Aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL) no Congresso Nacional assumiram o controle de mais da metade das superintendências estaduais da Fundação Nacional de Saúde (Funasa). Vinculado ao Ministério da Saúde e com orçamento de R$ 2,9 bilhões, o órgão foi loteado por parlamentares ligados ao Centrão em 17 Estados — inclusive o Espírito Santo — e no Distrito Federal.
A missão da Funasa é levar saneamento básico e água de qualidade aos brasileiros. Mas, de acordo com informações de O Estado de S.Paulo, aliados de Bolsonaro indicaram familiares, coach, especialista em “análise sensorial de cachaça” e dono de restaurante self-service para assumirem cargos no órgão.
No caso do Espírito Santo, o indicado pelo Centrão para comandar a superintendência da Funasa foi um administrador que, de 2004 até 2020, era dono de dois restaurantes em Vila Velha, sendo um self-service. No site do órgão, o currículo de Ayrton Silveira aponta que ele é “especializado em análise sensorial de cachaça e boas práticas na fabricação da bebida”.
A indicação para a Funasa no Espírito Santo foi feita pelo deputado federal Neucimar Fraga, do Progressistas, que ao lado do PL e Republicanos forma o núcleo principal do Centrão.
Questionado por A Gazeta sobre a indicação de Ayrton Silveira para a Funasa no Estado, Neucimar Fraga exaltou a formação do superintendente em Administração de Empresas e seu perfil de gestor no setor privado, que, segundo o deputado, era o que o órgão buscava na época, para resolver o problema de obras paradas.
“Ayrton é um cara competente e preparado e continua lá porque tem competência. Ele está fazendo um bom trabalho. Já inaugurou muitas obras que estavam paradas, como o sistema de esgoto de Nova Venécia e Pancas”, ressaltou.
O atual superintendente da Funasa no Espírito Santo, Ayrton Silveira, afirmou que sua nomeação está em conformidade com a Lei 14.204, de 16 de setembro de 2021, que simplifica a gestão de cargos em comissão e de funções de confiança na administração pública federal indireta.
"Sou formado em Técnico de Mecânica pela antiga Etfes ( Escola Técnica Federal do Espirito Santo) e Administração de Empresas pela Faesa (Faculdade Espírito-Santense de Administração) desde 1992, com vasta experiência em gestão de empresas, finanças, gestão de pessoas e controles", informou Silveira.
Em geral, deputados enviaram mais de R$ 635 milhões para a Funasa desde 2020 e indicaram como os recursos públicos deveriam ser usados sem transparência ou critério técnico. Ao Estadão, a fundação informou que “as nomeações que realiza estão em conformidade com decretos e legislações que disciplinam o tema”.
Bolsonaro foi eleito em 2018 com a promessa de não lotear cargos públicos com o Centrão. Naquele ano, durante convenção do PSL — então partido do presidente —, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, chegou a comparar os políticos do grupo com ladrões. "Se gritar pega Centrão, não fica um meu irmão", cantou o general, parafraseando uma música de Bezerra de Silva.
A promessa do presidente foi descumprida já no segundo ano do seu mandato. Atualmente, o Centrão controla um orçamento de R$ 54,5 bilhões de quatro órgãos estatais. O grupo apadrinhou cargos na Funasa, no Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), no Departamento Nacional de Obras contra a Seca (Dnocs) e na Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf).
No mês passado, o presidente se irritou e partiu para cima de um homem que o chamou de "tchutchuca do Centrão".
Com informações da Agência Estado
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