O governador reeleito do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), afirmou que a relação do novo Congresso Nacional com o governo federal a partir de 2023, que voltará a ser comandado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT), vai depender mais das ações do próprio presidente do que dos parlamentares.
"Se essa relação vai ser mais pra lá do que pra cá, se vai conseguir apoio majoritário para projetos importantes, tudo isso vai depender, em primeiro lugar, da postura do presidente. Ele enfrentará um núcleo ideológico conservador mais forte, que será oposição a tudo, mas tudo dependerá da ação do próprio Lula", avaliou.
A declaração foi dada nesta sexta-feira (18), durante o Pedra Azul Summit 2022, encontro de líderes promovido pela Rede Gazeta nas Montanhas Capixabas, que neste ano chega a 17ª edição. Casagrande participou de um painel político juntamente com o governador Romeu Zema (Novo), reeleito em Minas Gerais. A mediação foi da colunista de A Gazeta Letícia Gonçalves.
Para Casagrande, a relação tende, sim, a ser mais difícil entre o governo Lula e o parlamento. Ele avalia que haverá "menos tempo de tolerância" com as atitudes do novo presidente, tanto do atual Congresso como da sociedade.
Para o governador capixaba, que apoiou o candidato do PT na disputa presidencial, as declarações recentes de Lula que foram mal digeridas pelo mercado financeiro, sobre aumentar os gastos, com o social e criticando a "tal da responsabilidade fiscal", foram soltas e não significam uma irresponsabilidade com as contas públicas.
"Acredito que essas declarações do Lula são soltas e que ele vai ter responsabilidade com a economia para transmitir confiança. O governo federal, do presidente Lula, não vai poder errar na condução da economia, é preciso acertar na indicação da equipe econômica, transmitir confiança e credibilidade para as empresas gerarem empregos. As circunstâncias obrigarão o presidente Lula a ter uma condução da economia equilibrada", disse Casagrande.
Ele ponderou, no entanto, que a eleição trará uma fatura a ser paga em 2023, por conta das promessas feitas, e que isso precisa entrar dentro do Orçamento. "No ano que vem, haverá um custo da eleição para a sociedade, pelos compromissos que Lula e Bolsonaro fizeram no segundo turno para ganhar. Isso terá um custo pra cumprir".
No mesmo evento, Romeu Zema, que apoiou o presidente Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno, concordou que as relações entre o governo federal e o Congresso devem ser mais difíceis, mas avaliou que este é um fato positivo.
Segundo Zema, a Câmara e o Senado vão ter "um escrutínio muito mais rigoroso com o presidente Lula atualmente do que no passado, pois agora nós sabemos de problemas que o PT criou numa série de temas. E isso é bom. Quem está sendo mais vigiado e controlado, tem uma propensão a caminhar de forma mais correta para não repetir erros".
O governador mineiro também ponderou que o cuidado fiscal será cobrado por todos. "A questão do rigor fiscal é de fundamental importância. Precisamos, sim, pagar o Bolsa Família, mas temos que ter mecanismos para ter as contas públicas equilibradas. Em Minas, sabemos bem como é ruim o descontrole das contas e como isso afeta tudo", comentou.
Mesmo não tendo apoiado Lula e ter se posicionado como um crítico dos governos do PT no Brasil e em Minas, Zema disse que pretende dialogar com Lula na Presidência e manter uma relação republicana e transparente. Para ele, "a fase de perseguir ou privilegiar quem é contra ou a favor ficou para trás e não cabe mais no Brasil de hoje".
O político do Novo ainda disse no evento que "o grande adversário do presidente Bolsonaro não foi nem o Lula, mas ele próprio", em função das declarações polêmicas dadas nos últimos anos, o que "acabou influenciando muito" para que ele perdesse a eleição, de acordo com Zema.
A importância de pacificar o país após uma eleição tão radicalizada foi destacada pelos dois governadores no Pedra Azul Summit 2022. Casagrande se comprometeu a dialogar com todas as forças do Estado para isso, e também ajudar Lula nesta missão a nível nacional.
Na abertura do evento, o presidente da Rede Gazeta, Café Lindenberg, também ponderou que este é um dos principais desafios do país hoje.
"Estamos num espaço cheio de desafios. "Além dos conhecidos problemas da economia, a gente acaba de sair de um dos processos eleitorais mais tensos e complexos desde que este país se redemocratizou, não só na esfera federal como nos estados. O eleitorado se dividiu entre extremos", comentou.
Café destacou que o jornalismo cumpriu um papel crucial neste ambiente hostil e de desinformação, enquanto Casagrande ponderou ainda que as instituições democráticas saíram fortalecidas, apesar dos ataques recentes. Para ambos, mesmo com eleições tão difíceis, esse legado é fundamental para a democracia do Brasil.
"Agora, passadas as eleições, o nosso foco muda: Quais serão os novos rumos do país? Como será a relação do novo governo com o Congresso? Quais serão as mudanças da economia? Como vão afetar os setores e as empresas? E no Espírito Santo, quais os planos do governador reeleito? Tudo isso será debatido aqui, numa grande troca de ideias", complementou Café em referência ao evento, que acontece até domingo em Pedra Azul.
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