o final de semana para se posicionar. O secretário de Estado de Governo, Tyago Hoffmann, afirmou, em entrevista à TV Gazeta nesta quarta-feira (29), que o Executivo estadual mantém a defesa do isolamento social, para que seja possível a volta, com restrições, do funcionamento das lojas. Em pronunciamento nesta terça-feira (28), Casagrande já havia dito que "a possibilidade de abrir o comércio não pode reduzir o isolamento".
"Só poderemos, de fato, abrir o comércio se as pessoas se isolarem e pararem de interagir. Precisamos de 55% de isolamento. A vida humana está em primeiro lugar. Se colaborarmos, podemos avançar na (flexibilização da) atividade econômica, mas se não colaborarmos, não temos como avançar."
Também na terça-feira, o secretário de Estado da Saúde, Nésio Fernandes, disse que a abertura do comércio não está garantida, e que o governo avalia diariamente a curva de transmissão do novo coronavírus para tomar a decisão.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta