Em visita ao Espírito Santo, a procuradora da república Marisa Ferrari, que integra a força tarefa da Lava Jato no Rio de Janeiro, disse que os delatores da operação revelaram ter cometido atos ilícitos com governos de outros 13 Estados. A afirmação foi feita durante uma palestra no Tribunal de Contas do Espírito Santo (TCES) nesta sexta-feira (6).
No Rio de Janeiro, a Lava Jato levou à prisão o ex-secretário de Saúde do governo Sérgio Cabral (MDB), Sérgio Cortês, por envolvimento em um esquema de corrupção na contratação de Organizações Sociais (as OSs) para administrar hospitais fluminenses. Segundo as investigações, além de fraudar a contratação dos novos administradores, havia um esquema de propina com os fornecedores de produtos hospitalares.
De acordo com Ferrari, os elementos de prova apresentados pelas empresas que fecharam acordos de leniência foram repassados para o Ministério Público Federal (MPF) dos Estados mencionados pelos colaboradores, mas, por se tratar de uma investigação em andamento, ela não poderia revelar se o Espírito Santo é um destes Estados.
As empresas que praticaram atos ilícitos investigados pela Lava Jato no Rio de Janeiro fecharam contratos em vários Estados, principalmente com secretarias de saúde. As provas foram encaminhadas e estão sendo apuradas. Em alguns locais, como o Distrito Federal, já houve até operações e prisões de agentes públicos, explica a procuradora.
Em entrevista exclusiva para A Gazeta, Marisa, que já atuou no MPF no Espírito Santo, em 2017, comentou os resultados da Lava Jato, a recém aprovação do pacote anticrime, a relação de procuradores do MPF com a política e a mudança de cultura das empresas para prevenir e remediar casos de corrupção. Veja abaixo:
A gente não pode falar sobre investigação sigilosa em andamento. Vários colaboradores nossos que já celebraram acordo, fizeram contratos pelo Brasil inteiro, com várias secretarias de Saúde. Eles apresentaram atos ilícitos envolvendo outros Estados, mas não posso dizer quais. Ao todo, foram 13. Esses elementos de provas estão sendo compartilhados com os representantes do MPF nestes Estados. No Distrito Federal, por exemplo, já foram usadas provas da nossa investigação, que resultaram em operações e levaram à prisão de pessoas envolvidas.
A cada nova fase são novas frentes que se abrem. Muitas vezes os colaboradores trazem mais novos ilícitos, envolvendo tanto a administração do Sergio Cabral, quanto dos doleiros. Temos uma linha de investigação bem forte também com instituições financeiras, com o sistema bancário, agentes de câmbio e suspeitas de lavagem de dinheiro. Essas são algumas das frentes que a gente busca atuar no ano que vem. Ainda tem mais coisa interessante para rolar, não podemos adiantar, mas acredito que o ano que vem terá bastante operação.
Eu destaco a questão da prescrição dos crimes, que ficou mais rigorosa. Tem também a questão da prisão em segunda instância, que ficou para entrar em outra discussão, talvez no ano que vem. O fato é que o MPF fez a campanha das 10 medidas contra a corrupção que não foram acolhidas. Foram desvirtuadas. Este ano a gente sofreu muitos reveses. A lei de abuso de autoridade mudou a lógica, tentou punir os órgãos de controle e responsáveis pela investigação e o julgamento. Vimos isso como uma punição ao nosso trabalho. A gente espera que o Congresso tenha bom senso e razoabilidade para aprovar medidas que sejam mais efetivas no combate à corrupção.
Ainda temos muito a melhorar neste aspecto, mas, sim, a experiência vem sendo positiva. Há uma mudança acontecendo, principalmente dentro das empresas. Muitas delas, e até pessoas físicas, têm nos procurado antes mesmo de serem investigadas para tentar regularizar suas situações e negociarem acordos. Para nós, isso é um termômetro de que a legislação pegou. A gente percebe um receio maior das pessoas de serem alcançadas e serem punidas. A mentalidade está mudando.
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