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Com desempenho tímido, PMB muda de nome para atrair Bolsonaro

Com desempenho tímido, PMB muda de nome para atrair Bolsonaro

Agora, a sigla passa a se chamar "Brasil 35". Nanico, partido elegeu apenas cinco pessoas no Espírito Santo em seis anos

Publicado em 29 de abril de 2021 às 15:54

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Jair Bolsonaro
Jair Bolsonaro está sem partido  desde novembro de 2019 e busca sigla pra 2022. (Marcos Correa/PR)

Eleito em 2018 pelo PSL, Jair Bolsonaro está sem partido desde novembro de 2019. Em busca de uma sigla para tentar a reeleição em 2022, o Partido da Mulher Brasileira (PMB) é uma das apostas como nova legenda do presidente da República. Para atrair Bolsonaro, o partido está de cara e nome novos. Agora é o Brasil 35. Isso não muda, no entanto, o desempenho tímido da legenda. No Espírito Santo, em seis anos, por exemplo, o PMB elegeu apenas cinco pessoas.

O PMB conseguiu obter o registro no TSE em 2015 e participou do processo eleitoral pela primeira vez em 2016. Desde a formalização, foram três disputas, duas municipais e uma estadual, em que o partido conseguiu eleger apenas quatro vereadores e um vice-prefeito no Espírito Santo.

Com desempenho tímido, PMB muda de nome para atrair Bolsonaro

A sigla contabiliza 2.249 filiados, com diretório municipal em 27 dos 78 municípios capixabas, pouco mais de um terço do total. Nas eleições de 2020 o PMB disputou como cabeça de chapa o comando das prefeituras de Cariacica e Anchieta.

Na cidade da Grande Vitória, Bia Biancardi ficou na última colocação entre os 14 candidatos ao Executivo, obtendo 0,18% dos votos válidos. Desempenho parecido teve Nicolau Carone, que terminou o pleito com 0,53% dos votos, também com o pior desempenho entre todos os postulantes na cidade do Sul do Estado.

Foi também no litoral Sul que o PMB teve seus dois únicos sucessos eleitorais no Espírito Santo em 2020. Pastor Ezequias foi o vice na chapa do eleito Paulo Cola (Cidadania), em Piúma. No mesmo município, Jorge Miranda teve 413 votos e conquistou uma das vagas na Câmara.

Pouco depois de obter registro, o PMB chegou a abrigar lideranças no Espírito Santo. Na época cumprindo mandato na Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales), Amaro Neto ficou cerca de quatro meses na sigla, que trocou pelo Solidariedade, pelo qual disputou a Prefeitura de Vitória em 2016. Atualmente, Amaro está no Republicanos.

Com pouca expressão, o partido também recebe poucos recursos do Fundo Eleitoral. Em 2020, o PMB contou com R$ 1.233.305,95 para gastar com candidatos de todo o Brasil, fazendo com que o partido ficasse sem recursos no Espírito Santo.

EXPECTATIVA DE CRESCIMENTO COM A MUDANÇA 

Mesmo com "mulher" no nome, a maior parte das candidaturas do PMB nas eleições de 2020 no Espírito Santo foram masculinas. Além disso, a sigla é presidida por um homem no Estado. O empresário Paulo Bastos comanda a legenda desde o início de 2020.

O dirigente reconhece as dificuldades da legenda e destaca que a principal delas é a falta de recursos para o financiamento das campanhas, argumentando que o diretório do Espírito Santo não teve acesso à verba do Fundo Eleitoral, já que nacionalmente o PMB é um dos que menos recebe.

Por isso, Bastos confia que a mudança de nome pode representar um fortalecimento para as pretensões do novo Brasil 35. Morador de Vila Velha, o empresário de 70 anos afirma que as alterações vão contribuir para as articulações visando o pleito de 2022, possibilitando a ampliação do número de candidatos e as possibilidades de sucesso eleitoral.

MUDANÇA PARA ATRAIR BOLSONARO 

O movimento de mudança de nome é uma tentativa de atrair o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), para se filiar à legenda. A alteração foi aprovada em encontro de dirigentes da Executiva nacional no último sábado (24). O partido passa a adotar oficialmente o novo nome após a aprovação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A escolha faz referência ao slogan frequentemente utilizado por Bolsonaro e seus apoiadores: “Meu partido é o Brasil”, e 35 é o número eleitoral da legenda.

Além da mudança no nome, a identidade visual da sigla, antes de cores branca e azul, ganhou o verde e o amarelo, bastante usados por Bolsonaro, e o slogan "Coragem para fazer". O TSE ainda tem que aprovar a troca na nomenclatura para torná-la oficial.

Apesar do movimento, o presidente Bolsonaro ainda não definiu a legenda pela qual deve disputar a reeleição em 2022.

Logotipo do partido Brasil 35, ex-PMB (Partido da Mulher Brasileira)
Logotipo do partido Brasil 35, ex-PMB (Partido da Mulher Brasileira). (Reprodução/ Facebook )

O dirigente da sigla no Espírito Santo reconhece a possibilidade de Jair Bolsonaro se filiar ao partido, mas ainda trata o cenário com cautela. Se a chegada do presidente se confirmar, Bastos afirma que ele será muito bem recebido na sigla. “Assim como qualquer liderança importante, a chegada do Bolsonaro será importante para a construção do partido. Ele é muito bem-vindo”, afirmou.

