O fim das coligações para a eleição de vereadores em 2020 já está provocando mudanças na dinâmica eleitoral neste período de pré-campanha, inaugurado na última semana com a abertura da janela partidária, que vai até 3 de abril. Durante este mês, vereadores podem trocar livremente de partido sem correr o risco de serem punidos. Quem vai disputar a eleição precisa estar filiado à nova sigla até o dia 3, seis meses antes do pleito, como manda a lei.
Acontece que com a janela partidária aberta e o troca-troca de partidos iniciado, um novo movimento tem ocorrido nas legendas: muitos partidos estão dispensando de seus quadros os vereadores que já têm mandato, por serem vistos como ameaça aos novos nomes que a sigla poderia lançar.
A situação tem sido registrada nas Câmaras de Vitória, Vila Velha, Serra e Cariacica. Com isso, vereadores com mandato estão ficando temporariamente sem partido. Em alguns casos não está fácil encontrar uma sigla que os abrigue para a reeleição.
O principal fator que causou esse novo jogo político foi o fim das coligações. Vale lembrar que a eleição para vereadores é pelo sistema proporcional, em que se monta uma chapa e todo o grupo de candidatos tem os votos somados para tentar atingir o quociente eleitoral.
De acordo com essa votação, chega-se ao número de cadeiras a que o partido terá direito. Conseguem uma vaga somente os mais votados da chapa.
Nomes considerados "puxadores de votos", como é o caso dos vereadores que já têm mandato, atrapalham os partidos a conseguir novos nomes competitivos, pois são vistos como potenciais ocupantes das vagas que a sigla obtiver.
Antes, com a possibilidade de fazer coligações, os partidos tentavam costuravam uma aliança de legendas que aumentasse as chances de eleger um ou dois nomes de cada, com chapas que equalizavam os nomes considerados "fortes".
Os partidos já pensavam na chapa considerando o potencial de seu partido aliado, nas chamadas "pernas proporcionais", espécie de subgrupo de partidos dentro de uma mesma coligação. Agora, é cada um por si, já que as siglas não podem mais se agrupar.
Com isso, até o início do próximo mês os partidos estão em uma corrida para completar suas chapas. O número de membros da chapa varia em cada cidade, é de no máximo 1,5 vez o número de cadeiras da Câmara Municipal.
Em Vitória, por exemplo, que são 15 vereadores, a chapa de cada partido pode ter até 23 candidatos, sendo que 30% devem ser mulheres. Não há um número mínimo de candidatos, mas quanto mais gente na chapa, mais votos para ajudar a alcançar o quociente eleitoral.
Um dos partidos que estão adotando este critério e evitam pessoas com mandato é o PTB de Vitória. A sigla tem dois vereadores, Dalto Neves e Roberto Martins, mas que agora estão de saída, ambos de forma amigável.
"O PTB está com a política de trabalhar para eleger novos vereadores em 2020. Quando você já tem uma pessoa com mandato fazendo parte da chapa, os demais não se sentem em pé de igualdade, entendem que quem já é político sai na frente. Queremos oxigenar o partido e dar espaço a novas lideranças, lançando pessoas que podemos realmente dar condição de virar vereador. Não vai ter aquilo de cortar da chapa em cima da hora. Fizemos assim em 2016 e deu certo. Não teve puxador de votos: os três primeiros mais votados ficaram com votação similar, equilibrada", explica o presidente municipal do PTB, Anderson Goggi.
Roberto Martins, que está se filiando à Rede, explicou que além da vontade do PTB, está de saída por precisar de um partido que lhe desse legenda para se candidatar a prefeito.
Um outro vereador do município, que preferiu não se identificar, também observa que neste primeiro momento o mais comum tem sido os partidos evitarem os políticos com mandato. "Essa ideia de puxador de votos se quebra com essa nova legislação, por que, na verdade, ele é um tomador de vagas. Muitos se filiam a partidos, mesmo sabendo que não têm chance nenhuma, pois dependem de cargos comissionados, favores. Mas aqueles que aderem porque realmente querem se eleger não aceitam mais servir de escada para mandatário", afirma.
"Aqueles vereadores que estão conseguindo se manter em seus partidos e vão para a reeleição é porque geralmente já contam com mais de uma vaga na Câmara, e esperam continuar fazendo vários nomes. Mas vão ter que ir para o 'tudo ou nada' internamente", complementou.
Na Serra, também há vários vereadores nesta situação. Na sessão desta segunda-feira (09), cinco vereadores constavam no painel como "sem partido": Adriano Galinhão (ex-PTC), Fábio Duarte (ex-PDT), Geraldinho Feu Rosa (ex-PSB), Miguel da Policlínica (ex-PTC) e Robinho Gari (ex-PV). Geraldinho PC também está de saída do PDT.
O PTC está liberando seus vereadores, pois não deve formar legenda para o próximo pleito, afirma um vereador. Já o PDT chegou a procurar seus vereadores propondo uma desfiliação amigável, argumentando a questão da montagem de chapa. Nos bastidores, os vereadores afirmam que o partido quer deixar a chapa com mais possibilidades de eleger o filho do deputado federal e ex-prefeito Sérgio Vidigal (PDT), Sérgio Eduardo Vidigal.
"Realmente isto está acontecendo, estão tirando os mandatários dos partidos. Muitos falam que não vão colocar nenhum em suas chapas. Mas quando chegar perto do prazo da janela se encerrar, alguns partidos vão ter que colocar, ou não conseguirão eleger ninguém. Vai virar uma espécie de coligação branca, de vereadores tendo que entrar em outro grupo", avalia um vereador da Serra.
A reportagem não conseguiu contato com o presidente do PDT da Serra, Alessandro Comper.
O vereador de Vila Velha Osvaldo Maturano está de saída do Republicanos e enxerga um cenário complexo na escolha do novo partido. Ele aponta ainda um outro elemento, além dos já falados: os partidos que devem auxiliar cada candidato a prefeito.
"Eu irei apoiar um dos candidatos a prefeito, e vou escolher um dos partidos que estão fechados com ele. Também tem muita gente se determinando de acordo com o perfil de esquerda ou direita do partido, porque com esta polarização e sem as coligações isso conta mais", comentou.
"De fato, alguns partidos menores não estão querendo sair com quem já tem mandato. Mas todos os partidos trabalham com o objetivo de fazer dois vereadores. O problema é que se você só filiar nomes de votação pequena, não faz a vaga. Ter um vereador na chapa às vezes é essencial, principalmente para aqueles partidos que não estão muito bem estruturados na cidade, com um trabalho consolidado, com muitos filiados. Se não fizerem isso, na última hora vão ter que dissolver a chapa, e vai um para cada canto", acrescentou.
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