A saída de Sergio Moro do comando do Ministério da Justiça e de Segurança Pública agrava ainda mais a crise política vivida pelo presidente Jair Bolsonaro. O ex-ministro era um dos grandes pilares do governo atual, com grande apelo da opinião pública.
Para especialistas, o pedido de demissão e as acusações feitas por Moro ao presidente da República colocam em cheque a credibilidade de Bolsonaro e reforça o seu isolamento dentro do próprio governo. Com isso, a expectativa é que a aproximação de líderes de partidos do Centrão, que já vem sendo observada nos últimos dias, aumente e o presidente se alie a lideranças que ele mesmo criticou para tentar se manter no cargo.
Para o cientista político Rogério Baptistini, a saída de Moro reafirma o isolamento do presidente dentro do governo, que nos últimos dias tem perdido apoio popular e visto a queda de ministros. Ele ainda aponta para um desespero de Bolsonaro ao tomar decisões voltadas para interesses particulares, como a exoneração do diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, fato que culminou no pedido de demissão de Sergio Moro.
"Não é só a figura de Bolsonaro que perde credibilidade com a saída do Moro, mas todo o governo. A equipe de grandes ministros que foi montada já não existe mais e hoje está reduzida na figura de Paulo Guedes, que também já demonstrou estar desgastado. Bolsonaro mostra um certo desespero diante do isolamento que ele tem experimentado do poder Legislativo, Judiciário e da própria sociedade, tomando atitudes cada vez mais para se proteger e proteger os seus", destaca.
Baptistini acredita que saída de Sergio Moro provocará uma rachadura na base de apoio de Bolsonaro, parte dela perplexa com as acusações feitas pelo ex-ministro ao presidente.
Com uma possível perda de apoio da ala militar de Bolsonaro, o cientista político Humberto Dantas aposta em uma aproximação do presidente de líderes de partidos do Centrão, cenário que vinha sendo desenhado nos últimos dias. Para Dantas, esta seria uma das estratégias utilizadas para fazer alianças que protejam seu mandato.
"Nos últimos dias ele flertou uma aproximação com o Centrão, que se confirmou nas últimas horas com reuniões de lideranças desses partidos. O enfraquecimento de Bolsonaro está atraindo o que existe de pior na política, aquilo que ele mais criticava, a velha política do toma lá dá cá, lideranças envolvidas com escândalos de corrupção. Isso tende a se fortalecer diante de uma crise política, já que Bolsonaro tem perdido cada vez mais aliados", comentou.
O cientista político Paulo Baía prevê um cenário caótico para a política brasileira e uma crise que está longe de acabar. "Moro fez acusações graves a Bolsonaro e isso vai ter repercussão no Congresso Nacional, no Supremo Tribunal Federal. Neste momento vejo que só resta a Bolsonaro o apoio dos filhos e da ala ideológica. A saída do Moro é mais uma crise que o presidente vai enfrentar e que deve lhe custar o apoio de muitos políticos e da própria sociedade", finalizou.
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