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Como são escolhidos os vices? E como eles influenciam o jogo político?

Como são escolhidos os vices? E como eles influenciam o jogo político?

O vice é responsável por substituir o titular, mas também pode mobilizar o eleitorado e articular apoio para a gestão

Publicado em 26 de julho de 2024 às 15:13

Ícone - Tempo de Leitura 5min de leitura
Escolha do candidato a vice envolve três fatores principais.
Escolha do candidato a vice considera eleitores, campanha eleitoral e relação com parlamentares. (Freepik)
Julia Camim
Jornalista / [email protected]

Alguns candidatos que pretendem disputar as prefeituras capixabas nas Eleições 2024 já anunciaram quais serão seus companheiros de chapa. Outros só vão oficializar os candidatos a vice mais próximo da data-limite para o registro de candidaturas - 15 de agosto. Isso porque, por mais que pareça uma decisão simples, a definição do nome de quem vai compor a chapa majoritária depende de muitos fatores e pode influenciar as movimentações político-partidárias.

Desde negociações com partidos aliados, até a capacidade de identificação com o eleitor, a escolha do vice-prefeito simboliza muito mais do que a seleção do parceiro considerado ideal para estar na briga pelo comando de um município. A articulação de uma chapa tem a ver com três pontos fundamentais, que dizem respeito ao eleitorado, à campanha eleitoral e à governabilidade.

Para entender o que permeia a decisão daquele que é responsável por substituir o titular no cargo em caso de viagens, renúncia, morte, cassação ou impeachment, é importante saber que, além de ter esta função oficial, o vice pode ser uma peça chave para um relacionamento saudável do Executivo com o Legislativo. E isto é construído durante o processo eleitoral, principalmente ao longo da pré-campanha e das convenções partidárias, que confirmam os acordos e movimentações entre partidos.

Além disso, a figura pode representar grupos que não são contemplados pelo titular da chapa, seja identitariamente ou ideologicamente. Este ponto é relevante tanto porque pode atrair novos eleitores, quanto porque tende a facilitar o diálogo entre a gestão e lideranças populares importantes e representativas da sociedade.

A fim de desvendar o que pode contribuir para um nome ser escolhido e como serão consolidadas as alianças até então informais, A Gazeta buscou especialistas sobre o tema e dividiu o assunto em três tópicos.

Eleitorado

Conquistar o maior número de votos é o principal objetivo dos candidatos e partidos que entram na disputa por um cargo eletivo. Para isso, são utilizadas diferentes estratégias e, uma delas, é escolher um vice capaz de “puxar votos”. Isso fica nítido quando vemos chapas compostas por duas pessoas com características identitárias diferentes. Por exemplo, um homem branco e uma mulher negra.

Mas esta não é a única composição possível, como explica a professora de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Coordenadora do Laboratório de Partidos Eleições e Política Comparada (LAPPCOM) Mayra Goulart ao falar sobre a estratégia de compensar eventuais lacunas que o candidato principal não consegue atingir.

“Outra possibilidade é que o vice tenha um perfil étnico ou identitário parecido com o do titular, mas seja ideologicamente diferente. Então, ele é capaz de agregar uma parcela da população que tenha um outro perfil ideológico”.

Dessa forma, pessoas com vieses diferentes poderiam ser contempladas por uma mesma chapa, o que agrega mais votos do que duas pessoas muito parecidas em todos os aspectos. “Embora seja positivo titular e vice não serem muito distantes ideologicamente, eles devem ser de alguma maneira complementares. Isso amplia a pluralidade de identidades que serão representadas pela Prefeitura”, complementa Goulart.

Recursos

A escolha do companheiro pode, ainda, ser estratégica para a campanha eleitoral, visto que se o nome selecionado for de um partido diferente do candidato titular, ampliam-se os recursos para este período. Assim, o foco pode ser o fundo eleitoral, o tempo de propaganda na rádio e na TV e outros benefícios que a união partidária, selada pela composição de chapa, proporciona.

Tendo em vista ambos os fatores - eleitorado e recursos -, Goulart explica que a decisão depende do perfil do candidato e de suas condições para o pleito. “Aquele que tem uma maior articulação eleitoral vai preferir aquele vice que agregue recursos. Aquele que tem um perfil identitário muito nichado e que precisa agregar um outro perfil identitário, tende a escolher por essa estratégia”.

Para a cientista política e professora da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) Luciana Santana, a perspectiva dos recursos é ainda mais atrativa em cenários incertos que indicam uma disputa acirrada. Nestes casos, quanto maior a capacidade de ampliar a campanha eleitoral, maiores as chances de garantir vantagens e conquistar o eleitorado.

Governabilidade

A definição do vice também tem a ver com a relação entre o chefe do Executivo e os parlamentares. Ela começa com a formação das coligações, já que espera-se que as legendas que apoiam um nome para a disputa ganhem certos benefícios em troca, sendo um deles a possibilidade de compor a chapa majoritária. Este aspecto influencia o período anterior à eleição, mas também a gestão eleita, tendo em vista que a coligação acaba logo após o pleito.

Escolhido o mandatário do município, forma-se a coalizão - um arranjo informal de parlamentares que apoiam o prefeito - que pode ser sustentada e articulada pelo vice, principalmente se ele for de um partido que elegeu muitos vereadores. De acordo com Goulart, essa integração pode facilitar o trâmite de projetos, tanto dos vereadores quanto do próprio prefeito.

Além disso, há ainda a questão da afinidade entre os candidatos. Ela também é fundamental para garantir o funcionamento da gestão. Como pontua Santana, uma boa relação é positiva “para garantir a coerência do programa de governo e sintonia de planejamento". "Quando não há afinidade ideológica, há uma tendência maior de ter conflitos”.

Em relação aos possíveis atritos, Goulart também ressalta que a confiança do titular em seu companheiro é importante para registrar que não há, dentro do próprio governo, a possibilidade de rusgas e desgaste. “Isso poderia tirar a atenção daquilo que é a função principal de um prefeito, que é governar e implementar políticas públicas”, explica ela.

Para Santana, escolher um candidato ao cargo de vice-prefeito em que se pode confiar também tem a ver com planos futuros. “No caso de uma ambição política do candidato a prefeito, que pode querer deixar a gestão para tentar um outro cargo na próxima eleição, se o vice for uma figura de confiança, ele pode continuar levando o grupo político a êxitos eleitorais”.

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