Na pacata cidade de Venda Nova do Imigrante, Região Serrana do Espírito Santo, a rotina de pouco mais de 24 mil moradores mudou no último mês diante do novo coronavírus. Com escolas e comércios fechados, eventos suspensos e supermercados funcionando sob restrições, as ruas do município ficaram vazias.
A cidade mais bolsonarista do Estado tem se mostrado preocupada com o avanço do vírus e ignorado o discurso do presidente, que minimiza o poder da Covid-19 e se refere a doença como uma "gripezinha". Mesmo com 81% dos eleitores tendo votado em Jair Bolsonaro (sem partido), em 2018, a população de Venda Nova, em sua maioria, segue as normas de distanciamento social recomendadas pelo Ministério da Saúde e por autoridades internacionais.
Assim como Devani, o professor de inglês Henrique Pagotto, 35 anos, tem cumprido rigorosamente as recomendações do governo estadual e da cidade. Mesmo jovem e considerado fora do grupo de risco atingido pela Covid-19, ele busca praticar o isolamento social.
"Eu não tenho saído muito de casa, faço o básico e volto. Inclusive suspendi minhas aulas há um mês, e na escola onde dou aula, outros dois professores também pararam."
Até a noite da última sexta-feira (17), Venda Nova do Imigrante registrava três casos confirmados da Covid-19, segundo a Secretaria de Estado de Saúde. O número baixo de pacientes infectados, porém, não é visto com desprezo no município. A notificação do primeiro caso serviu de alerta para os moradores.
Além de acatar todas as medidas de restrição determinadas pelo governo estadual, que incluem fechamento de escolas, academias, comércios e serviços não essenciais, a Prefeitura de Venda Nova do Imigrante emitiu seus próprios decretos para evitar aglomerações na cidade. As feiras livres foram suspensas por tempo indeterminado, assim como o calendário de eventos.
"A gente tem reforçado as questões técnicas, orientando a população com base nas recomendações do governo estadual e do Ministério da Saúde. Os primeiros dias foram mais difíceis, mas acredito que agora as pessoas já entenderam a gravidade da situação. A maior parte da população está seguindo os decretos e entende que nossa prioridade é a saúde", disse a secretária municipal de Saúde, Marise Vilela.
O apoio às orientações do Ministério da Saúde, contudo, não é unânime. Alguns moradores ainda se negam a praticar o distanciamento social, justificando questões políticas, falta de medo e até mesmo fé que a situação vai passar.
Alguns comerciantes também têm pressionado pela flexibilização das medidas restritivas. Na última semana, uma carreata foi realizada na cidade para pedir a reabertura do comércio. A reportagem conversou com moradores que participaram da manifestação, mas não quiseram se identificar. Muitos deles colocam em xeque a existência do vírus e se apoiam no discurso do presidente Jair Bolsonaro para propor um isolamento vertical na sociedade.
"A gente ouve pessoas falando que não é nada, que não tem perigo. Uma minoria, é claro. Tem gente agindo com naturalidade, fazendo churrasco, se reunindo com vizinho, não querendo enxergar a realidade", disse o vice-presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Venda Nova, Flávio Mareto.
Mesmo assim, segundo Flávio, muitos comerciantes têm compreendido a gravidade da situação e se adaptado. Alguns estão atendendo com portas fechadas, outros iniciaram serviços por meio das redes sociais. A CDL tem participado da reuniões da sala de emergência da prefeitura e apresentado uma posição de apoio ao que vem sendo feito até o momento.
"Tem muita gente com medo do vírus. De 65% a 70% dos lojistas apoiam as medidas de isolamento, outros estão preocupados em como vão sobreviver financeiramente, o que a gente também entende. Mas temos trabalhado junto com a prefeitura para que as medidas sejam eficazes no município", concluiu Mareto.
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