O comandante do diretório capixaba ainda reconheceu que a chegada do presidente pode alterar a realidade da legenda para 2022. Segundo ele, o partido se organiza para lançar chapas competitivas para as disputas de deputado federal e estadual. Mas se Bolsonaro migrar mesmo para a sigla, o Brasil 35 vai precisar apresentar um palanque competitivo no Espírito Santo, mas isso vai depender de articulações com o diretório estadual do partido.

O presidente estadual ainda revelou que com a mudança de nome do partido e a possível chegada de Bolsonaro, ele já foi procurado por lideranças de alguns municípios capixabas para consultas sobre uma possível filiação ao partido.

Em evento, Partido da Mulher Brasileira (PMB) passou a se chamar Brasil 35
Em evento, Partido da Mulher Brasileira (PMB) passou a se chamar Brasil 35. (Reprodução/Facebook)

NOVO PSL? 

Com a possibilidade da mudança de partido de Bolsonaro, surge a possibilidade de a nova sigla do presidente ter uma explosão nas filiações e turbinar o desempenho eleitoral. Legenda escolhida por ele em 2018, o PSL, que era considerado um partido pequeno, elegeu a segunda maior bancada na Câmara dos Deputados, com 52 das 513 cadeiras da Casa.

Especialistas ouvidos por A Gazeta acreditam que a nova sigla do presidente vai sim registrar um crescimento em importância e popularidade, mas apontam um cenário diferente da eleição anterior.

Na avaliação de Adriano Oliveira, doutor e professor do departamento de Ciência Política da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), é muito interessante para os partidos menores, caso do Brasil 35, a chegada do presidente, mas eles precisam conviver com a centralização do poder por Bolsonaro e seus aliados mais próximos.

O especialista prevê que a futura legenda de Bolsonaro deve ser apresentar um crescimento no número de filiados, candidatos e até eleitos. Mas diferentemente de 2018, quando não fez grandes alianças, em 2022 o cenário pode exigir uma composição maior do presidente. “A eleição pode ser bem disputada entre Bolsonaro, uma força de centro e um nome da esquerda, assim o presidente vai precisar de mais fôlego com tempo de televisão e recursos do Fundo Eleitoral. Isso só pode ser oferecido por partidos maiores ou por uma aliança”, afirmou.

CENÁRIO NO ESPÍRITO SANTO

Sobre a conjuntura no Espírito Santo, o cientista político Antônio Carlos Medeiros aponta que o bolsonarismo já apresenta lideranças bem claras no Estado, com destaque para o deputado estadual Capitão Assumção (Patriota), o ex-deputado federal Carlos Manato (sem partido), derrotado por Casagrande na disputa do governo do ES em 2018, e, mais recentemente, o deputado federal Evair de Melo (PP). O especialista acredita que independente de partido político, esses nomes devem organizar o palanque do presidente no Estado.

“Como conta com o núcleo formado no Espírito Santo, o bolsonarismo já ostenta um palanque bem definido no Espírito Santo. A ida desses líderes para o novo partido de Bolsonaro depende das articulações nacionais e estaduais, mas isso não invalida a presença que ele vai ter nas eleições capixabas”, avaliou.

BUSCA POR UM NOVO PARTIDO

O presidente Jair Bolsonaro passou por oito partidos desde que inciou sua carreira política, há mais de 30 anos. Eleito pelo PSL em 2018, o presidente deixou a sigla no final de 2019, no primeiro ano de mandato.

A saída de Bolsonaro ocorreu após uma série de desentendimentos entre ele e o presidente do PSL, Luciano Bivar. Dias antes, Bolsonaro afirmou a um apoiador para "esquecer" o partido, acrescentando que Bivar está "queimado para caramba". Essa declaração de Bolsonaro desencadeou uma crise no partido, dividindo as alas ligadas a ele e a Bivar.

Logo após deixar o PSL, o presidenta anunciou a intenção de criar um partido, o Aliança pelo Brasil. Fundado com promessas de disputar já as eleições municipais de 2020, o Aliança não conseguiu obter o reconhecimento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para formalizar a criação e participar do pleito. Os fundadores conseguiram apenas cerca de 20% das 492.000 fichas de inscrição exigidas pela Justiça Eleitoral.

Aliança pelo Brasil: Apoiadores de Jair Bolsonaro em evento de filiação do novo partido, em Vitória
Encontro do Aliança Pelo Brasil, no Centro de Convenções de Vitória em fevereiro de 2020. (Fernando Madeira)

Ao perceber o insucesso na criação do partido, Bolsonaro passou a trabalhar com um plano B e já conversou com várias legendas para abrigar a tentativa de reeleição em 2022. Dentre essas negociações, o chefe do Executivo chegou a ensaiar uma volta ao PSL, mas o retorno foi descartado por dirigentes da sigla e por pessoas ligadas ao presidente.

O novo Brasil 35 disputa a preferência de Bolsonaro com outras siglas. Nos bastidores ele também negocia uma filiação ao Patriota, ao PRTB ou ao Democracia Cristã (DC). Apesar da mudança de nome do PMB, mais recentemente foi o PRTB que intensificou negociações para abrigar o projeto de reeleição do presidente Jair Bolsonaro. Os movimentos para filiar o presidente são conduzidos por Levy Fidelix Filho após a morte do pai dele, que foi fundador da sigla.

A filiação a uma legenda é necessária para que o presidente esteja apto a disputar a reeleição em 2022 . De acordo com as regras da Justiça Eleitoral, o prazo máximo é até seis meses antes do pleito.

Ao longo de três décadas de carreira política, Bolsonaro tem histórico de troca de partidos. Além do PSL, teve passagens por: PDC, PPR, PPB, PTB, PFL, PP e PSC.

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