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Começa em Vitória julgamento de assassino de Gerson Camata

Começa em Vitória julgamento de assassino de Gerson Camata

Segundo membros do Ministério Público, o desenrolar do julgamento deve levar até três dias

Publicado em 3 de agosto de 2021 às 09:14

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Marcos Venicio Moreira Andrade chegou ao Fórum Criminal, no Centro de Vitória, na manhã desta terça (3)
Marcos Venicio Moreira Andrade chegou ao Fórum Criminal, no Centro de Vitória, na manhã desta terça (3). (Carlos Alberto Silva)
Rafael Silva
Repórter de Política / [email protected]

Começou às 9h desta terça-feira (3), no Fórum Criminal de Vitória, na Cidade Alta, o julgamento do economista Marcos Venicio Moreira Andrade, assassino confesso do ex-governador e ex-senador Gerson Camata. Segundo membros do Ministério Público, o desenrolar do julgamento deve levar até três dias

Na porta do fórum, o sobrinho do ex-governador e secretário de Controle e Transparência do governo do Espírito Santo, Edmar Camata, falou sobre o julgamento. "Espero que a Justiça dê uma condenação compatível com o crime que foi feito. Ele matou um idoso que passava pela rua e ele não deu nenhum tipo de defesa", disse.

Acompanhada do filho Bruno David Paste Camata, Rita Camata, viúva de Gerson Camata, também se pronunciou. "Um dia triste. Eu vou revisitar a maior dor que eu já tive na minha vida. Mas eu acredito que haverá justiça". Ela abraçou familiares que estavam na frente do fórum. "A gente te ama", disse uma das mulheres. "Também amo vocês", ela respondeu.

Rita Camata chega ao Fórum Criminal de Vitória para julgamento do assassino de Gerson Camata(Carlos Alberto Silva)

Homero Mafra, que faz a defesa do acusado de matar Gerson Camata, também sobre a expectativa antes de entrar no Fórum Criminal. "Julgamento tranquilo com respeito ao acusado, com respeito às provas e um julgamento sereno", comentou.

ESCOLHA DOS JURADOS

Na primeira parte do julgamento, no início da manhã, foram sorteadas sete juradas, todas mulheres, de um total de 25 pessoas convocadas pela Justiça.

Dessas sete, inicialmente haviam sido sorteados dois homens, que foram recusados pela defesa de Marcos Venicio. A defesa e acusação podem recusar até três vezes os escolhidos em sorteio.

Durante os três dias de julgamento elas ficarão isoladas, em um hotel, sem acesso direto ao celular, acompanhadas 24h por dia por um oficial de Justiça.

Nesta primeira parte serão ouvidas as testemunhas de acusação arroladas pelo MPES: Benedito Voss Neda, Fabrizo Cancellieri Sathler, Carlos Mariano Miranda Ayres, , Miguel Darmelina, Sebastião Pelaes, Rita Camata e o delegado regional do Sistema Nacional de Armas (Sinarm) Cassius Valentim Baudelli . E também as testemunhas de defesa: Clovis Menescau, Antonio Carberz Franco, Carlos Eduardo de Oliveira Henrique e João Nunes.

Também na primeira parte do julgamento, o delegado Cassius Valentim Baudelli afirmou que o registro de posse de arma de Marcus Venicio já estava vencido desde 2013. A defesa trabalha com a linha de que o réu estava a caminho da PF para regularizar a arma e que, por isso, estava armado quando encontrou Camata. No entanto, o delegado destacou que para fazer esse transporte é necessário ter um requerimento, algo que o acusado não possuía.

Já Miguel e Sebastião se apresentaram como amigos de Marcos Venicio e de Gerson Camata. Disseram que o réu era próximo da família da vítima e que começou a ter problemas com Camata após ter sido exonerado do Banestes Seguros. Marcos Venicio vinculava sua exoneração a um pedido de Camata, ao passo que as testemunhas negam isso, pois Camata "não era dessas coisas".

EMOÇÃO

Nos dois primeiros depoimentos foram exibidos os vídeos de câmeras de segurança do momento da morte de Gerson Camata. Nas duas vezes, Marcos Venicio assistiu às imagens, mas abaixou a cabeça no momento em que Camata, já ferido, cai na calçada. 

O sobrinho de Camata, o secretário de Estado de Controle e Transparência, Edmar Camata, que acompanhava o depoimento, deixou a sala pouco antes de ser exibido o momento da morte do tio.

TENSÃO DEFESA X MPES

O julgamento teve um momento de maior tensão entre os promotores Rodrigo Monteiro da Silva e Leonardo Augusto dos Santos, do MPES, e um dos advogados de defesa, Homero Mafra. A discussão se deu após os promotores lerem trechos extensos do depoimento de Miguel Dalarmelina. Homero argumentou que o MPES estava "judicializando o depoimento". Houve algumas trocas de farpas e o juiz Marcos Pereira Sanches interveio e pediu calma, esfriando a discussão.

MARCOS VENICIO DISSE A VÁRIAS PESSOAS QUE PENSAVA EM MATAR CAMATA

As duas primeiras pessoas convocadas pela acusação e ouvidas pelo júri nesta manhã de terça-feira, Miguel Miguel Darmelina e Sebastião Pelaes, disseram ter ouvido de Marcos Venicio algumas vezes, cerca de 15 a 20 dias antes do crime, que pensava em "fazer uma besteira e matar Camata".

"Encontrei casualmente com o Marcus no shopping Centro da Praia, onde ele costumava ficar, e ele me disse que ia acabar fazendo uma besteira, que ia matar Camata. Eu disse a ele para não fazer isso, que ia acabar com a vida dele e a do Camata, mas nunca acreditei que ele pudesse fazer isso. O Marcos era uma pessoa boa, nunca fez mal a ninguém, nem sabia se ele sabia atirar", disse Miguel.

Sebastião Pelaes, que disse ser bastante amigo de Marcos Venicio, contou que o réu revelou ter rompido com Camata após ser exonerado do Banestes Seguros, emprego que teria sido conseguido após a indicação feita por Camata ao então governador Paulo Hartung.

"Eu disse à polícia que ele passou a odiar Camata mais ou menos um ano depois de ser exonerado. Ele estava agitado porque tinha perdido uma ação por danos morais, após ele fazer denúncias a jornais acusando Gerson de rachid e caixa dois. Ele me disse que mataria o senador, mas ninguém levava isso a sério", contou Pelaes.

Marcos Venicio Moreira Andrade chegou ao Fórum Criminal, no Centro de Vitória, na manhã desta terça (3)(Carlos Alberto Silva)

TESES DA ACUSAÇÃO E DA DEFESA

A acusação tem direcionado que o crime foi premeditado e que Marcos Venicio imputava a Gerson Camata a sua exoneração no Banestes Seguros. Com o bloqueio de seus bens, após a ação por danos morais que Camata moveu contra ele, o réu teria, segundo o MP, se sentido motivado a matar o ex-governador. O MP alega que o homicídio foi por motivo torpe, por Camata ter movido a ação por danos morais que bloqueou os bens do assassino.

Já a defesa trabalha com a linha de que o homicídio foi motivado por "relevante valor moral", o que pode reduzir a pena. Por essa tese, Marcos Venicio teria acumulado, desde 1986, quando passou a trabalhar como tesoureiro das campanhas de Gerson Camata, frustrações e humilhações cometidas contra ele por Camata e que esse assédio teria motivado o conflito com o ex-governador.

RELEMBRE O CASO

O ex-governador do Espírito Santo Gerson Camata, de 77 anos, foi assassinado na tarde do dia 26 de dezembro na Praia do Canto, em Vitória
O ex-governador do Espírito Santo Gerson Camata, de 77 anos, foi assassinado na tarde do dia 26 de dezembro na Praia do Canto, em Vitória. (G1)

O crime ocorreu no dia seguinte ao Natal, em 26 de dezembro de 2018. Gerson Camata havia acabado de comprar um livro e cumprimentava conhecidos em uma calçada na Praia do Canto, em Vitória, quando foi abordado por Marcos Venicio, ex-assessor dele. Aos 77 anos, o ex-governador foi morto com um tiro, um crime que chocou o Espírito Santo.

O réu, que está preso desde o dia do assassinato, teve a prisão preventiva mantida pela juíza substituta Lívia Regina Savergnini Bissoli Lage, da 1ª Vara Criminal da Capital, na decisão em que determinou a inclusão do caso na pauta para julgamento do Plenário do Júri, de janeiro.

Marcos Venicio foi detido em flagrante horas depois do assassinato e, no dia seguinte, a prisão foi convertida em preventiva. Ele é mantido no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Viana II.

Em 2019, o ex-assessor confessou o crime em interrogatório prestado ao juiz Felipe Bertrand Sardenberg Moulin, da 1ª Vara Criminal de Vitória. Na ocasião, afirmou que não premeditou o crime e que saber que tirou a vida do ex-chefe é uma “tortura diária”. "O presídio é muito duro, mas mais duro ainda é saber que tirei a vida dele", disse Marcos Venicio, de acordo com a transcrição das declarações prestadas por ele em juízo.

Assessor de Camata por 20 anos, Marquinhos, como é conhecido, foi denunciado pelo Ministério Público Estadual (MPES) pelo crime de homicídio qualificado por motivo torpe e mediante recurso que dificultou a defesa da vítima. Marcos Venicio relatou ao juiz que abordou a vítima para questionar sobre um processo judicial por danos morais movido por Camata, em que o ex-assessor teve cerca de R$ 60 mil na conta bancária bloqueados pela Justiça.

JÚRI POPULAR

Ainda em 2019, o ex-assessor foi pronunciado – decisão para conduzi-lo a júri popular – pelo juiz Moulin. A decisão sobre a condenação ou não de Marcos Venicio vai ser tomada pelos jurados e a sentença será proferida pelo juiz de Direito.

O QUE DIZ A DEFESA

Procurada, a advogada Junia Karla Passos Rutowistsch Rodrigues, umas das responsáveis pela defesa de Marcos Venicio, informou que aguarda um julgamento tranquilo e esclarecedor. "Marcos é réu confesso e desde o fatídico dia, quando se apresentou espontaneamente e confessou o fato, contribui com a Justiça. Não esperamos pela absolvição, até mesmo porque ele já foi condenado há muito tempo, mas que os jurados e toda a sociedade possam conhecer a cronologia dos fatos desde 1986, quando o senador e ele se conheceram, e todos os eventos que se sucederam a partir de então", iniciou.

"A acusação pretende descaracterizar, desconstruir toda a sequência de fatos que ocorreram ao longo desses anos. A acusação qualificou o homicídio pelo pior desvalor humano, a torpeza, a ganância, tão repugnante que no rol das qualificadoras é a primeira, o que não é verdade. A defesa pretende, desde o início, esclarecer e permitir que  Marcos tenha um julgamento justo e não um justiçamento a qualquer custo. Todos sofreram e ainda sofrem, e o Marcos não menos. Ele, como a pessoa justa e correta que foi ao longo de toda a vida, hoje sofre pelo seu ato que tirou a vida de um ser humano, sofre pelo seu ato que matou a pessoa que mais amava e, por fim, sofre na pele as consequências da prisão. Não pedimos clemência, mas sim Justiça", afirmou.

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