O Partido dos Trabalhadores (PT), legenda do presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, e o PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro, têm protagonizado o debate político-partidário no cenário nacional nos últimos anos. Apegadas à figura dos dois líderes políticos, as legendas apostaram em candidaturas visando ao governo das cidades nas Eleições 2024.
O resultado do pleito deste ano, no entanto, mostra que o apelo que a polarização entre PT e PL — partidos que personificam a esquerda e a direita conservadora no país — causa em âmbito nacional não teve o mesmo impacto na briga pelo comando das prefeituras.
No Espírito Santo, a sigla de Lula não conseguiu eleger nenhum de seus 19 candidatos a prefeito nas cidades capixabas. O PL, de Bolsonaro, elegeu apenas 5 de um total de 50 postulantes ao cargo de chefe do Executivo municipal, em um cenário de alto investimento nas campanhas. Apesar disso, teve desempenho melhor que em 2020, quando não emplacou nenhum dos 12 nomes que visavam à gestão das cidades. Conforme especialistas, o quadro de poucas ou nenhuma vitória passa, diretamente, pelo comportamento do eleitor, que não tem polarizado o pleito que define o comando dos municípios.
Já o PT manteve o saldo negativo registrado em 2020, quando também saiu zerado da disputa majoritária. Na ocasião, o máximo que conseguiu foi ter dois candidatos disputando o segundo turno na Grande Vitória: a professora Célia Tavares (PT), em Cariacica, e o deputado João Coser (PT), na Capital.
Nas eleições deste ano, PT e PL lançaram candidatos à prefeitura de Vitória. Os candidatos dos dois partidos foram derrotados nas urnas com um percentual de votação abaixo do esperado. João Coser teve 15,62% (29.339) dos votos, enquanto o deputado bolsonarista Capitão Assumção (PL) chegou aos 9,55% (17.946).
A votação do PT na disputa majoritária em Vila Velha foi ainda mais inexpressiva do que na Capital. O candidato João Babá (PT) foi o terceiro colocado na corrida eleitoral no município canela-verde, recebendo 2,59% (6.342) dos votos válidos. O PL também não obteve sucesso no pleito, saindo do primeiro turno com o ex-secretário de Estado da Segurança Coronel Ramalho, principal aposta da sigla para chegar ao comando da cidade, na segunda colocação, totalizando 17,20% (42.096) dos votos. A expectativa era que chegasse pelo menos ao segundo turno.
A Serra foi mais um município em que os candidatos dos dois partidos tiveram pouca adesão do eleitorado. Concorrendo à prefeitura pelo PL, o vereador serrano Igor Elson fechou sua participação no pleito na quarta colocação, totalizando 7,66% (18.751) dos votos válidos apurados. Professor Roberto Carlos, candidato do PT, teve 3,07% (7.513) dos votos, figurando na quinta posição no primeiro turno.
Por fim, em Cariacica, na disputa contra o prefeito Euclério Sampaio (MDB), reeleito para o segundo mandato, PL e PT, nas eleições deste ano, não foram páreo para fazer frente à candidatura do mandatário, vencedor no primeiro turno, com 88,41% (168.771) dos votos, enquanto Célia, que foi para o segundo turno com Euclério em 2020, registrou 9,08% (17.331) e o pastor Ivan Bastos (PL), 2,51% (4.788).
O baixo aproveitamento do PT e do PL nas eleições municipais em várias partes do país, inclusive no Espírito Santo, apesar de os partidos estarem diretamente ligados a líderes políticos com forte influência sobre o eleitorado, estaria relacionado ao fato de a polarização política na esfera nacional não ser bem recebida no cenário local.
É como avalia Filipe Savelli, professor de História, pesquisador e membro do Laboratório de História das Interações Políticas Institucionais da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). O especialista ainda acrescenta que os partidos com viés considerado de centro se adaptam melhor o que chama "jogo político".
Segundo o cientista político Marcos Woortmann, diretor-adjunto do Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS), as eleições municipais deste ano revelaram as transformações pelas quais, em sua visão, a política tem passado nos últimos anos. Ele cita como exemplo dessas mudanças o fato de os partidos considerados grandes e com lideranças consolidadas não serem mais capazes de gerar o mesmo apelo junto ao eleitorado.
É partindo dessa linha de raciocínio que o especialista fundamenta sua explicação para o baixo aproveitamento de PT e PL em território capixaba, ao responder à análise solicitada pela reportagem de A Gazeta. Woortmann ainda chama a atenção para algo curioso: a tentativa de parte das candidaturas majoritárias em "esconder" a imagem de Lula e Bolsonaro em suas campanhas.
"A presença desses dois nomes (Lula e Bolsonaro), por exemplo, não foi algo perceptível em inúmeras candidaturas dos dois partidos (PT e PL), que chegaram a quase esconder essas figuras presidenciais. Esse é um fenômeno que ainda precisa ser compreendido, porque estamos falando de líderes que, nas eleições de 2022, centralizaram toda a polarização política do país", afirma.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta