Acusado de estuprar uma adolescente de 17 anos, o ex-deputado estadual Luiz Durão (PDT) tem um antigo e próximo vínculo com a família da mãe da menina. A informação é do pai da jovem, que pretende buscar providências jurídicas contra o político. "Ele acabou com a vida da minha filha. Sou pai, devia estar acompanhando de perto. Vou entrar em contato, procurar a Defensoria Pública... Vou procurar fazer o que posso fazer", afirmou à reportagem do Gazeta Online nesta sexta-feira (22).
O pai separou-se da mãe da adolescente em 2005. Desde então, tem quase nenhum contato com a ex-mulher e com a filha. O homem - que não pode ser identificado para que a identidade da menina permaneça sob sigilo - acompanhou notícias sobre o caso Luiz Durão sem saber que a menina apontada como vítima era a filha dele.
Ele só teve a confirmação nesta sexta, ao ser localizado pela reportagem. Em seguida, telefonou para a 2ª Vara Criminal da Serra em busca de informações. Apesar do interesse inicial em fazer parte de alguma forma do processo, disse que ficou "tranquilo" ao ter a notícia de que a mãe também constituiu um advogado para o caso. O homem, um administrador de 49 anos, viveu com a ex-esposa em Linhares, mas desde 2012 vive em uma cidade do Nordeste da Bahia.
Embora reconheça ser um pai distante - a última vez que esteve com a filha foi em 2015 -, queixa-se de não ter sido avisado pela ex-esposa sobre o crime grave do qual o ex-deputado é acusado de praticar contra a adolescente.
Ele e a mãe da garota mantiveram um relacionamento por cerca de dez anos, desde 1996. Em parte da conversa com a reportagem, o pai sugeriu que um dos motivos para não ter recebido a informação tenha sido a antiga ligação da ex-esposa com Luiz Durão.
"Casamos em 1997. Luiz Durão era amigo da família, amigo mesmo. Joana (nome fictício da mãe da adolescente) teve até celular em 1996, dado por ele. Ele a mantinha como se fosse alguém dele. Algumas vezes, eu reclamei, disse que estávamos perto de casar", contou.
Segundo o ex-marido, a casa da família dela em uma conhecida localidade de Linhares funcionava como base para reuniões do político. "Ele frequentava a casa dos avós de Maria (nome fictício da hoje adolescente). Era o ponto de referência dele no distrito. Ele chegava e ia direto para lá. Fazia as reuniões políticas dele", disse.
Ele também afirmou que a mãe da adolescente chegava a telefonar para o político quando tinha interesse em algum reposicionamento em postos de trabalho.
O pai também relatou que, "esporadicamente", visitou a fazenda de Durão. A partir da amizade da mulher com o ex-deputado, também esteve com o político algumas vezes. Ao tentar ser vereador, em 2004, participou de reuniões de grupo político que tinha Luiz Durão como uma das lideranças. Em 2018, o pai também disputou a eleição para deputado estadual, na Bahia, mas não foi eleito.
À reportagem, o homem afirmou jamais ter imaginado que a filha dele era a adolescente envolvida no caso Luiz Durão. Afinal, o flagrante ocorreu na Serra. "Cheguei a receber mensagem de gente se solidarizando comigo, mas não entendi. Não tinha acontecido nada comigo", disse.
O homem define a relação com a filha e com a ex-mulher como "conturbada". Após a conversa com a reportagem, disse que telefonou para a menina, mas não foi atendido. Deixou mensagens colocando-se à disposição.
A partir das declarações do ex-marido, a reportagem acionou a mãe da adolescente. Ela disse que consultaria o advogado dela e daria retorno, o que ainda não ocorreu. A defesa de Luiz Durão também foi procurada, mas não se manifestou.
DENÚNCIA
Dias após ser preso, Luiz Durão foi denunciado pela Procuradoria-Geral de Justiça pelo crime de estupro. Com base na Lei Maria da Penha, a Procuradoria considerou o convívio do deputado com a família da adolescente como um agravante.
A defesa do ex-deputado criticou a inclusão do agravante na denúncia por entender que o vínculo do político com a família era apenas mais um dos vários que ele tem em razão da natureza da atividade política, que exige contato com as pessoas. As declarações do pai da menina confrontam o argumento dos advogados.
Na última sexta-feira (15), a Justiça concedeu habeas corpus a Luiz Durão e o pedetista deixou a prisão após 42 dias. Por ser advogado e ter direito a uma chamada sala de Estado Maior, ele esteve preso no Quartel do Comando Geral do Corpo de Bombeiros, em Vitória.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta