O anúncio do ex-prefeito de Vitória João Coser (PT) de que quer ser candidato a prefeito da Capital foi visto positivamente por lideranças do partido, como forma de ampliar a influência da legenda nas eleições municipais com nomes competitivos, seguindo a recomendação da direção nacional. A informação sobre o interesse de Coser de voltar ao Executivo municipal foi divulgada pela coluna Leonel Ximenes.
Coser, que já havia declarado publicamente que não disputaria mais cargos eletivos, afirma ter recebido apelos de dirigentes nacionais, e ter sido estimulado pelo próprio ex-presidente Lula. Apesar disso, até então, o projeto para Vitória era a pré-candidatura da presidente estadual, Jackeline Rocha.
Coser foi prefeito de Vitória de 2005 a 2012, e encontra agora um cenário bem diferente daquele em que se elegeu para o Executivo. Com o PT enfraquecido no Estado, sem ocupar nenhuma prefeitura, ele, que é uma das lideranças históricas da legenda, viu seu capital político ser apontado como necessário para defender o legado do partido, que hoje convive com a extrema-direita no Palácio do Planalto e atua na oposição.
No Espírito Santo, os cargos de maior relevância do PT hoje são uma vaga na Câmara dos Deputados, de Helder Salomão, e uma na Assembleia Legislativa, de Iriny Lopes. O único prefeito eleito em 2016, Alencar Marim, de Barra de São Francisco, saiu do partido.
Diante deste cenário, o partido, sob o comando de Jackeline, tenta retomar o protagonismo com metas otimistas. Segundo ela, o PT quer eleger em outubro 20 prefeitos no Espírito Santo.
Coser disputou o Senado em 2014, mas foi derrotado. Nas últimas eleições disputou para deputado federal, ficando na suplência de Helder Salomão (PT). Em 2016, o PT teve Perly Cipriano como candidato à Prefeitura de Vitória, mas alcançou só 3,48% dos votos.
Segundo Coser, o fato de se colocar à disposição do partido não deve ser interpretado como um distanciamento ou disputa com Jackeline. Por meio de suas correntes, a Construindo um Novo Brasil (CNB), de Jackeline, e a Alternativa Socialista, de Coser, os dois se aliaram nas duas últimas eleições internas do PT. Na disputa de 2019, Coser apoiou o nome de Jackeline para a presidência do partido desde o início do processo.
"Não há rompimento entre nós. Coloquei meu nome, o dela também está colocado, ela é uma liderança jovem, com uma perspectiva boa de crescer. Mas tomei esta decisão por uma questão de conjuntura, de considerar que seria necessário para ajudar o partido. Não vai ter disputa. Vamos dialogar com a Executiva Municipal e tentar definir o melhor caminho", afirmou.
Coser acrescentou que mudou de ideia quanto à "aposentadoria" de eleições por entender que pode ser um importante ator no processo de reestruturação da legenda. "De fato é uma decisão muito pessoal, mas que foi provocada pelo apoio que recebi de muita gente do partido, por ser abordado por servidores, lideranças comunitárias. Tive uma experiência de boa gestão e de fato estava em um processo de afastamento. Mas a política nos coloca para uma nova tarefa", comentou.
Ex-deputado estadual e aliado de Jackeline, Nunes afirma ter visto com naturalidade esta disposição de Coser em disputar, mas que isto é algo que precisa ser aprofundado internamente.
"De fato a direção nacional tem dito para incentivarmos o máximo de candidaturas possíveis nos municípios, principalmente nos grandes centros, onde há mais de 100 mil eleitores. Estamos apresentando candidatos com força política, e até então só tinha o nome dela (Jackeline) colocado. Se foi feito um pedido específico a ele, vemos com bons olhos, até porque ele foi prefeito. Quem vai definir são os diretórios municipais. O que não vai faltar é diálogo, não teremos dificuldade."
Ele também negou qualquer tipo de rompimento interno. "Não existe. A aproximação do grupo do João com o nosso veio desde 2017, quando apoiamos João para presidente estadual. Ele retribuiu o apoio que demos lá atrás, e a relação tem sido tranquila.
Segundo Nunes, o PT já compôs um Grupo de Trabalho Eleitoral (GTE) para monitorar o processo eleitoral de 2020. No Espírito Santo, a liderança nacional que irá acompanhar as candidaturas e alianças será a tesoureira nacional do partido, Gleide Andrade.
Perly Cipriano, que é um dos fundadores do PT no Estado, manifestou apoio à ideia de candidatura de Coser. "O apelo não é apenas nacional, é também de militantes daqui, e eu sou um deles. Ele tem experiência, conhecimento, foi bem avaliado como prefeito, é uma pessoa bem aceita, e a Capital tem um papel muito importante na política estadual. Se colocando como qualquer filiado pode fazer, não está tomando o lugar de ninguém. Como ele é um nome forte em Vitória, vai ajudar o partido por inteiro", avalia.
Perly acrescenta ainda que Coser facilita a política de alianças e será bom para a chapa de vereadores. Ele faz uma distinção entre uma possível candidatura de Coser e a sua, em 2016. "Aquele ano foi o momento mais difícil pelo qual o PT passou. Minha candidatura foi para resgatar o legado de Vitor Buaiz o do João. Agora é diferente, o partido está recuperando sua aceitação, e ele é muito importante para nos fortalecer", comentou.
No início deste ano, Jackeline confirmou as especulações sobre sua pré-candidatura à Prefeitura de Vitória. Em 2018, em sua estreia nas urnas na disputa como governadora, ela ficou em 3º lugar, com 142,6 mil votos.
"Depende muito da decisão do partido. Tanto para a direção nacional como para a estadual, eu disse o tempo todo que estou à disposição para contribuir, organizando o partido para as eleições, mas não só isso. Em Vitória, vamos construir uma boa chapa de vereadores, com nomes fortes e competitivos, para que a gente possa ter a força de discutir projeto na majoritária", disse, ainda em janeiro.
A Gazeta tentou contato com Jackeline nesta sexta-feira, mas não obteve retorno.
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