Mesmo com a importância crescente das redes sociais nas eleições, sabatinas e debates mantêm um espaço relevante na campanha eleitoral. Essas iniciativas permitem ao eleitor acompanhar fora da "bolha" de quem está na disputa, naturalmente mais amistosa, as propostas dos candidatos para áreas prioritárias e como pretendem enfrentar problemas de maneira crítica. Mas para ter um bom desempenho é preciso preparação.
Às vésperas de novos debates das Eleições 2022 — o da TV Gazeta, com os nomes na disputa pelo governo do Espírito Santo, nesta quinta-feira (297); e o da TV Globo, com os postulantes à Presidência da República, na sexta (28) — como será a estratégia dos candidatos para convencer o eleitorado? Como eles se preparam para perguntas inconvenientes ou para memorizar dados e informações que podem desestabilizar o oponente? E a preparação psicológica para suportar a pressão de uma argumentação ao vivo?
Maíra Moraes, coordenadora do MBA em comunicação governamental e marketing político do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), observa que saber as regras do debate é imprescindível para o sucesso de um candidato, para que o desconhecimento não se torne uma fragilidade no momento do enfrentamento ao adversário.
Para a especialista, é fundamental também fazer a simulação, inclusive do tempo para perguntas e respostas. Há ainda candidatos que recriam o mobiliário do local em que será promovido o encontro. Saber se será em pé, no púlpito, ou sentado tem diferença para a hora em que os postulantes ao cargo vão falar. "É muito importante a simulação mesmo, fazer a teatralização de um debate", frisa.
Treinar pontos fracos e fortes é outra estratégia indispensável antes de debates e sabatinas, afirma Maíra Moraes. "Esses pontos críticos — os pain points — servem para a equipe pensar o que pode vir e, daí, como o candidato tanto pode responder de forma que agregue quanto pode fugir da pergunta. Isso também é uma tática e o cidadão comum não percebe muito essa fuga." O adversário também deve ser pesquisado, assim como é necessário retirar do discurso palavras em que a dicção não é adequada.
A especialista ressalta que, até para um político experiente, que já participou de outros encontros semelhantes, o treinamento contribui para melhor desempenho. O candidato conhecendo o terreno em que vai estar, ainda que por simulação, fica mais confortável para se apresentar, falar das propostas, confrontar o concorrente.
Nesta quinta, depois de uma maratona de debates e sabatinas, Manato e Casagrande voltam a se enfrentar na corrida pelo Palácio Anchieta. A arena da vez é a TV Gazeta, com transmissão pelas redes sociais e o site de A Gazeta e também pela CBN Vitória.
A campanha do candidato do PL diz que as reuniões de preparação são feitas bloqueando a agenda do ex-deputado federal para que ele tenha tempo de discutir o roteiro com conselheiros como, por exemplo, os ex-prefeitos Guerino Zanon (PSD) e Audifax Barcelos (sem partido) e o ex-secretário de Fazenda de Vitória Aridelmo Teixeira (Novo). Os três disputaram a eleição para o governo do Estado, mas não avançaram ao segundo turno e se aliaram a Manato nesta fase.
A coordenação fica por conta de Giselle Barbosa, que assumiu o marketing político da campanha após o desacordo comercial de Manato com a equipe do primeiro turno. "O foco dessas reuniões são inúmeros, inclusive, plano de governo. São testadas perguntas, temas, hipóteses. Tudo de forma profissional, como se fosse em estúdio", pontua a assessoria.
Na campanha do atual governador Renato Casagrande (PSB), que busca a reeleição, a equipe que ajuda na preparação reúne o núcleo político e também os profissionais de marketing e comunicação. As regras de cada debate são repassadas para o candidato, bem como possibilidades de perguntas do adversário e as informações que poderão subsidiá-lo para responder. Também são sugeridos temas e questões que Casagrande poderá fazer.
"Mas o governador é muito bom de memória. A pessoa que mais sabe dos projetos do governo é ele", destaca a assessoria, acrescentando que os preparativos costumam acontecer no mesmo dia do debate ou sabatina.
A especialista em marketing político Maíra Moraes alerta, no entanto, que mesmo quando um candidato está bem treinado, algumas coisas escapam ao controle. Afinal, é uma autoridade, não é um robô. Agora, tem uma condição cognitiva importante também, se estiver em pé ou sentado. Há candidatos que se dão melhor em uma situação de caminhada. Tem uma fala, uma postura melhor enquanto caminha", constata Maíra Moraes.
O posicionamento do candidato frente ao adversário, as perguntas que faz e a maneira como responde, depende em parte do lugar que ele ocupa nas pesquisas de intenção de voto. A especialista em marketing diz que, se é uma pessoa que não tem nada a perder, costuma radicalizar nas questões. O mesmo ocorre quando não tem histórico de entregas para apresentar ao eleitor. Assim, parte para o ataque.
Os debates têm sido menos frequentes devido ao tempo de campanha, bastante reduzido em comparação à década de 1990 e ao início dos anos 2000, mas ainda é um recurso que ajuda os eleitores a conhecer os candidatos. Para Maíra Moraes, ainda que a exibição ao vivo não alcance mais o grande público como em outras épocas, as derivações desses encontros contribuem para o processo eleitoral.
Isso porque os cortes dos vídeos levados para as redes sociais, inclusive pelas campanhas dos candidatos, promovem a recirculação do conteúdo. "Às vezes, o candidato teve um mau desempenho no debate domingo à noite, mas tem um excelente resultado com o material divulgado na segunda", finaliza.
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